Dando seguimento às entrevistas com dirigentes dos partidos do campo progressista em Pernambuco, o Brasil de Fato entrevistou o presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), o deputado estadual Doriel Barros.
Agricultor familiar do município de Águas Belas, no agreste pernambucano, Doriel iniciou sua vida política na associação comunitária do sítio em que vivia, passando a atuar em seguida junto ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Águas Belas. Em 2002, assumiu cargo de diretor na Federação dos Trabalhadores da Agricultura no Estado de Pernambuco (FETAPE), da qual foi presidente de 2010 a 2018. Foi o quarto deputado estadual mais votado em 2018, com apoio dos sindicatos rurais e movimentos do campo, como o MST.
Na entrevista, Doriel menciona diversas vezes a disputa presidencial de 2022, apontando que as disputais locais e a construção de alianças deve ter como centralidade o projeto nacional do partido. Ele lamenta o crescimento da popularidade de Bolsonaro (sem partido) no Nordeste, algo que ele atribui a uma falta de compreensão por parte da população sobre o papel do Congresso Nacional.
O deputado e presidente do PT diz que é natural que haja uma diversidade de candidaturas de esquerda, o que ele considera que pode ajudar no debate, mas destaca que o partido tem a missão de estreitar relações com o PSB, o PCdoB e o PDT visando a construção nacional daqui a dois anos.
::Presidente do PSOL pernambucano: no estado, PSB tem atuação oligárquica::
Brasil de Fato: Como você avalia a importância da eleição municipal deste ano diante do contexto político do país?
Doriel Barros: Estas eleições são uma oportunidade para fazermos uma correção dos rumos da política do nosso país, hoje liderado por Bolsonaro, que com suas posturas e suas propostas tem colocado o Brasil numa situação bastante difícil perante o mundo. Bolsonaro tem retirado direitos da classe trabalhadora e, num momento de pandemia como este, não há por parte do Governo Federal nenhuma preocupação. A eleição ocorre num momento difícil para o país, mas esperamos que a sociedade tenha a consciência necessária para que possamos eleger vereadores, vereadoras, prefeitos e prefeitas que tenham compromisso com um outro projeto de Brasil.
Por mais que o presidente venha disseminando ódio e preconceitos, temos uma elite que bate palmas para isso tudo. Então a classe trabalhadora e os partidos de esquerda têm um papel importante a desempenhar nessas eleições. O PT tem buscado cumprir o seu papel de mobilização, apresentando nomes para a disputa e buscando fazer o debate sobre os riscos que o país está vivendo, tanto na economia, como em políticas sociais. A eleição é uma oportunidade para corrigir isso e, em 2022, colocarmos na presidência alguém que tenha de fato compromisso com a maioria do povo brasileiro.
Havia uma expectativa de que os partidos de esquerda se unificassem nesta eleição, mas com raras exceções isso não aconteceu. O que você acha que dificulta a unidade entre esses partidos no momento da disputa eleitoral?
Esse momento de eleição é também um momento em que os partidos de esquerda podem se colocar como alternativas para enfrentar esse discurso de que a política é algo ruim. Nós da esquerda colocamos que a política é um caminho que temos para melhorar a vida das pessoas. E às vezes avaliamos que é necessário ter mais candidaturas para fazer o máximo de debate com a sociedade, apesar de sabermos que a unidade das forças de esquerda poderia trazer resultados mais fortes em cidades em que corremos risco de perder para a direita.
Acredito que nos municípios que têm 2º turno teremos possibilidade de estarmos juntos. E que em 2022 possamos reunir os partidos todos do campo da esquerda para tentarmos derrotar o bolsonarismo, que é muito forte e tem avançado no Nordeste, especialmente por uma falta de compreensão por parte do povo em relação a criação do auxílio emergencial, que foi criado pelo Congresso. Mas o povo ainda não tem uma leitura formada sobre o papel do Congresso Nacional e isso acaba gerando uma incompreensão e beneficiando Bolsonaro. Mas acredito que estamos construindo um caminho para retomar o Brasil.
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Você tem percorrido o estado, acompanhando as candidaturas do PT e as apoiadas pelo PT. Sabemos que o PSB é o partido hegemônico no estado, tendo sozinho mais de 30% das prefeituras. Levando em consideração também o PT, o PDT e o PCdoB, a esquerda conseguirá avançar ou tende a perder cidades para o bolsonarismo?
O PSB deve manter um grande número de cidades. Nós do PT estamos trabalhando bastante para avançarmos. Temos quase mil candidatos e candidatas a vereadoras, 32 candidatos e candidatas a prefeituras, mais de 20 candidaturas a vice. Esperamos que o PT avance tanto na majoritária como nas proporcionais. Acho que conseguiremos manter uma força importante no estado em contraponto ao bolsonarismo. Temos municípios importantes em que Bolsonaro deve manter a prefeitura, como Petrolina.
Lá o PT está na disputa, mas há uma grande vantagem do candidato bolsonarista [Miguel Coelho, do MDB, filho do senador e líder de Bolsonaro no Senado, Fernando Bezerra Coelho (Golpista)], até porque Petrolina tem sido o caminho de entrada de todos os recursos federais aqui na região. O município quase não usou recursos próprios, fez tudo com recursos federais. Bolsonaro tem investido forte no Sertão e na Região Metropolitana. Mas acredito que sairemos fortes dessa eleição. Pernambuco vai continuar à esquerda, diferente de outros estados, em que podemos acabar perdendo força na resistência ao bolsonarismo.
Quais os partidos com quem o PT tem dado prioridade na construção de alianças no estado?
O PSB é um dos partidos com quem o PT tem mais alianças no estado, apesar de na capital estarmos com candidatura própria. Em muitos estamos apoiando o PSB, noutros eles estão nos apoiando. E também o PCdoB e o PDT são prioritários para alianças, por orientação nacional. Procuramos construir com eles esse alinhamento. Também há partidos de centro com quem temos algumas alianças, mas na maioria construímos projetos com a esquerda.
O PT hoje tem menos de 10 dos 184 municípios e está disputando este ano mais de 50 municípios, com candidaturas a prefeito e vice. Que municípios têm chamado mais sua atenção?
O PT hoje tem sete prefeituras. Destaco Serra Talhada, maior cidade governada pelo PT no estado, em que temos duas gestões de Luciano Duque (PT) e temos possibilidades reais de manter. Temos Águas Belas, Tacaimbó, Granito, Orocó... essas são do PT. Destaco duas possibilidades reais de conquistas: na zona da mata temos a companheira Manuela Mattos (PT), em Itambé, que seria uma boa surpresa; e também Belém do São Francisco, com Professor Evanilson (PT), um cara que tem chegado com muita força.
Bom Conselho também e outras cidades do Sertão. Também estamos com disputas interessantes em Garanhuns, em que temos um candidato a vice numa aliança com o PSB; aqui na metropolitana temos chance em Ipojuca, onde temos a vice de Carlos Santana (PSB). São cidades importantes em que temos possibilidades de vitórias nesses municípios.
O que você acredita ser o principal desafio do PT aqui em Pernambuco para esse próximo ciclo?
Buscar ampliar sua base junto aos movimentos sociais e sindicatos. Essa direção que assumiu o PT este ano tem esse compromisso, mas a pandemia nos atrapalhou muito, não conseguimos colocar em prática a proposta elaborada. Queremos que o PT ganhe mais força junto a suas bases. E claro temos que seguir animando a nossa base para elegermos um novo presidente para o país, que esperamos que seja Lula.
Neste sentido precisamos construir relações com os partidos de esquerda aqui em Pernambuco, com o PSB, PDT, PCdoB. Precisamos nos unificar aqui no estado para estarmos juntos em 2022. O Partido dos Trabalhadores tem esse papel de construir o diálogo localmente com esses partidos que serão fundamentais para apresentarmos o nosso projeto ao povo brasileiro em 2022.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga