Militares ligados ao governo da autoproclamada presidente da Bolívia, Jeanine Áñez, e forças da extrema direita planejam realizar atentados com bombas e um golpe de Estado para impedir uma vitória do Movimento ao Socialismo (MAS), partido do ex-mandatário Evo Morales, nas próximas eleições presidenciais que acontecem no dia 18 de outubro. A informação foi publicada no jornal britânico The Morning Star.
O periódico teve acesso a documentos que indicam planos golpistas que podem ocorrer antes, durante e depois das eleições. Segundo a reportagem, as forças de extrema direita preparam um "falso positivo", ou seja, realizar ataques com bombas e colocar a culpa no MAS.
Os alvos desses atentados, diz o jornal, seriam hotéis onde estarão hospedados observadores internacionais de diferentes órgãos do mundo que acompanharão as eleições.
De acordo com as fontes do Morning Star, "paramilitares de extrema direita nacionalistas estão trabalhando há um mês para reunir informações sobre os hotéis onde estarão hospedados os observadores internacionais, incluindo detalhes de como entrar nos lugares e deixar pistas para incriminar o MAS".
O objetivo dos ataques, continua o periódico, seria criar uma justificativa para adiar as eleições mais uma vez e retirar o MAS da disputa, sob a acusação de que o partido estaria promovendo atos violentos. O resultado poderia ser o fechamento da Assembleia Nacional e a instalação de um "governo militar de emergência".
As fontes citadas pelo jornal britânico ainda afirmam outras opções são cogitadas pelas forças golpistas, como uma mobilização da extrema direita para contestar o resultado das eleições caso o MAS vença no primeiro turno. Mecanismo similar ocorreu nas eleições de outubro de 2019, desencadeando o golpe que levou à renúncia de Evo Morales.
Generais implicados
Nesta segunda-feira (05/10), a organização argentina Rede de Comunicação Popular REDCOM também denunciou os planos golpistas na Bolívia, citando documentos recebidos de fontes bolivianas que indicam os mesmos cenários divulgados pelo Morning Star.
Em matéria publicada pelo site catalão Kaos en la red, os documentos recebidos pela REDCOM chegam a dar nomes de militares do Exército boliviano que estariam por trás dos planos.
Segundo a organização, os coronéis Ramiro Eduardo Calderón De La Riva Lazcano, Edwin Iván Suaznabar Ledesma, Saúl Torrico Peredo, Luis Sagredo Torrico e Grober Quiroga Gutiérrez estariam no comando desses planos.
Os planejamentos golpistas, continua a reportagem, ainda contariam com meios de comunicação que apoiam o governo de Áñez e seriam encarregados de publicar informações falsas repassadas por militares como "MAS se prepara para a violência em 18 de outubro" ou "MAS ativa grupos irregulares para gerar violência".
Os documentos citados pela REDCOM e pelo Kaos en la Red afirmam que esses militares teriam funções específicas caso os atentados ocorram. Algumas atividades citadas são a realização dos ataques, a veiculação de informações falsas culpando o MAS, mobilização de membros da Igreja Católica, apelo de grupos paramilitares e organização da logística de veículos militares.
Ainda segundo a reportagem, cinco cenários seriam previstos para impedir a volta da esquerda ao governo boliviano: boicotar o processo eleitoral e, em último caso, impedir a realização do pleito; realizar atentados e colocar a culpa no MAS; pressionar pelo adiamento das eleições e retirar o MAS da corrida; instalar um governo militar.
Entenda a disputa
Milhares de bolivianos vão à urnas no dia 18 de outubro para participar das primeiras eleições presidenciais no país após o golpe de Estado de 10 de novembro de 2019 que forçou a renúncia do ex-presidente Evo Morales.
Então candidato à reeleição, Evo venceu o pleito do ano passado no primeiro turno, mas o resultado foi contestado pela direita boliviana e por seus oponentes. A Organização dos Estados Americanos (OEA) chegou a elaborar um relatório que apontava para a suposta existência de fraude no pleito, versão descartada por inúmeros estudos após o golpe.
Porém a declaração da OEA foi um dos fatores que impulsionou uma campanha massiva de atos violentos com participação de setores da polícia e do Exército contra militantes e políticos da esquerda, o que forçou Morales a renunciar e sair do país.
Hoje na Argentina, em condição de asilo político, Evo é perseguido pela Justiça boliviana acusado de "sedição e terrorismo", além de ter sido impedido de se candidatar ao Senado nas próximas eleições.
O MAS lançou o ex-ministro da Economia Luis Arce, que atuou durante mandatos de Evo. Arce desponta como favorito em todas as pesquisas e, em algumas sondagens, aparece vencendo em primeiro turno as eleições.
O favoritismo do MAS fez com que a ex-senadora de extrema direita Jeanine Áñez, que se autoproclamou presidente da Bolívia após o golpe de 2019, saísse da disputa pela presidência sob a justificativa de impedir o retorno da esquerda ao governo.
O rival melhor colocado para enfrentar Arce é o ex-presidente Carlos Mesa, um dos principais nomes envolvidos nos atos golpistas que forçaram a renúncia de Evo.