IDEOLOGIA X SAÚDE

Politização da vacina desinforma e prejudica o combate ao coronavírus

Por disputa política, Bolsonaro proibiu a inclusão da vacina no calendário nacional de imunização

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Teimosia, birra ou estratégia política? Bolsonaro, que na foto aparece ao lado do ministro da Saúde Eduardo Pazuello, diz que toda e qualquer vacina está descartada. - Evaristo Sa/AFP
É absurdo pensar que esse cargo sirva para promover irresponsabilidade com a saúde do nosso povo.

As declarações e decisões do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), a respeito da possibilidade de compra de doses da vacina chinesa Coronavac causam desinformação e podem prejudicar o andamento de uma futura campanha de imunização. A percepção é do médico de família, Aristóteles Cardona, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, em conversa para o podcast A covid-19 na semana.

"A desinformação gerada a partir dessa disputa é o pior de tudo, em um momento em que a gente ainda sofre com a pandemia", afirma ele.

Aristóteles se refere a uma briga política que têm como objetivo principal enfraquecer adversários. A CoronaVac é desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac que no Brasil, tem parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo.

A vacina é uma carta na manga política para João Doria, governador tucano do estado, que disputa protagonismo com Bolsonaro. Há algumas semanas, membros da gestão estadual vinham declarando que não havia mobilização do governo federal para disponibilizar a vacina para toda a população brasileira.

Após reunião com governadores, na terça-feira (20), o Ministério da Saúde assinou protocolo de intenções para adquirir 46 milhões de doses do imunizante. Um dia depois, na quarta-feira (21), Bolsonaro desautorização a decisão. A reação do presidente foi uma resposta a questionamentos da militância bolsonarista na internet.

Um dos comentários que levou Bolsonaro a decidir cancelar a intenção de compra foi feito por um rapaz que diz ser adolescente. O internauta se referiu a China como uma ditadura e disse que o país asiático iria interferir no futuro dele por meio da vacina. O suposto adolescente não explicou de que maneira isso aconteceria. Outra mensagem, que também ganhou atenção do presidente, chamava o ministro da Saúde Eduardo Pazuello de traidor. 

::Bolsonaro polemiza e atrasa debate sobre a imunização contra o coronavírus no Brasil::

Em reposta, Bolsonaro foi enfático, disse que a vacina não seria comprada e que não abriria mão de sua "autoridade". Ele concordou com o comentário de que Pazuello o traiu. O presidente disse também que não há países interessados na compra da vacina chinesa e que o brasileiro não seria cobaia. Vale ressaltar que o próprio governo federal está alinhado a uma iniciativa britânica também ainda em testes, que conta com voluntários do país. 

"Não estamos falando de um deputado do chamado baixo clero, como ele foi por tanto tempo. No momento em que ele ocupa o cargo de presidência da república, é absurdo pensar que esse cargo sirva para promover desinforamção e irresponsabilidade com a saúde do nosso povo", ressalta Aristóteles Cardona. 

Após ser desautorizado, o Ministério da Saúde voltou atrás e negou que a vacina seria comprada: "não houve qualquer compromisso com o governo do estado de São Paulo ou seu governador no sentido de aquisição de vacinas contra covid-19", disse o secretário-executivo da pasta, Elcio Franco.

O ministério ainda tirou de sua página na internet a informação de que seria disponibilizado crédito orçamentário de R$ 2,6 bilhões para compra do insumo.

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A  crise também trouxe preocupações com a chegada de uma vacina ao país. Na quinta-feira (23), o diretor-geral do Instituto Butantan, Dimas Covas, declarou que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estava atrasando a autorização para a importação da matéria-prima que possibilitará a fabricação da vacina chinesa Coronavac no Brasil. No dia seguinte a agência liberou parte da demanda: a compra de seis milhões de doses.

Também na quinta, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, deu uma demonstração pública de submissão a Bolsonaro. Ele pôs panos quentes na crise com o presidente e negou que haja atrito entre os dois. "Senhores, é simples assim. Um manda e o outro obedece, mas a gente tem um carinho", disse o general. "Opa, está pintando um clima aqui",  respondeu Bolsonaro, tentando ser engraçado.

Edição: Rodrigo Chagas