O deputado argentino Federico Fagioli foi detido na noite dessa sexta-feira (16) ao desembarcar no aeroporto de El Alto, na Bolívia. O parlamentar integra a missão convidada pela presidenta do Senado boliviano, Eva Copa, para acompanhar na condição de observador internacional as eleições gerais que acontecem neste domingo (18) no país. Na manhã deste sábado (17), o parlamentar argentina divulgou um comunicado à imprensa em que afirma que encontra-se bem e fora de perigo, sendo acompanhado por funcionários da Embaixada argentina no país.
A denúncia foi feita por Leonardo Grosso, deputado argentino que também integra a delegação. Em publicação no Twitter, o parlamentar divulgou um vídeo em que mostra policiais agredindo Fagioli e um homem que, segundo Grosso, é um diplomata argentino que estava recebendo a delegação no aeroporto. A chancelaria argentina confirmou que o funcionário diplomático é Lucas de María e que ele teve uma crise de asma durante a ação policial.
"Assim nos trata a ditadura de Jeanine Áñez na Bolívia. Mais de 60 soldados armados e sem identificação detiveram ilegalmente o deputado Fagioli e atacaram um diplomata argentino que nos acompanhava", disse.
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, também manifestou seu repúdio ao episódio e responsabilizou o governo da autoproclamada presidenta Jeanine Áñez pela segurança dos observadores internacionais.
"Parlamentares argentinos foram maltratados ao chegar em La Paz para cumprir com suas tarefas de observadores das eleições do próximo domingo. É de responsabilidade do governo golpista de Jeanine Áñez preservar a integridade da delegação argentina", disse o presidente.
Legisladores argentinos fueron maltratados al llegar a La Paz para cumplir con sus tareas de veedores de las elecciones del próximo domingo. Es directa responsabilidad del gobierno de facto de @JeanineAnez preservar la integridad de la delegación argentina.#EleccionesBolivia2020 https://t.co/MiMjt497bj
— Alberto Fernández (@alferdez) October 17, 2020
O candidato à Presidência da Bolívia pelo partido Movimento ao Socialismo (MAS), Luis Arce, condenou as ações dos policiais e exigiu respeito aos direitos dos observadores internacionais.
"Condenamos os ataques que o deputado Federico Fagioli recebeu em sua chegada ao país como parte da missão eleitoral que a república irmã da Argentina enviou para acompanhar as eleições da Bolívia de 2020", disse Arce.
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O presidenciável, que é favorito na disputa deste domingo, ainda exigiu que o governo de Áñez "respeite os direitos das pessoas que são parte das delegações e missões internacionais que chegam à Bolívia para acompanhar velar o processo eleitoral".
Em outro vídeo divulgado por Grosso, policiais colocam, à força, Fagioli dentro de um carro sem identificação. Ao fundo, é possível ouvir gritos que diziam "isso é um sequestro".
Así nos trata la dictadura de @JeanineAnez en Bolivia. Más de 60 efectivos armados y sin identificación detuvieron ilegalmente al diputado @Fede_FagioliOK y golpearon a un diplomático argentino que nos acompañaba. pic.twitter.com/RXVu2rL1Ow
— Leonardo Grosso (@Leonardo_Grosso) October 17, 2020
O Ministério de Relações Exteriores da Argentina também publicou os vídeos divulgados pelo deputado e chamou a detenção de Fagioli de ilegal.
"O governo argentino exige que o governo de facto de Jeanine Áñez se faça responsável pela detenção ilegal do deputado Federico Fagioli que viajou ao Estado Plurinacional da Bolívia em caráter de observador das próximas eleições", disse a chancelaria.
A coalizão governista da Argentina, Frente de Todos, também se pronunciou sobre a detenção de Fagioli e destacou que a delegação conta "com toda a documentação migratória em regra".
"Exigimos à ditadura de Jeanine Áñez a imediata libertação do deputado Fagioli, que garanta a segurança dos integrantes da delegação e que permita que realizem a tarefa de verificação eleitoral", disse.
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Em entrevista por telefone ao jornalista Juan Cruz Castiñeras, o vice-ministro de Segurança Interna da Bolívia, Wilson Santamaría, afirmou ainda na noite de sexta que o deputado "não estava creditado" como observador das eleições e que sua detenção serve apenas para "cumprir exigências migratórias".
"O que temos são comparsas da esquerda, convidados pelo MAS, que também são bem-vindos, mas devem cumprir as regras do país. Os que vêm na qualidade de turistas, que é o que acontece com a grande maioria deles, devem fazer turismo", disse Santamaría.
Entretanto, o documento oficial que comprova a condição de observador internacional das eleições a Fagioli e a outros parlamentares argentinos foi divulgado por Leonardo Grosso e compartilhado pelo próprio presidente Alberto Fernández. O documento é assinado pela presidenta do Senado da Bolívia, Eva Copa.
Fuimos invitados por la Presidenta del Senado de Bolivia, Eva Copa, como veedores de acompañamiento electoral internacional para las elecciones del domingo. Al llegar, pasamos el Aeropuerto de Cochabamba sin ningún problema, pero cuando llegamos a La Paz nos detuvieron. pic.twitter.com/Z8pdZQmwDs
— Leonardo Grosso (@Leonardo_Grosso) October 17, 2020
Confira a nota à imprensa na íntegra de Fagioli após o ocorrido:
COMUNICADO PRENSA FEDERICO FAGIOLI
Tras los violentos hechos de público conocimiento sufridos por la delegación de veedores argentinos en el hermano país de Bolivia, queremos informar que el Diputado Nacional, Federico Fagioli se encuentra en buen estado, fuera del peligro al que lo expuso la detención arbitraria e ilegal del gobierno de facto ayer por la noche.
Queremos destacar y agradecer el comprometido acompañamiento de Lucas Demaria, Sebastian Martínez Cabail, y Diego Garces, funcionarios de la embajada Argentina que siempre estuvieron con los y las diputados para velar por su integridad, incluso siendo víctimas también de golpes y violencias.
La delegación de legisladores y legisladoras argentinos se encontraba en tierras bolivianas para asegurar el transparente desarrollo de los comicios que buscan restaurar la democracia en Bolivia, invitados por la Presidenta del Senado, Eva Copa y fueron violentamente sorprendidos por las fuerzas de seguridad que procedieron tenebrosamente, sin mostrar sus identificaciones y sin exponer una justificación válida.
El gobierno de facto, con esta acción ilegal y violatoria de las leyes internacionales, está cercenando la posibilidad de velar por el correcto desarrollo del proceso electoral del próximo domingo, impidiendo que los veedores visiten los centros de votación, observen el proceso de carga de datos, estén presentes en el cierre de los comicios y en la difusión de los resultados desde el Centro de Operaciones.
Además de la violencia sufrida por un funcionario de nuestro país, resulta profundamente preocupante y urgente poder constatar que el pueblo boliviano pueda ejercer con libertad su derecho a elegir libremente a sus representantes y no continúe siendo víctima de los designios ilegítimos de quienes a punta de pistola tomaron el poder hace unos meses, reprimiendo y asesinando a bolivianas y bolivianos.
Reafirmamos nuestro compromiso para defender la dignidad de los pueblos en cada rincón de Nuestra América.
Democracia para Bolivia. Dictaduras Nunca Más