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Artimanhas para folgar no trabalho

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Crônica fala em gente lambendo sabão para tentar uma folga no trabalho
Crônica fala em gente lambendo sabão para tentar uma folga no trabalho - laburbuja/flickr.com
Vi um sujeito pegar um pedacinho de sabão e colocar na boca

- Vai lamber sabão!

Este era um xingamento comum em Minas, proferido quando se queria mandar alguém para algo muito pior, mas sem falar palavrões.

Há muitos anos, quando tomava café da manhã num boteco, vi um sujeito pegar um pedacinho de sabão e colocar na boca. Como tenho um amigo que gosta de batata crua e outro que adora feijão com melancia, não me impressiono muito com gostos alheios, mas nesse dia fiquei curioso:

- Você gosta de sabão?! - perguntei admirado.

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Não gostava. Disse que era para provocar um aquecimento do corpo, um pouco de febre. Precisava folgar um dia para resolver uns problemas e, por isso, antes de entrar no trabalho, comeu o sabão. Um pedacinho só. Depois, diria que estava se sentindo mal, pediria para medir a temperatura de seu corpo, veriam que ele estava com febre e lhe dariam um dia de folga. Garantiu que dava resultado.

São muitos os artifícios que algumas pessoas que conheci usavam para não trabalhar.

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Um professor da rede estadual do interior paulista, vinha passar alguns fins de semana em São Paulo e, às vezes, resolvia espichar a folga até segunda-feira. Aí, ia ao Hospital do Servidor, dizia que estava com diarreia e lhe davam um dia de folga. Uma vez, ele trouxe um colega que era meio ingênuo. Explicou o artifício e o convenceu a ficar aqui até segunda-feira também. Foram juntos ao Hospital do Servidor. Só que o colega dele, em vez da folga, foi levado para a ala de psiquiatria do hospital. Semanas depois ele teve alta, voltou para o interior e contou que achava que a história da diarreia não ia colar e por isso inventou uma história meio complicada, com sintomas estranhos. O médico acreditou que o problema dele era psíquico, daí a internação. 

Meu amigo falou para ele:

- Até que o médico tinha razão. Você tem mesmo uma cabeça ruim demais.

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Mas o mais estranho que já vi foi de um sujeito que um dia faltou ao trabalho e depois disse que seu pai havia morrido. Um ano e pouco depois, faltou de novo e disse a mesma coisa. A desculpa passou. Fez isso uma terceira vez, a coisa colou de novo. Na quarta vez, achando que já tinha matado o pai demais, disse que a mãe havia morrido. Mais um tempo, faltou de novo e disse novamente que a mãe tinha morrido. Foi demitido, depois de uma bronca do chefe:

- Pai você pode ter vários - sorriu malicioso. - Mas mãe só pode ter uma... 

Edição: Daniel Lamir