O presidente Jair Bolsonaro experimentou a pior repercussão a um ato de seu governo, após a publicação do Decreto 10.530, que abria caminho para que empresas privadas a administrarem Unidades Básicas de Saúde. A ideia foi tão mal recebida, que Bolsonaro teve que voltar atrás. Segundo informações publicadas pelo jornal O Globo, com dados da consultoria Arquimedes, mais de 98% das menções ao assunto foram negativas.
O movimento de reação veio de entidades, movimentos de defesa da saúde pública e parlamentares, mas não ficou por aí. A hashtag #DefendaoSUS apareceu em posts de influenciadores, artistas e personalidades. Na lista dos que se juntaram ao coro em defesa do Sistema Único de Saúde estão a atriz Taís Araújo, o rapper Emicida, a cantora Anitta e o humorista Gregório Duvivier.
Em transmissão ao vivo no Instagram do Brasil de Fato, o médico Reinaldo Gaspar da Mota, integrante da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares e professor na UFMT, afirmou que as reações foram uma exemplo de que a população brasileira não está omissa a qualquer intenção de desmonte do SUS.
"Isso que ele está fazendo vai ficar para a história como um dos piores absurdos do pior governo que o país já teve. E é claro que o povo está prestando atenção."
Trinta anos: SUS resiste a desafios estruturais, desmonte do governo e pandemia
O povo está percebendo que é necessário a dar um basta
Durante a conversa, Reinaldo ressaltou que o fato de o decreto abrir caminho para a privatização começando justamente pelas Unidades Básicas de Saúde, mostra a falta de compromisso com a população mais vulnerável.
"Obviamente isso tem consequências graves se nós não estivermos atentos e não buscarmos as respostas adequadas. A resposta está vindo aí seja no campo político, no campo sindical, dentro das universidades. O povo está percebendo que é necessário a gente dar um basta."
Bolsonaro revogou o decreto horas depois da publicação, diante da péssima repercussão que o texto gerou. Sem participação do Ministério da Saúde, a determinação tinha assinatura apenas do próprio presidente e do ministro da Economia, Paulo Guedes.
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O especialista avalia que há uma tentativa de testar os limites do que a sociedade vai aceitar por parte do governo. "Isso é uma tática de guerra, como se tudo fosse guerra e o povo brasileiro quer é paz."
Segundo ele, a tentativa de fazer valer o texto justamente em um momento de pandemia, exige que a população se mantenha atenta. "Isso pode voltar", alerta.
Vem um presidente, que deveria estar cuidando da saúde, desmontar a saúde?
"A gente precisa colocar o pé no chão. Não só o nosso voto é importante, mas a nossa participação, nossa voz, o nosso diálogo. Para entender que existem interesses por parte do capital e que é momento de fazer a virada."
O professor finaliza, "Essa virada vem em um momento de ameaça. O povo brasileiro está em um momento de vulnerabilidade, mais de 158 mil mortos, dentro de uma pandemia que está nos arrasando e que nos deixa bastante inseguros. Vem um presidente, que deveria estar cuidando da saúde, desmontar a saúde? Isso é um absurdo!"
Números da covid no Brasil
Segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), até esta quirta-feira (29), 158.969 pessoas morreram por causa da covid-19 no Brasil. Foram confirmados 513 óbitos em um dia. O total de contaminados é de 5.494.376 e somente nas últimas 24 horas houve registro de 26.106 novos pacientes.
O que é o novo coronavírus?
Trata-se de uma extensa família de vírus causadores de doenças tanto em animais como em humanos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em humanos os vários tipos de vírus podem provocar infecções respiratórias que vão de resfriados comuns, como a síndrome respiratório do Oriente Médio (MERS), a crises mais graves, como a Síndrome Respiratória Aguda severa (SRAS). O coronavírus descoberto mais recentemente causa a doença covid-19.
Como ajudar quem precisa?
A campanha “Vamos precisar de todo mundo” é uma ação de solidariedade articulada pela Frente Brasil Popular e pela Frente Povo Sem Medo. A plataforma foi criada para ajudar pessoas impactadas pela pandemia da covid-19. De acordo com os organizadores, o objetivo é dar visibilidade e fortalecer as iniciativas populares de cooperação.
Edição: Rodrigo Chagas
Edição: Rodrigo Chagas