É muito importante que as pessoas ampliem as suas sensibilidades em relação às árvores
A devastação causada pelas queimadas nos últimos meses em biomas brasileiros vai para além de preocupações com o presente e o futuro. As chamas na Amazônia, Cerrado e Pantanal significam também a destruição de patrimônios genéticos que se relacionam, por exemplo, com o que comemos, bebemos e respiramos, ou ainda, com as mudanças climáticas e seus possíveis efeitos globais.
A perda de sementes animal ou vegetal da nossa biodiversidade representa a quebra de uma cadeia que, de acordo com os diversos alertas ambientais emitidos por órgãos e movimentos do setor, coloca em xeque a sobrevivência humana. Um exemplo é o relatório Cronologia de um Desastre Anunciado, divulgado pela Associação Nacional dos Servidores do Meio Ambiente (Ascema Nacional). O documento detalha ações de Jair Bolsonaro e do ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles no desmonte de políticas ambientais no país.
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Andrea de Oliveira é educadora ambiental e lamenta o cenário político atual após diversas lutas populares que cobraram a defesa do setor.
“A pauta ambiental vinha evoluindo muito. Infelizmente com o atual governo estamos atravessando um grande retrocesso, mesmo diante de tudo que presenciamos no dia a dia em função das questões de clima”, lamenta.
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Por outro lado, Andrea reforça a importância de superação processual dessa resistência do poder público em proteger e conservar a natureza. Ela defende ações integradas de educação ambiental.
"Eu acredito muito em uma mudança dentro da educação. Então a gente precisa trazer mais programa atividades, projetos de educação ambiental, que tragam esse tema da floresta como um tema fundamental para a vida”, propõe.
Da teoria para a prática, Andrea coordena um projeto que pretende criar um viveiro de mudas ecopedagógico. A ideia é construir o espaço entre janeiro e fevereiro de 2021 como uma forma de restaurar a Mata Atlântica no interior de Santa Catarina. A iniciativa é chamada como De volta para a floresta e pretende identificar espécies de árvores, coletar sementes, germinar em viveiros e plantar em áreas de recuperação ambiental.
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Além disso, a proposta é utilizar tubetes biodegradáveis na produção de mudas, eliminando a utilização de plásticos no plantio.
“Desde a construção do viveiro até a produção das mudas, visamos a utilização de tecnologias de baixo impacto, além da utilização de materiais sustentáveis. E uma grande diferença é a utilização de tubetes biodegradáveis, porque a maioria dos viveiros aos produzir mudas utilizam os tubetes e embalagens de plásticos, e acabamos gerando mais resíduos para o planeta”, afirma.
O plano é de um viveiro com capacidade para 10 mil mudas e aberto para visitações. Além de armazenar e compartilhar espécies, Andrea ressalta que o espaço deve promover uma combinação de troca de conhecimentos e a valorização da afetividade com a natureza.
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"É muito importante que as pessoas ampliem as suas sensibilidades em relação às árvores. Sempre costumamos dizer que as pessoas geralmente reconhecem os nomes de todos os carros que estão nas ruas, mas, de repente, elas não sabem a árvore que tem no seu quintal, no quintal da sua avó. Então pretendemos desenvolver não só a afetividade, mas também o conhecimento sobre o que são as árvores, o porquê que são importantes, entendendo que precisamos da floresta para a nossa sobrevivência”, ressalta.
O De Volta Para a Floresta é realizado pelo Instituto ÇaraKura e está com campanha de financiamento aberta. De acordo com a organização, o projeto propõe ainda geração de renda nas comunidades e parceria com comunidades tradicionais na coleta de sementes. Uma etapa futura do projeto prevê a construção de uma casa de sementes para acondicionar e trocar espécies com as comunidades.
Edição: Camila Salmazio