A pesquisa “Impactos da Covid-19 na Economia Criativa”, divulgada no último mês pelo Observatório da Economia Criativa da Bahia (OBEC-BA), busca dimensionar os efeitos da pandemia para profissionais da economia criativa no Brasil e gerar subsídios para políticas públicas de enfrentamento da crise no setor. O estudo contou com a participação de 2,6 mil respondentes de diversos estados do país.
Segundo os pesquisadores, o setor criativo foi duramente afetado em sua forma de subsistência e existência, já que grande parte dele, como os segmentos artístico e cultural, depende do encontro entre pessoas e da presença em espaços fechados ou de aglomerações em toda sua cadeia produtiva, da criação ao consumo.
Vulnerabilidade e estratégias
A pesquisa constatou que, até o mês de março, a maioria (80,7% dos respondentes) não possuía vínculo empregatício formal, recebia até 3 salários mínimos (71,3%) e possuía alta carga horária de trabalho (31,5% trabalham mais de 45h semanais). 79,3% cancelaram entre 50% e 100% de suas atividades em abril. Já 65,8% das organizações tiveram que fazer algum tipo de redução de contratos e pouco mais da metade (50,2%) teve que demitir colaboradores.
Apesar destes efeitos, muitos profissionais (45,1% dos indivíduos e 42% de organizações) afirmaram vir buscando alternativas e desenvolvendo novos projetos e produtos durante o período de distanciamento social. Parte destes investiram na criação de fontes de receita até então nunca adotadas por eles, como antecipação de venda de ingressos e campanhas de doação ou financiamento coletivo.
Recuperação
A medida de apoio mais citada pelos participantes individuais foi o auxílio emergencial. Já as organizações mencionaram desoneração tributária, perdão de dívidas, apoio de manutenção, incluindo suspensão de contas de custeio, e apoio para pagamento de funcionários. Também apontada como medida de apoio, aprovação da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc (Lei 14.017), em junho, foi uma conquista fruto da mobilização da classe artística.
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As respostas à pesquisa indicam não só a necessidade de recursos financeiros, mas a expectativa de que os órgãos públicos atuem como consultores na reorganização do setor. Há grande demanda por capacitação (mencionada por cerca de ¼ dos participantes) e por serviços e infraestrutura que possibilitem a adaptação das atividades ao ambiente digital.
Quanto a linhas de crédito, a pesquisa detectou que grande parte dos agentes culturais não acessa instrumentos de fomento público e indica a necessidade de simplificação de procedimentos e formação continuada para que se amplie essa utilização, inclusive para aqueles que têm função mais técnica e de suporte, através de instrumentos mais adequados ao setor. A pesquisa traz a importância de que políticas públicas de apoio sejam construídas ouvindo o setor cultural.
A pesquisa
A coleta dos dados foi feita entre março e julho, obtendo 1.910 respostas validadas, sendo 1.293 de indivíduos e 617 de organizações. A equipe de pesquisa é composta por alunos e professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e outras universidades públicas do país.
Economia criativa
A economia criativa abrange criação, produção e distribuição de bens e serviços que usam criatividade, cultura e capital intelectual como insumos primários, de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O setor se divide nos eixos consumo (design, arquitetura, moda e publicidade), mídias (editorial e audiovisual), cultura (patrimônio e artes, música, artes cênicas e expressões culturais) e tecnologia, incluindo a produção de games.
Fonte: BdF Bahia
Edição: Elen Carvalho