Resistência

Luta Tupinambá por demarcação de terra no Sul da Bahia ganha espaço nos quadrinhos

"Os Donos da Terra" faz recorte dos 16 anos que indígenas reivindicam oficialização da Terra Indígena Serra do Padeiro

Ouça o áudio:

Livro de 172 páginas está disponível à venda no site da editora - Denise Matsumoto/Editora Elefante
A narrativa acontece na Serra do Padeiro, um lugar de belezas naturais e conflitos fundiários

Há 16 anos, o Povo Tupinambá de Olivença, no Sul da Bahia, luta para concluir o processo de demarcação de suas próprias terras. A demora do Estado brasileiro na questão territorial reflete estruturas coloniais que ameaçam toda riqueza de saberes e culturas de muitos povos originários do país. 

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Um recorte dessas histórias se passa nos quadrinhos “Os donos da Terra”, uma publicação da Editora Elefante. Para retratar questões como engajamento político, importância da ancestralidade e defesa de direitos humanos, a obra faz uma mistura de pesquisa antropológica e ficção. 

Daniela Alarcom participa da publicação como roteirista e pesquisadora. Ela explica que alguns trechos nos diálogos são transcrições literais de pesquisas. A parte ficcional é amarrada com as propostas e sentidos tupinambá. 


Obra contou com pesquisa antropológica de Daniela Fernandes Alarcon e Glicéria Jesus da Silva / Ilustração: Vitor Flynn Paciornik

“O livro surgiu do desejo de comunicar as histórias dos tupinambá. Seja em relação a sua luta pela recuperação do território, sua religiosidade e aspectos de sua memória e sua história”, explica a roterista 

As narrativas acontecem na Serra do Padeiro, no Sul da Bahia, um lugar de belezas naturais e conflitos fundiários entre indígenas e não indígenas, que se estende desde a vinda dos portugueses ao Brasil. 

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Por isso, o HQ e a articulação política tupinambá seguem a mesma afinação por demarcação e recuperação de terras na região.   

“Desde 2004 eles esperam que o governo brasileiro cumpra a sua responsabilidade de demarcar a Terra Indígena tupinambá. Todos os prós legais já foram violados, o processo foi cumprindo suas etapas iniciais, já não resta dúvida alguma de que ali seja uma área de ocupação tradicional indígena. Cabe ao Ministério da Justiça agora assinar a portaria declaratória para que então essa terra indígena passe para sua etapa final e seja homologada pela Presidência da República”, reivindica Alarcom.


Obra foi lançada em agosto deste ano / Arte: Vitor Flynn Paciornik

O universo dos quadrinhos e suas muitas possibilidades artísticas também é aproveitado para interpretar o imaginário aguerrido dos povos que resistem ao governo Bolsonaro e resistiram a muitos outros regimes políticos do nosso país. 

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“Agora tem um outro lado dessa história que eu preciso destacar, que é a força dos tupinambá e a sua resistência. Eles não ficaram parados esperando que o governo, o Estado garantisse seus direitos, eles foram à luta. Só na aldeia da Serra do Padeiro, que é a aldeia com a qual eu trabalho, já foram realizadas 95 ações de retomada que consistem na reocupação de fazendas que são porções do território que foram esbulhadas. Ali, no caso do Sul da Bahia, principalmente em função do avanço da cacauicultura e do turismo.”  

A obra “Os donos da Terra” possui sete histórias e utiliza a técnica da aquarela.  

Reportagem de Adrielly Marcelino, de SP e supervisão de Daniel Lamir.

Edição: Daniel Lamir