A cidade de São Paulo vive uma redução das contaminações e mortes pela covid-19. A exceção está em 17 dos 96 distritos da capital, cujas médias de mortes registradas aceleraram entre agosto e setembro. O cálculo é feito com base em boletins epidemiológicos da Prefeitura Municipal. O último deles, divulgado em 24 de setembro.
No bairro da Liberdade, na região central, mesmo com o aumento de 63% dos óbitos no período, os comerciantes, em geral, pedem pela volta da circulação de pessoas.
::Seis meses após a primeira morte no Brasil, combate à covid esbarra em desigualdades::
"Chegou a hora da liberdade, não vai ter para onde correr, a maioria da população vai contrair a doença, uns de formas mais bruscas, outros de formas mais tranquilas. Vai do consciente, da pessoa, de se cuidar, de tomar as devidas proteções para não acontecer nada de ruim", opina João Vitor Alves, comerciante que atua na praça central do bairro.
Embora o cenário indique um agravamento da doença em áreas centrais, é na periferia onde a situação ainda se encontra mais delicada. O distrito de Cangaíba, na Zona Leste, que tem o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de São Paulo é também o que registrou a maior aceleração nas mortes: um salto de 200 óbitos em 3 de agosto, para 242 em 24 de setembro.
Para Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), a diferença do impacto da doença nos distritos se deve a "desigualdade assistencial" no diagnóstico e infra estrutura de atendimento.
"Não é a covid que não é homogênea, são as cidades que não são. No campo da morte, infelizmente, isso reflete na nossa desigualdade assistencial. Embora a mortalidade geral tenha caído e exista uma curva de aprendizado da classe médica de como identificar e tratar melhor os pacientes. Esta é uma porta de entrada difícil no SUS, essa dificuldade de diagnósticos, sobretudo, nas regiões periféricas, impacta o desfecho clínico e se reflete nessa estatística de maior mortalidade", analisa.
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Na capital paulista até este domingo (4), 12.899 mortes pela covid-19 foram registradas. A capital também contabiliza um número de 295.301 infectados e uma taxa de letalidade de 4,4% para a doença.
Divulgada no fim de setembro, um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que o total de brasileiros que não adotam medidas de isolamento social contra o coronavírus é o maior registrado desde julho.
"Ainda existe bastante vírus em circulação. Muitas pessoas estão saindo de casa agora, as atividades econômicas estão retomando. Muitas pessoas estão suscetíveis à infecção. E se as pessoas saírem de casa sem se proteger, aglomerando, sem o uso correto da máscara, o que nós vamos ter são repiques da doenças, que poderão ser sistêmicos, ou poderão ser localizados em algum cenário mais específico", alerta o médico.
Prefeitura
Em nota enviada pela Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo ao Brasil de Fato, o órgão destaca "ações com foco na prevenção, diagnóstico, atendimento, garantia de leitos e internações e controle da Covid-19 em todos os 96 distritos administrativos da cidade."
Segundo a secretaria, o perfil da população mais atingida pela covid-19, evidenciado por um inquérito sorológico, é de grupos que não estão aderindo ao isolamento social e às medidas preventivas como o uso de máscara.
O órgão chama a atenção para a transparência e para a qualidade dos dados que disponibiliza e valoriza o trabalho das Unidades Básicas de Saúde no combate à doença, com "seu papel no monitoramento e cuidado da população de seu território". "Foram 2,4 milhões de pessoas atendidas pela Atenção Básica, em 18 mil ações em comunidades, até o dia 25 de setembro", informa.
Edição: Marina Duarte de Souza