Em 2008, a construção de um metrô em Porto Alegre era tida como uma das grandes necessidades da cidade durante a campanha eleitoral. Em 2012, a promessa de que o projeto estava para sair do papel ajudou a decidir a eleição. Em 2016, essa e outras obras não concluídas centralizaram os debates que levaram à derrota do governo.
Você se lembra de outros temas que foram centrais nas eleições passadas? A reportagem do Sul21 foi atrás dos debates realizados nas últimas três eleições e relembra aqui os principais assuntos discutidos em 2008, 2012 e 2016.
2016
Em 2016, o vice-prefeito Sebastião Melo (MDB) concorreu como o candidato da situação contra Maurício Dziedricki (PTB), Luciana Genro (PSOL), Raul Pont (PT), João Carlos Rodrigues (PMN), Julio Flores (PSTU), Fábio Ostermann (PSL), Marcelo Chiodo (PV) e Nelson Marchezan Júnior (PSDB), que acabaria eleito.
Após a discussão em 2012 envolver as obras que estavam em andamento às vésperas da Copa de 2014, quatro anos depois o fato de muitas delas permanecerem inacabadas foi um dos temas centrais dos debates. O tema dominou o primeiro encontro dos candidatos na TV, transmitido pela Bandeirantes. Pont disse que não era contra obras, mas contra a forma que elas foram conduzidas, dizendo que eram “mal contratadas” e “mal licitadas”.
Marchezan pontuou que a maioria das obras não haviam sido concluídas. Dziedricki, que foi secretário de obras municipal, se afastou da gestão e disse que implementaria medidas para fiscalizar e agilizar o andamento das obras. Já Melo fez a defesa de Fortunati, afirmando que era uma “visão futurista” ao trazer para a cidade R$ 1 bilhão para as 14 obras da Copa.
Um segundo fator central do debate eleitoral de 2016 foi o tema do empreendedorismo, sendo a principal bandeira de Marchezan, Dziedricki, Ostermann e do vice-prefeito Melo. Em um dos debates, Marchezan defendeu que era preciso desburocratizar a legislação municipal para facilitar a criação de empresas e a construção civil e aproveitou para alfinetar Melo, que também vinha defendendo a desburocratização da cidade, ao dizer que “parece que ninguém viu isso até agora e vai fazer tudo em quatro anos”.
Melo também tocou no assunto em outra oportunidade. “Pretendo desburocratizar mais a Prefeitura. Abrimos a sala do empreendedor, que já é realidade, e vou abrir a sala do investidor para grandes investimentos”, disse o então vice-prefeito. O mesmo ocorreu com Pont, que criticou o tempo de espera para que um novo empreendimento seja aberto na cidade. “É importante que o vice-prefeito faça autocrítica, 484 dias é o tempo que leva para abrir um empreendimento na cidade”, afirmou o petista.
Quatro anos depois, o debate da desburocratização segue sendo a principal bandeira de diversos candidatos, como Gustavo Paim (PP), Valter Nagelstein (PSD) e o próprio Melo, novamente candidato, com todos criticando o prefeito por não haver avanço na área.
Outro fator que apareceu ao longo dos debates foi a nacionalização da campanha, que ocorreu logo após a conclusão do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. “Temos projetos que tramitam no Congresso, como a Emenda Constitucional 251, que congelam por 20 anos os gastos públicos em educação e saúde, por exemplo. Esse projeto atinge em cheio o trabalho das prefeituras. O golpe foi feito para garantir uma política anti-povo e anti-nação”, disse Raul Pont em debate promovido pelo Sindicato dos Municipários da Capital. Ao ser questionado por Raul sobre o teto de gastos em debate na Band, Melo disse que era preciso fazer uma reforma na máquina pública, mas que não defendia nenhum corte no Sistema Único de Saúde (SUS) e que estava “junto” do petista neste tema.
O tema do corte de Cargos Comissionados (CCs) também voltou à pauta em 2016. Em debate na Rádio Guaíba, Ostermann e Marchezan falaram sobre secretarias e cargos de confiança, ambos mencionando a necessidade de cortar CCs e enxugar o governo. “Tem muitas secretarias, são 37, se for fazer uma reunião com todos, vai durar 12 horas. Isso é por pressão de vários partidos que compõem a base e que são usados para compor o tempo de TV”, disse Marchezan. Ostermann defendeu a privatização de empresas como Companhia de Processamento de Dados de Porto Alegre (Procempa) e Companhia Carris Porto-Alegrense (Carris) para que deixem de “arcar com prejuízos e ineficiência”. No debate final, na RBS, Luciana Genro também retornou ao tema. “A Prefeitura gasta com cargos políticos mais que com segurança. Aliás, gasta o dobro”, disse.
Em debate na Guaíba, veio à tona a discussão sobre mobilidade urbana. Ao ser perguntada por Marchezan sobre o tema, Luciana criticou o edital de licitação do setor, que “manteve as mesmas empresas” e produziu aumento de “30% acima da inflação de 2004 para cá”. “Precisamos fazer uma auditoria na planilha de custos para ver se os valores correspondem à realidade, garantir que dinheiro do TRI que empresas pagam antecipado seja administrado pela Prefeitura e não pela Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP), que embolsa o lucro”, afirmou. Já Marchezan defendeu o uso de aplicativos como o Uber, que chegara à cidade no final do ano anterior e fora enfrentado com multas pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), como solução de mobilidade e criticou as “corporações que são donas de táxis”.
Já no segundo turno, a campanha ganhou as páginas policiais, com as investigações sobre um suposto ataque a tiros ao comitê do PSDB e sobre a morte de Plínio Zalewski, que coordenava a campanha de Melo. Os dois temas surgiram nos debates, com Melo cobrando Marchezan após se revelar que o ataque ao comitê tinha sido, na verdade, um vendaval.
No campo das propostas, o último debate antes da eleição teve Marchezan apresentando promessas como zerar a fila nos postos de saúde e emergências e a utilização de câmeras de monitoramento para o reforço da segurança pública, incluindo pardais, enquanto Melo prometeu contratar 100 novos guardas municipais. Voltando às obras, Marchezan prometeu que não iria começar nenhum novo empreendimento antes de concluir o que estava em andamento e prometeu multar empreiteiras por atraso. Já Melo disse que, além de concluir as atuais, defendendo que nenhuma estava parada, iria promover novas obras necessárias.
Candidatos participam de debate na Rádio Guaíba em 2016 / Guilherme Santos/Sul21
2012
Com a saída de Fogaça para concorrer ao governo do Estado, em 2010, José Fortunati (PDT) disputava o pleito como candidato à reeleição, tendo como adversários Manuela D’Ávila (PCdoB), Adão Villaverde (PT), Roberto Robaina (PSOL), Wambert di Lorenzo (PSDB), Jocelin Azambuja (PSL) e Érico Corrêa (PSTU).
Um tema que surgiu com força no primeiro debate entre os candidatos, promovido pela Rádio Gaúcha, foi a questão da segurança. Manuela D’Ávila defendeu reforço da Guarda Municipal nas escolas. Já José Fortunati e Jocelin Azambuja defenderam o cercamento dos parques e praças da cidade. “O debate sobre o cercamento físico já está superado, estamos reforçando as câmeras para o cercamento eletrônico da Redenção e do Parque Marinha”, disse o prefeito sobre medida em andamento na cidade. “Concordo que seria importante inclusive o cercamento físico dos parques, incluindo o Parque Harmonia. Não vejo constrangimento nisso. Há lugares no mundo que tem horário de funcionamento inclusive para os parques. O povo educado sabe usar o parque”, disse Azambuja. O cercamento físico dos parques também foi defendido por Wambert.
No mesmo debate, Manuela D’Ávila disse que iria criar uma agência pública para divulgar a cidade e potencializar o turismo. Villaverde prometeu que, até 2016, iria universalizar as creches públicas municipais e que pensava implantar um sistema de geração de energia elétrica por meio do lixo na cidade. Robaina repetiu a proposta de redução de CCs feita por Luciana Genro quatro anos antes, mas agora elevando o percentual de corte para 75%.
Grande promessa de 2008, o metrô reapareceu como tema de debates na TV Com, a três semanas da eleição. Na época, Fortunati defendia como uma conquista da administração municipal e a chegada do novo modal de transporte público era reconhecida mesmo por adversários, que ressaltavam o papel do governo federal na, à época, futura obra. “O Metrô de Porto Alegre foi uma conquista conjunta com o governo estadual e federal, quando eu era líder da bancada federal”, disse Manuela. “É bom ter humildade para reconhecer as conquistas conjuntas. E é bom que se diga que o prefeito defendia o Portal das Cidades e não o Metrô de Porto Alegre. Por isso chegamos atrasados a esta obra”, disse, em outro momento, Adão Villaverde.
O tema do metrô também foi destaque no último debate antes das eleições, realizado pela RBS. “Estamos tomando medidas, duplicando vias e também ampliando o transporte coletivo. O metrô foi conquistado graças a uma grande articulação que passou pelos governos do estado e federal, o transporte hidroviário já está funcionando e será ampliado. Bicicletas de aluguel já estão na cidade, são medidas para otimizar o transporte”, disse Fortunati.
Outra proposta que apareceu neste debate foi o carro-chefe da campanha de Wambert: a extinção da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). “A EPTC é um problema, temos de criar um departamento municipal de trânsito que seja propositivo. O agente de trânsito fica escondido atrás de árvore esperando uma infração para poder multar”, disse.
O pleito acabaria ainda em primeiro turno, com a reeleição do prefeito. Tido como a principal obra da Copa do Mundo de 2014, o metrô não sairia do papel durante todo o segundo mandato de Fortunati e seria enterrado de vez em 2017, quando o governo federal, sob o comando de Temer Golpista (MDB), retirou do orçamento a previsão de recursos para a obra.
2008
Em 2008, concorreram à Prefeitura de Porto Alegre o então prefeito José Fogaça (PMDB), Manuela D’Ávila (PCdoB), Luciana Genro (PSOL), Maria do Rosário (PT), Nelson Marchezan Júnior (PSDB), Onyx Lorenzoni (DEM), Vera Guasso (PSTU) e Paulo Rogowski (PHS).
No primeiro debate da corrida, realizada pela agora extinta TV Com, Fogaça, que disputava a reeleição, defendeu que o metrô era a questão mais urgente da cidade. “O seu governo durou 16 anos e não tratou de avançar na questão do metrô”, disse em resposta à candidata Maria do Rosário. Outro tema debatido entre os dois foi a licitação do recolhimento de lixo, que ocorrera na gestão Fogaça e fora revogada após o surgimento de denúncias de irregularidades.
Já no debate da Record, realizado uma semana antes do primeiro turno, Rosário cobrou de Fogaça a promessa não cumprida de criar oito novos postos de saúde. Fogaça se defendeu dizendo que havia reformado 53 postos. No mesmo debate, Onyx cobrou de Fogaça a não implementação do turno integral na educação. “Eu não entendo como um homem ligado à educação, como ele, não implantou o turno integral. Tiveram quatro anos para fazer. Por que não fizeram?”, disse o candidato do DEM. Ele também cobrou de Fogaça a promessa de criar uma passagem única do transporte coletivo, que também não havia sido cumprida.
Outro tema debatido à época era o excesso de cargos de confiança na administração municipal. Luciana Genro prometia extinguir 70% dos CCs na Prefeitura. Já Marchezan cobrava as promessas de despoluição do Guaíba e a falta de planejamento a longo prazo para a cidade. “Prefeito não pode governar apenas para si, para seu partido, apenas para seu mandato, tem que governar para todos. Porto Alegre carece de planejamento. (…) Tem que planejar para os próximos 20 anos, para que não tenhamos um governo egoísta”, disse no último debate antes do primeiro turno.
No segundo turno, quando a disputa afunilou entre os candidatos José Fogaça e Maria do Rosário, ganharam força discussões sobre os rumos da educação municipal. Fogaça defendeu que seu governo havia implementado 38 novas creches. “Este investimento que fizemos em educação infantil é fundamental. Formação locomotora. Aí é que vai formar as bases. Por isso, investimos tanto”, disse Fogaça no debate antes do segundo turno. Na réplica, Rosário disse que isso não correspondia à verdade e que a gestão municipal havia perdido recursos federais. “Perde dinheiro para o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Candidato Fogaça, o senhor perde recurso porque não foi o senhor que foi buscar”, afirmou.
Outro assunto debatido foi a construção de casas populares para as famílias das vilas Dique e Nazaré, nos arredores do Aeroporto Salgado Filho. “O senhor fala como se a Dique e a Nazaré já estivessem na nova área, mas não estão. Eu estive lá, falando com aquelas pessoas. Não tem mais atendimento de saúde, não tem atendimento social, não tem creche. As casas que o senhor tem feito são sem banheiro, de concreto”, criticou Rosário. “Realmente elas são muito precárias. Por isso vamos mudar o modelo. Vamos fazer casas que tenham, pelo menos, banheiro. Foi o seu governo que estabeleceu esse padrão. Ali na Vila Dique e Nazaré só existe o projeto, porque nós o fizemos”, retrucou. O imbróglio sobre a remoção das vilas se arrastaria por toda a década seguinte e ainda há famílias remanescentes na região da Nazaré.
Maria do Rosário e José Fogaça participam de debate no segundo turno em em 2008 / Antônio Cruz/Agência Brasil
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Sul 21