A Venezuela é o terceiro país no mundo que mais realiza transações com criptomoedas, segundo o Índice de Adoção de Criptografia Global 2020, elaborado pela empresa Chainalysis. Há três anos, governo bolivariano criou o Petro - moeda digital venezuelana respaldada pelas reservas de petróleo - para driblar os efeitos do bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos.
No ranking publicado pela empresa chinesa, a Colômbia, em nono lugar, é o único país latino-americano que acompanha a Venezuela entre os dez maiores receptores de criptos.
O Índice de Adoção de Criptografia Global é composto por quatro métricas: valor recebido na transação, ponderado pelo poder de compra per capita; valor transferido, também ponderado; número de depósitos, em comparação com o número de usários; e, finalmente, volume de comércio ponto a ponto (P2P), segundo dados fornecidos pelas plataformas LocalBitcoins e Paxful.
Devido à natureza descentralizada da criptomoeda, é impossível saber com exatidão a quantidade enviada e recebida na rede por endereços em um determinado país.
No entanto, os quatro fatores geram uma fórmula que busca diminuir a especulação sobre os dados e se aproxima de um índice que enfatiza a adoção popular por usuários comuns. Segundo essa medição, a Ucrânia seria o país com maior popularidade das criptos, seguido da Rússia.
:: Dólar à vista: como a moeda estadunidense circula em uma Venezuela bloqueada ::
Os venezuelanos são os terceiros da lista por alguns fatores. Desde o lançamento da moeda digital Petro, o Estado aprovou uma série de incentivos para que os comércios locais aceitem criptomoedas, o que envolveu mais de 100 mil estabelecimentos, assim como postos de gasolina.
Também são pagos bônus sociais com o dinheiro digital e no início de outubro o presidente Nicolás Maduro anunciou o Petro Imobiliário, para financiar obras da Grande Missão Moradia, programa social que já construiu 3,2 milhões de casas no país.
A lei antibloqueio, aprovada na última sexta-feira (9) pela Assembleia Nacional Constituinte (ANC) também prevê a criação de mecanismos que priorizem o comércio em criptos. A medida acompanha movimentos internacionais de outras potências econômicas. Além disso, os BRICS, bloco formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, anunciou, na sua última conferência ministerial, a criação de uma moeda digital única.
A cadeia de lojas Traki foi uma das primeiras a aceitar o Petro e outras criptomoedas no lugar dos bolívares soberanos. / Reprodução
Além do Petro, existem outras sete criptomoedas venezuelanas. A mais antiga é a Bolivarcoin, criada em 2015, e que atualmente conta com o equivalente a 25 milhões de dólares em circulação. Já a Andescoin foi criada em San Cristóbal, cidade na fronteira com a Colômbia e que, assim como a Cordilheira dos Andes, pretende ser uma moeda que atravesse a América do Sul.
Há também a Dracma, um token dirigido ao público religioso, propagandeada como a "moeda da fé". Lançada em 2018, a proposta é que seja utilizada na Venezuela, Colômbia, República Dominicana, Argentina e Paraguai.
As sanções impostas pelos EUA e a impossibilidade de realizar transações em dólares são outros aspectos que incentivam a criação de um ecossistema em criptos.
Um pagamento emitido por agentes venezuelanos, privados ou públicos, no sistema Swift, de transações financeiras, pode tardar entre 10 e 20 dias para ser efetuado, quando o período normal seriam 48 horas. Já em criptomoedas é uma questão de minutos.
Com a hiperinflação induzida, as moedas digitais também se tornaram um meio de poupança no lugar do bolívar soberano, assim como uma alternativa para o envio de remessas daqueles que migraram, mas mantém familiares ou negócios particulares no país.
:: "A inflação venezuelana se deve à manipulação cambial", afirma economista ::
Entre julho de 2019 e julho de 2020 foram intercambiados 3 bilhões de dólares através de plataformas de criptos na Venezuela, chegando a uma média de 5 milhões de dólares semanais.
Para especialistas, as criptomoedas são a melhor alternativa ao sistema financeiro em crise, hegemonizado pelos Estados Unidos e União Europeia, pela velocidade das transações, a descentralização das operações, a incapacidade de rastreio e a segurança ao comprador e vendedor.
Por conta da competência que as criptos já representam para os grandes agentes financeiros estadunidenses, o procurador geral dos EUA, William Barr anunciou a criação de um novo regulamento que busca controlar o avanço das criptomoedas, afirmando, sem provas, que seriam dinheiro "utilizado para financiar o terrorismo".
Segundo previsões de algumas consultoras, os EUA fariam parte dos 12 países que irão liderar a tecnologia de contabilidade distribuída (blockchain) no futuro, no entanto a China lidera a corrida para a criação de um banco central de criptomoedas com seu Yuan Digital.
Para a empresa PricewaterhouseCoopers (PwC), nos próximos 10 anos, os chineses poderiam ganhar 440 bilhões de dólares e gerar 11,4 milhões de postos de trabalho, enquanto os estadunidenses ganhariam 407 bilhões de dólares e abririam 2,2 milhões de novos empregos.
Edição: Rogério Jordão