A atitude de Bolsonaro coloca em risco toda a possível estratégia vacinal do nosso país
Bolsonaro pratica xenofobia ideológica, comete um crime de responsabilidade - e merece um impeachment por isso - por afirmar que não adquirirá a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantã, por ela ter sido originalmente desenvolvida na China.
A postura do presidente coloca em risco a vida de milhões de brasileiros e atrasa a nossa recuperação econômica. Porque um país deter um conjunto de alternativas de vacina para pensar a sua estratégia vacinal de proteção, será decisivo também para a sua recuperação econômica mais rápida.
Bolsonaro coloca em risco não só as vidas, mas a possibilidade de investidores, de empresários, de trabalhadores poderem planejar a sua reestruturação econômica; e coloca também em risco as nossas relações comerciais e políticas com a própria China.
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Bolsonaro joga o Brasil em um buraco, em um penhasco extremamente fundo, do qual, infelizmente, o povo brasileiro pode nunca mais sair enquanto ele estiver na Presidência da República. Assim como são irrecuperáveis as vidas e o meio ambiente destruído durante o governo Bolsonaro.
A atitude de Bolsonaro é criminosa, primeiro porque ele, ao anunciar isso, na prática, paralisa todo o esforço que vinha sendo feito por técnicos da Anvisa na avaliação da eficácia dos testes da vacina - pela parceria da empresa pública chinesa com o Instituto Butantã - no sentido de planejar a produção e o envio de doses para o Brasil, que passa a ter dúvida se a empresa pública chinesa vale a pena separar um volume de doses para o Brasil ou se tem que destina-los para outros países.
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Paralisa a ação e a atitude de vários dos técnicos do Instituto Butantã e paralisa também as equipes do Ministério da Saúde; não só na análise técnica da vacina, mas no planejamento da logística da campanha de vacinação, definição de segmentos, de setores a serem vacinados.
Mas a atitude de Bolsonaro também é criminosa porque ele mente, afirmando que não pode antecipar recursos para uma vacina que nós não temos eficácia comprovada ainda.
Mas ele, Bolsonaro, antecipou recursos para o desenvolvimento da vacina feita pela Fiocruz, por Oxford, de forma correta inclusive, como também antecipou recursos para o Brasil assinar a participação no consórcio internacional de vacina liderado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de forma correta também.
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Os dois casos também foram recursos bilionários. R$1 bilhão para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e quase R$ 2 bilhões para o Consórcio Internacional de Vacinas da OMS, sem termos ainda a eficácia dessas vacinas comprovadas: a mesma situação do Instituto Butantã.
Bolsonaro deve antecipar estes recursos porque eles são fundamentais para o desenvolvimento e para fazer com que o Brasil seja um país prioritário a receber essas vacinas.
A atitude de Bolsonaro coloca em risco toda a possível estratégia vacinal do nosso país a partir do ano que vêm caso essas vacinas sejam eficazes. Também dá uma mensagem errada e absurda para a Anvisa que exige de todos nós que acompanhemos dia a dia a atuação da Anvisa para que essa estrutura técnica da Agência do Estado brasileiro que é a Anvisa, reconhecida internacionalmente, não seja usada politicamente para atrasar os prazos de avaliação da vacina do Instituto Butantã.
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Entramos, inclusive, no TCU e no MP exatamente para acompanhar os passos da Anvisa. E é bom que os diretores da Anvisa saibam que se tivermos resultados eficazes da vacina do Instituto Butantã e uma lentidão por parte da Anvisa, para o registro dessa vacina, eles poderão responder por improbidade administrativa e, eventualmente, até serem levados ao impeachment dos diretores da agência, caso isso aconteça.
Além disso, Bolsonaro não prepara o Brasil para um passo fundamental que é não permitir o monopólio da comercialização e da distribuição das vacinas da empresa que venha registrar este produto no Brasil.
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Para isso temos o Projeto de Lei (PL) 1462, que garante vacina para todos e que impede que a empresa que venha registrar a vacina seja detentora do monopólio da distribuição e da produção.
O projeto autoriza que qualquer laboratório público e qualquer laboratório privado poderia participar dessa produção e com isso garantir um volume suficiente a preço justo para que a vacinação aconteça para todos.
Edição: Douglas Matos