Milhares de manifestantes se mobilizaram no Chile, nesse domingo (18), para celebrar a data que marca um ano do início da revolta social que levou milhões de pessoas às ruas do país. Na capital, Santiago, a população participou de uma marcha pacífica com concentração na Praça da Dignidade.
No marco das comemorações, foi realizado também um panelaço nacional na noite de domingo, como forma de reafirmar a convicção e o espírito de luta um ano após a onda de protestos iniciada em outubro de 2019.
Um dos resultados alcançados com a mobilização do ano passado foi a convocação de um plebiscito nacional, que será realizado no próximo domingo (25), no qual a população decidirá se aprova ou rejeita a votação de uma nova Constituição. Também no dia 25 de outubro, só que de 2019, um milhão de pessoas foram às ruas de todo o país pedindo por mudanças na política e na economia chilenas.
A atual Carta Magna do Chile foi promulgada em 1980, durante a ditadura do general Augusto Pinochet (1973 - 1990). O último referendo realizado no país foi em 1989, que determinou o fim do regime militar.
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No protesto do último domingo em Santiago, os carabineros [como é chamada a polícia militar chilena] usaram jatos de água para dispersar os manifestantes.
Nas últimas semanas, a repressão da polícia tem se intensificado, impedindo a mobilização da campanha pelo "sim" no plebiscito do próximo domingo. O caso mais emblemático aconteceu no dia 2 de outubro, quando um jovem de 16 anos foi empurrado por um carabinero da ponte Pio IX, no rio Mapocho, que atravessa a capital chilena.
Reparação às vítimas
Durante a jornada de atos, os chilenos e chilenas também homenagearam as vítimas da violência policial e condenaram a atuação do governo neoliberal do presidente Sebastián Piñera (Renovação Nacional).
Nesta segunda (19), o senador Alejandro Navarro, do Partido Progressista (PRO), apresentou uma proposta de emenda ao orçamento do próximo ano para destinar parte dos recursos à criação de um fundo nacional de reparação às vítimas da repressão policial.
“O Estado deve aplicar esses recursos no atendimento [às vítimas], particularmente, das pessoas com lesões oculares graves e para o apoio das vítimas traumatizadas devido aos estupros ou outras ações que mudaram completamente suas vidas”.
O país tem cerca de 360 vítimas de lesão ocular como resultado da repressão policial à revolta social. Uma das vítimas da atuação violenta da polícia foi a fotojornalista Nicole Kramm, que perdeu 89% da visão no olho esquerdo após ser atingida por um projétil enquanto cobria o ato realizado na capital do país na virada do ano.
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Ainda em 2019, em um mês de protestos, o Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile (INDH) registrou 442 denúncias de tortura e maus-tratos realizadas pelas forças de segurança do presidente Piñera. Dessas, 74 são de violência sexual contra mulheres.
*Com informações do El Ciudadano.
Edição: Luiza Mançano e Vivian Fernandes