Com visitas previstas para cidades do Maranhão no dia 29 de outubro, Jair Bolsonaro (sem partido) continua em rota de colisão com o governador Flávio Dino (PCdoB), de quem é inimigo declarado. Declarações recentes do presidente resultaram em um processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por parte do mandatário maranhense, que Bolsonaro acusa de ter se negado a garantir sua segurança no estado.
No Maranhão, Bolsonaro perdeu no segundo turno das eleições de 2018 em 214 dos 217 municípios, e prometeu visitar justamente os únicos três municípios em que venceu a disputa – Açailândia, Imperatriz e em São Pedro dos Crentes, cidade de maioria evangélica –, além da capital São Luís.
As informações sobre a visita não constam na comunicação oficial do presidente e foram divulgadas pelo senador Roberto Rocha (PSDB), que organiza a expedição.
O tucano, principal aliado de Bolsonaro no estado, havia anunciado inicialmente dois dias de agenda – 29 e 30 –, mas voltou atrás e agora diz que os compromissos do presidente serão somente no dia 29, em São Luís e Imperatriz.
Campanha antecipada
O cientista político Wagner Cabral explica que a sequência de viagens de Bolsonaro ao Nordeste fazem parte de uma estratégia de campanha antecipada, aproveitando a popularidade do auxílio emergencial que seu governo nunca defendeu.
“A agenda dele no contexto da pandemia era se tornar um ditador, agora ele quer ser um presidente reeleito. E para isso, contando exatamente com a questão do auxílio emergencial, ele começou a viajar cada vez mais para o Nordeste. Aqui no Maranhão, não é diferente", argumenta
"Manter ativada a 'guerra', no caso em específico contra o governo comunista de Flávio Dino faz parte dessa estratégia de manter sua base mobilizada permanentemente através de 'factoides'."
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Disputa com Dino
Os ânimos da disputa entre o governador e presidente são acirrados especialmente desde a criação do Consórcio Nordeste – bloco que reúne os nove estados da região em defesa de políticas administrativas próprias – que ocorreu dois meses após declaração do presidente: “não sou o presidente deles”.
A cerimônia de fundação do Consórcio entre os nove estados da região foi realizada exatamente no Palácio dos Leões, sede administrativa do governo do Maranhão.
Foi após a criação do bloco que, durante entrevista com a imprensa internacional, Bolsonaro disse a Onyx Lorenzoni, então ministro-chefe da Casa Civil, que "daqueles governadores de 'paraíba', o pior é o do Maranhão” – Flávio Dino –, e que seu governo “tem que ter nada com esse cara".
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Desde então, as investidas se tornam manchetes constantes. Um dos factoides mais recentes foi dito em entrevista pública à rádio Joven Pan, na qual o presidente alegou ter cancelado uma visita a Balsas (MA) – cidade do aliado Roberto Rocha – porque o governador não teria permitido que a Polícia Militar fizesse parte da sua segurança.
Em resposta, Dino classificou a afirmação como “mentira”, emitiu notas oficiais e foi ao STF.
Por que ingressei com ação judicial no Supremo contra Bolsonaro ?
— Flávio Dino 🇧🇷 (@FlavioDino) October 23, 2020
1. Considero ser muito grave o presidente da República MENTIR para acirrar ódios na Nação;
2. Como vítima de uma agressão, tenho o DEVER de defender a mim e à minha equipe;
3. Tenho honra a zelar.
Na tarde desta terça-feira (27), o governador Flávio Dino respondeu a mais uma investida de Bolsonaro, que segundo o site Poder 360, teria dito em frente ao Palácio do Alvorada para apoiadores: "Tem que tirar o PCdoB de lá, pelo amor de Deus. Só aqui no Brasil mesmo comunista falando que é democrático".
Se Bolsonaro quer me tirar do governo do Maranhão, um bom caminho é lançar um bolsonarista assumido na eleição de 2022. Em 2018, não chegaram a 10% no Maranhão. https://t.co/eUn8YqvFQ3
— Flávio Dino 🇧🇷 (@FlavioDino) October 27, 2020
A covid e a vacina chinesa
Outro possível processo do governador Flávio Dino diz respeito ao direito à vacinação. Diante do recuo do presidente à possível compra da vacina chinesa Coronavac, os governadores do Consórcio Nordeste avaliam financiar e distribuir a vacina nos estados.
“Temos o único presidente do planeta que acha mais ‘barato’ tentar tratar uma doença do que evitá-la. Não seria melhor deixar esse tema com os cientistas e profissionais de saúde?”, rebateu Dino nas redes sociais.
Para Wagner Cabral, a atuação proativa dos governadores e a liderança de Flávio Dino o colocam em rota de coalizão com o governo Bolsonaro, que tenta reforçar uma postura de negação à pandemia.
“[Dino] foi um dos governadores que juntamente com Doria, em São Paulo, assumiu uma atitude altamente proativa no combate ao coronavírus, decretando lockdown, trabalhando sustentado em evidências científicas, trabalhando ativamente para garantir hospitais de campanha no estado. Isso desde o começo colocou Flávio Dino, da mesma forma que outros governadores, em rota de coalizão com o governo Bolsonaro”, analisa o cientista político.
Linha de governo
Na contramão do desmonte do governo federal às políticas públicas de combate à desigualdade, o estado do Maranhão tem registrado evolução nos índices sociais com programas e iniciativas estaduais, especialmente na área da educação, ocupando o 6º lugar entre os dez estados que mais avançaram nos índices educacionais.
É também na educação que chama atenção pela valorização profissional com o pagamento do maior piso salarial do país. No estado, o governador optou por destinar 100% das verbas do Fundeb à folha de pagamento. Em fevereiro de 2020 o vencimento base mínimo aos professores com carga horária de 40h semanais, acrescido da Gratificação de Atividade do Magistério (GAM), passou para R$ 6.358,96.
Desde 2018, Flávio Dino consta na lista dos três melhores governadores do Brasil, segundo o Painel do Poder, do site Congresso em Foco, com base na opinião de líderes da Câmara e do Senado.
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Edição: Rodrigo Chagas