Coluna

Os impactos imediatos de uma vitória do MAS nas eleições da Bolívia

Imagem de perfil do Colunistaesd
Certamente, uma vez confirmada essa vitória será um primeiro passo para a retomada democrática no país - Elineuro Meira / Fotos Públicas
A vitória do MAS é uma vitória também de Evo Morales

A profecia de Tupac Katari mais uma vez está prestes a se materializar. No século XVIII, esse lutador indígena liderou uma insurgência nos arredores de La Paz contra os colonizadores e antes de ser esquartejado anunciou: “Voltarei e seremos milhões”. A frase sempre vem à tona quando a resistência indígena-popular retoma o protagonismo que lhe é de direito na Bolívia.

Leia também: Acompanhe voto a voto a apuração das eleições na Bolívia

A indicativa vitória nas urnas em primeiro turno de Lucho Arce e Davi Choquehuanca foi maior do que imaginavam os setores de direita, responsáveis pelo Golpe de 2019. Reverter isso, mais uma vez à força, não será tarefa simples, pois mesmo instituições que perderam a credibilidade nesses processos eleitorais como a OEA – Organização dos Estados Americanos – terão dificuldades em seguir adiante qualquer desestabilização diante do recado das urnas. A fragmentação da direita e a falta de um projeto de país por parte desses setores também foram elementos importantes de serem considerados diante do resultado eleitoral.

Leia MaisQuem é Luis Arce, favorito para as eleições presidenciais na Bolívia?

De toda maneira, o momento requer ainda atenção, cautela e mobilização para a confirmação dos resultados. Para refrescar a memória, na eleição de 2019, foi no momento da apuração de votos que o pleito foi questionado pela OEA, sem qualquer indício de fraude, abrindo espaço para uma tomada golpista do poder.

Certamente, uma vez confirmada essa vitória, será um primeiro passo para a retomada democrática no país, mas isso não é o suficiente para que o bloco de mobilização indígena-popular baixe a guarda, ao contrário. Os conflitos não irão parar por agora e podem se intensificar diante da conjuntura ainda conservadora dos países do seu entorno. Por exemplo, o concorrente da extrema-direita Fernando Camacho tende a se cacifar como alternativa de desestabilização e não é descartado movimentos que insuflem o separatismo na região de Santa Cruz de la Sierra, como já ocorreu em outros períodos históricos, como em 2008.

Leia mais: Eleições na Bolívia: "O que está em jogo são as conquistas dos povos indígenas"

Não restam dúvidas que interromper o golpe de 2019, nesse momento histórico, traz uma nova moral de resistência para as forças progressistas do continente. A vitória do MAS é uma vitória também de Evo Morales que consegue ao mesmo tempo desmoralizar o papel da OEA na condução dos processos eleitorais na América Latina e ser inspiração de luta para o reinício de uma resistência popular capaz de reverter golpes de Estado. É um claro recado para toda a América Latina!

Edição: Rogério Jordão