Com uma vacina eficaz contra estupidez, reduziríamos de imediato o índice de contaminações e mortes
Voltamos 100 anos no tempo e reabriu-se um debate no Brasil sobre as vacinas. Bolsonaro, um entusiasta desse tipo de perda de tempo e de vidas, ora não quer saber da vacina, ora entende que seria melhor investir não na precaução mas na cura da covid-19, ora receita de novo a cloroquina.
Seu general da saúde avisa que vai comprar o imunizante do laboratório Sinovac, da China, para o presidente replicar, horas depois, que não comprará coisíssima nenhuma, que não pensa gastar um centavo “na vacina chinesa do João Dória”.
Bolsonaristas terminais vão além. Dizem que os chineses introduziram RNA replicável e digitalizável nas suas vacinas e que irão administrar a humanidade através de antenas 5G.
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Outros suspeitam da inoculação, sabe-se lá como, de um chip na vacina que nos fará virar autômatos monitorados à distância por controles remotos manipulados por mentes sinistras. Parece um roteiro ruim de filme B de ficção científica dos anos 1950. Mas não só falam como espalham essa potoca.
Qualquer pessoa, de qualquer lugar, que passar 24 horas no Brasil verá que estamos muito necessitados mesmo de uma vacina. Além da imunização contra o ataque do coronavírus -- que já matou quase 160 mil pessoas no país -- precisamos muito mais de uma vacina contra a burrice. Com o apoio das redes, seu vírus se dissemina com velocidade espantosa e contamina milhões instantaneamente.
Para começo de conversa, com uma vacina eficaz contra a estupidez, reduziríamos de imediato o índice de contaminações e mortes. Usaríamos máscaras sempre e não nos amontoaríamos em praias, ruas, bailes, bares e festas. Não morreríamos nem carregaríamos a morte para um amigo, vizinho, irmão. Azar do corona.
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Imunizadas contra a asneira, as hordas antivacinas retomariam a sanidade mental. Seus integrantes perceberiam que, sem as vacinas, seus pais teriam sido vencidos pelo sarampo, a varíola, a pólio, muito antes de conseguirem gerá-los.
Uma dose bastaria para eliminar de muitas cabecinhas a ideia de que a Terra é plana, fantasia que começou a cair no ridículo a partir do século 300 antes de Cristo.
Talvez fosse preciso mais de uma dose para remover de alguns cérebros a presença da mamadeira de piroca, do kit gay, dos milhões da conta do Queiroz como resultado da venda de carros usados, do filho do Lula como o cara mais rico do Brasil, do nazismo como ideologia de esquerda, de Leonardo Di Caprio como financiador da destruição da floresta brasileira e de ecologistas botando fogo no Pantanal.
Mas a vacina contra a burrice não conseguiria imunizar todo o mundo. Algumas pessoas da Esplanada dos Ministérios provavelmente não se beneficiariam dado seu estado avançado de cretinice.
O chanceler que, à boca pequena no Itamaraty, é chamado de “Ernesto, o Idiota”, o astronauta propagandista de vermífugo, a ministra e seu boi bombeiro, Ônix, a pedra semipreciosa que julga ser um liquidificador tão perigoso quanto um fuzil, os filhos Zero1, Zero2 e Zero3, e, claro, o estadista que chama a covid-19 de gripezinha, diz que a Amazônia não pega fogo e que água de coco pode ser usada em vez de sangue na transfusão.
São casos perdidos. Terão que esperar a cura da burrice. Mas e se ela vier da China?
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Leandro Melito