CULTURA CAIÇARA

Conheça a lenda de Ratambufe, o Boi de Conchas de Ubatuba (SP)

Manifestação popular foi criada pelo extinto Movimento Cultural Pirão Geral em 2003

Ouça o áudio:

Ilustração do boizinho Ratambufe, mais conhecido como o Boi de Conchas - CRUMI - Comunidade Reinante Voga dos Mares de Iperoig.
Ratambufe nasceu no dia 29 de Junho, data que comemora o Dia de São Pedro - o Santo dos Pescadores

O dramaturgo e ator Bado Todão viajou pelo Brasil e pelo exterior trabalhando com o teatro popular até retornar para a sua terra natal, Ubatuba, no litoral paulista, no início dos anos 2000. Nessa época estava no Movimento Cultural Pirão Geral, que reunia diversas expressões e artistas nas terras ubatubenses. 

O Pirão Geral foi extinto, mas foi dessa cena cultural que nasceu em 2003 o Boizinho Ratambufe, mais conhecido como o Boi de Conchas. A manifestação retrata um animal imaginário que desapareceu na praia de Iperoig. Enquanto festividade, o Boi de Conchas nasceu na Praça Nóbrega, bem no centro da cidade de Ubatuba. 

:: Tradição "Cavalo Marinho" é exemplo de cultura que resiste para não se enquadrar ::

“Ali foi criada a manifestação do Boi de Conchas. Nós pegamos uma lenda, uma história, daquela ocasião colhida e reinventada pelo Julinho Mendes, um companheiro de trabalho de cultura popular aqui de Ubatuba. E a partir daí a gente criou essa manifestação pública popular, desse boi que nasceu em São Luiz de Paraitinga e depois foi levado para Ubatuba", recorda o artista. 

:: Entre acordes, melodias e astrofísica: conheça o trabalho da artista Marissol Mwaba ::

Mas, afinal, porque Ratambufe e Boi de Conchas? Ou seja, dois nomes para o mesmo personagem? Que tal conhecer um pouco no enredo dessa história-lenda para entender?

Conhecendo o Boi de Conchas

A professora e contadora de histórias Mariza Taguada conta a lenda do Boi de Conchas - confira os contos de Mariza no YouTube


Enredo

Tudo começa com o tropeiro Cipriano, que tinha um sítio no alto da serra. Ele descia para Ubatuba para vender seus produtos e apreciar o mar. Foi no Dia de São Pedro, Pescador, que nasceu Ratambufe, um boizinho todo branco, de rabo preto e marca de concha na testa.

:: Serpente da Ilha do Fogo, Nego D'agua, duendes e lobisomens: as lendas do Velho Chico ::

Ratambufe cresceu ouvindo as histórias que Cipriano contava sobre o mar, azul, cheio de peixes, sereias e baleias.

Mas o sonho de ver a água azul na verdade escondia a realidade dos planos de Cipriano levar o boi para o açougue. 

É daí que, a caminho do matadouro, Ratambufe foge e mergulha com alegria até sumir no fundo do mar. Tempos depois Ratambufe ressurge da praia ao ouvir uma viola.  

O animal que reaparece passa a ser chamado como Boi de Conchas. Pelo próprio nome, é possível imaginar um boi coberto por conchas.

:: Festa da Lavadeira guarda histórias de diversidade e resistência em Pernambuco ::

Música

Ao mesmo tempo, a referência da palavra ratambufe realça um instrumento musical, criado por Domingos Anagro, um folião de Ubatuba. Uma espécie de berimbau adaptado.  


Bado Todão segurando o instrumento musical ratambufe / CRUMI 

“Ratambufe foi o nome dado ao boizinho nascituro. Ele nasceu no dia de São Pedro Pescador. E o ratambufe nada mais é que um berimbau de lata. Um instrumento feito com um bastão, uma biriba, um bastão que enverga né. Um arame e uma lata”, explica Bado Todão. 

Edição: Daniel Lamir