Mais afetados

Austeridade e falta de políticas acentuam desemprego para jovens, afirma economista

Percentual de pessoas entre 18 a 24 anos desempregadas é 16,4 pontos maior em relação ao da população geral no Brasil

São Paulo | Brasil de Fato |
Novo estudo da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) foi divulgada na sexta-feira (30). - Rovena Rosa/Agência Brasil

Em meio à pandemia do coronavírus, a taxa de desemprego entre jovens de 18 a 24 anos é 16,4 pontos percentuais maior em relação ao percentual da população desempregada geral. É o que mostra a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) divulgada na sexta-feira (30). 

Para Juliane Furno, doutora em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a situação tem se agravado pela falta de políticas públicas para a juventude nos últimos anos e por conta das políticas de austeridade econômica adotadas pelo governo federal, que causaram desvalorização no salário mínimo dos trabalhadores. 

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“Efetivamente os principais empregos perdidos com a redução das atividades econômicas em função do isolamento social da pandemia da covid-19 são justamente aqueles de baixa remuneração, baixa qualificação profissional, e, em sua maioria informais – trabalhos que geralmente são ocupados por jovens por conta da menor experiência de vida e no mercado”, explica  a especialista. 

De acordo com o levantamento, no 2º trimestre de 2020, a taxa de desemprego entre pessoas de 18 a 24 anos chegou a 29,7%, enquanto a da população no geral é de 13,3% para o período. Ainda segundo o levantamento, o número de desempregados foi de 13,794 milhões, atingindo marca de 14,4% no trimestre, encerrado em agosto – recorde na série histórica do IBGE, iniciada em 2012. 

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“Nos governos Lula e Dilma, até 2015, o desemprego da juventude caiu significativamente porque aqueles que estavam procurando foram absorvidos pelas vagas criadas com mais formalização e dinamismo do mercado de trabalho, mas também parte desses jovens parou de procurar emprego. Então, quando a gente fala de políticas públicas para a juventude, a gente fala em criar condições para mercado de trabalho absorver jovens, mas também criar políticas públicas que permitam a esses jovens dedicarem mais tempo aos estudos”, afirma Furno.

“A partir de  2015, com a crise e a consequente política de austeridade, aquelas famílias que tinham emprego e contavam com a valorização do salário mínimo, passaram a ter um membro familiar desempregado, então, aquele jovem precisou voltar a procurar trabalho para complementar a renda da família. O aumento do desemprego se deve a uma procura de trabalho pelos jovens, além da efetiva dispensa ou do fato de não encontrarem emprego”, complementa a especialista. 

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Perspectivas 

Segundo a especialista, as perspectivas para a juventude e para os trabalhadores desempregados não são boas. “À medida em que o governo federal não apresentou nenhum conjunto de propostas específicas para a juventude, a não ser a proposta de trabalho que suprime direitos, que é a Carteira de Trabalho Verde e a Amarela, que atinge principalmente os jovens, e que as políticas públicas do Estado para a juventude estão bastante desmobilizadas, o quadro de inatividade dos jovens se agrava. Assim, mais jovens vão continuar ou vão se somar aos adultos na procura por vagas de trabalho, pressionando a taxa de desempregados, reduzindo os salários propostos por conta da demanda e procura”. 

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“É urgente que o governo pense políticas públicas de emprego, principalmente de empregos menos qualificados, que absorvam jovens como frentes de trabalho e outras políticas, mas também pense um conjunto de políticas como bolsas para estudantes de escola pública que possibilitem que esses jovens se dediquem aos estudos e possam se qualificar mais profissionalmente”, finaliza. 

Dados negativos

A PNAD trouxe, ainda, outros resultados negativos. O número de pessoas ocupadas, de 81,666 milhões, é o menor da série, apresentando queda de 5% no trimestre e 12,8% em 12 meses. Além disso, houve uma queda de 6,5% no número de empregados com carteira assinada em relação ao trimestre anterior, passando para 29,067 milhões. Houve queda também de 5% no número de trabalhadores sem carteira assinada, indo para 8,755 milhões. 
 

Edição: Lucas Weber