Em 19 estados de todas as regiões do Brasil, mais de 100 ações contra a fome foram realizadas desde 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação, como parte da Jornada Nacional de Lutas contra a Fome e por Soberania Alimentar.
Em São Paulo (SP), ações da Campanha Periferia Viva estiveram espalhadas por toda a capital, vinculadas ao tema do direito à alimentação. Na zona sul, a Escola Paulo Freire, em parceria com a Campanha Gente é Para Brilhar, distribuiu 400 marmitas para famílias de baixa renda das comunidades do Boqueirão e do Jardim São Savério.
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Além do "marmitaço", a programação contou com a distribuição de livros em rodas de leitura com as crianças, além de atendimento médico e assistência jurídica popular.
"Ontem foi o dia mundial da alimentação e, infelizmente, nós não temos o que comemorar, pois o Brasil está voltando para o Mapa Mundial da Fome. Hoje, nós somos mais de 10 milhões de brasileiros que não tem o que comer, e a maioria dessas pessoas que estão em situação de fome são as crianças", afirma Adília Nogueira, do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD).
Marmitas saudáveis
Com ingredientes orgânicos e provenientes da reforma agrária, as marmitas foram preparadas pela chef Paula Bandeira, que se emocionou em saber que cozinharia para muitos nordestinos que vivem nas comunidades. A baiana destaca que o Brasil “precisa reaprender a comer”, mas além de tudo, olhar para o próximo.
“É preciso que as pessoas parem de pensar que é normal ver gente passando fome, ver gente em situação de rua. Todo mundo que vive nesse mundo é irmão”, afirma Bandeira.
As ações da Jornada Nacional são organizadas pela Via Campesina Brasil, por movimentos que compõem as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, por organizações do Campo Unitário por Terra Trabalho e Dignidade, pelo Fórum das Centrais Sindicais, entre outros.
"Estamos levando comida saudável da agricultura familiar, mas também trazendo para o povo a pergunta: o que é que a gente come? Por que o preço da comida está tão alto?", completa Nogueira.
Desde o início da pandemia, a solidariedade da Escola Nacional Paulo Freire – em parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Levante Popular da Juventude e o MTD – tem feito a entrega de cestas básicas e desenvolvido outras ações nas duas comunidades.
Entre elas, esteve a formação de agentes comunitários para mapeamento, orientação e cuidado em meio a evolução da covid-19. O curso para a formação de Agentes Populares de Saúde foi construído também em outros locais do país, como em Recife, por meio da Campanha Mãos Solidárias.
“As pessoas aqui, infelizmente, não têm muita expectativa de vida. É difícil a gente saber que o alimento vem aumentand [de preço] todo santo dia. As pessoas não conseguem adquirir uma cesta básica, uma mistura para a semana. Ver que o Brasil está indo de volta para uma região onde a fome fala mais alto é muito dolorido”, explica Dandara Lima, que vive em Jardim São Savério e foi uma das agentes formadas no curso.
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Incêndio e fome
Anderson de Jesus, também morador do Jardim São Savério, destacou a importância das ações em meio à situação crítica pela qual passa a comunidade. Na última semana, um incêndio desalojou dezenas de famílias, que tiveram seus barracos e pertences destruídos.
"Como vocês viram aí, nosso povo está frágil. A gente só tem que agradecer. Espero que mais pessoas possam nos ajudar, porque a gente precisa. Se você for olhar, não é só de hoje, não, a fome já vem de muito tempo", afirma Jesus.
No Brasil, uma alimentação de qualidade é assegurada pela lei nº 11.346/06. No entanto, atualmente 10,3 milhões de brasileiros passam o dia sem fazer todas as refeições, segundo dados do IBGE de 2018. O quadro foi agravado pela pandemia da covid-19 e fez o país voltar ao Mapa da Fome, onde não estava desde 2014.
O dia 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação, foi criado para refletir sobre o quadro atual da alimentação mundial. A data foi escolhida para lembrar a criação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em 1945. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 821 milhões de pessoas passavam fome no planeta em 2018. Uma média de uma em cada nove pessoas.
Edição: Vivian Fernandes