Uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), constatou que cerca de 96 milhões de brasileiros com mais de 18 anos estão acima do peso. O resultado faz referência ao período de agosto de 2019 a março deste ano.
Desse total, 62,6% eram mulheres e 57,5% homens. A especialista em Nutrição Clínica e Saúde Coletiva, Juciany Medeiros Araújo trabalha no Núcleo de Apoio à Saúde da Família de Pernambuco diz que o modo de vida das pessoas, somado ao aumento de comidas industrializadas, é um dos fatores que contribuiu para esse resultado.
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"Infelizmente as pessoas associam a questão da obesidade a uma pessoa não saudável, mas isso não é tão simples assim. Estar saudável é ter uma alimentação balanceada, uma prática regular de exercícios, controle adequado de limites de estresse e a não aquisição de vícios como tabagismo, por exemplo", diz ela.
Infelizmente as pessoas associam a questão da obesidade a uma pessoa não saudável. Isso não é tão simples. Temos casos de indivíduos magros que não podem ser considerados pessoas saudáveis
Confira abaixo a entrevista com a especialista, que também é doutoranda em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial.
Brasil de Fato: Qual é a tua avaliação quanto ao resultado da pesquisa? Estamos comendo mais ou estamos comendo errado?
Juciany Medeiros: Essa pesquisa provoca uma ótima reflexão, porque estamos observando essa questão do peso das pessoas estarem aumentando.
Geralmente, o peso de uma pessoa está relacionado com o modo e o estilo de vida dessa pessoa, porque o estilo de vida se reflete nos hábitos alimentares. Isso, sem dúvida, tem mudado nosso estilo de vida desde a saída de casa, porque as opções alimentares mudam quando você permanece mais tempo em casa ou mais tempo fora de casa.
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Se você tem mais tempo disponível, você para e se alimenta. Agora se você não tem muito tempo, como o que é possível.
Outro ponto é que o que você come também está relacionado com crise de ansiedade e o nível psicológico das pessoas.
Agora a questão de comer errado também vem muito pela questão do hábito alimentar dessas pessoas, mas também do poder aquisitivo que elas têm. Então, a avaliação que a gente faz é também de que esse alimento que está mais acessível a essa população será o que ela vai consumir.
Qual é a contribuição da pandemia para o aumento de sobrepeso das pessoas?
A pandemia pode, justamente, ser um fator que contribui para o sedentarismo. Com o isolamento social muitas pessoas acabaram interrompendo sua rotina de atividades físicas ou até mesmo da vida mais ativa que levavam no dia a dia.
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Além disso, o estresse gerado pela pandemia, a incerteza com a questão do emprego, a mudança da forma de trabalhar para alguns, como o trabalho remoto, tudo isso levou parte dessa população a descuidar da alimentação seja por ansiedade ou pelo conforto proporcionado por alguns pratos ricos em carboidratos e pelos fast foods, entregues em casa.
Ser obeso é necessariamente não está saudável?
Infelizmente as pessoas associam a questão da obesidade a uma pessoa não saudável. Isso não é tão simples. Temos casos de indivíduos magros que não podem ser considerados pessoas saudáveis, assim como temos casos de pessoas acima do peso que também não são.
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Os cuidados com uma alimentação balanceada, a prática regular de exercícios, o controle adequado de limites de estresse e a luta diária para não adquirir vícios como o tabagismo, por exemplo, devem fazer parte da rotina não só de uma pessoa obesa, mas também de uma pessoa magra.
Nos é vendido que ser saudável é ser magro. Qual é, de fato, o o equilíbrio para uma vida saudável?
Vivemos em um mundo que esbanja essa imagem de saúde da pessoa magra. Para ter, de fato, uma vida saudável, o ideal é ir ao médico e fazer exames para saber se você está bem.
Nesses exames de rotina são avaliadas, não somente, a questão corporal, mas também os hábitos alimentares, a condição social em que essa pessoa se encontra, a questão psicológica, entre outros.
Se alimentar com moderação, viver com equilíbrio e realizar exames são, certamente, medidas mais efetivas para nos distanciarmos desses esteriótipos, dessa pressão da sociedade. Com isso, pode se amenizar essa pressão, porque com equilíbrio psicológico, você passará a reconhecer a sua autoimagem e ficará melhor visualizado a aceitação do seu corpo.
A busca pelos alimentos livres de agrotóxicos, nesse contexto, se torna uma saída para termos um estilo de vida mais saudável?
Algumas pessoas acreditam que higienizar os alimentos com hipoclorito de sódio em água corrente é o suficiente para termos alimentos com menos agrotóxicos, e isso não é verdade. Não é possível tirar os agrotóxicos aplicados em frutas, legumes e verduras, por mais que a gente higienize esse alimento.
As pessoas que consomem alimentos industrializados acabam apresentando uma monotonia alimentar, porque vai comer sempre aquele mesmo alimento.
Já os efeitos dos agrotóxicos dependem do tipo de produto utilizado, do tipo de agrotóxico que foi utilizado no alimento. Um exemplo que temos é o pimentão, que sempre bate recorde de grande quantidade de agrotóxicos e, de fato, não sabemos os reais danos dos agrotóxicos no corpo humano, porque não se fazem estudos aplicados em substâncias tóxicas em pessoas.
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Todas as informações que temos atualmente são de estudos de laboratório realizados ou em células ou em animais. O que sabemos é que se uma pessoa for exposta – por muito tempo – a essas substância, ela pode sim apresentar alterações celulares passando a fazer parte do grupo mais propenso a determinados tipos de câncer.
A maioria dos estudos avaliou, que as pessoas que cultivam esses alimentos com agrotóxicos que são pulverizado com por exemplo glifosato, que é um tipo de agrotóxico, elas recebem uma carga de substância maior do que a carga das pessoas que se alimentam do alimento que recebeu a substância.
As pessoas que ficam em contato com esses venenos podem ter alguns linfomas e esses agrotóxicos também podem causar problemas neurológicos, dificuldades respiratórias, irritações na pele, manifestações gases intestinais, alterações do sistema reprodutor feminino, masculino, além de câncer.
Lembrando que esses resultados são de pessoas que estão em constantemente contato, como os agricultores e todos que manuseando os alimentos.
Para quem vai consumir, o que a gente indica é que apesar de ainda existir a dúvida se os agrotóxicos são, isoladamente, os responsáveis por essas doenças, o ideal é evitar alimentos com essas substâncias no seu dia a dia.
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A melhor opção são os alimentos orgânicos ou se essa pessoas não tem como se alimentar de orgânicos por não tem acesso ou condições de comprá-los, a ideia é que se dê preferência aos alimentos da época. Geralmente, os alimentos da época costumam receber uma carga menor de agrotóxicos.
As pessoas que consomem alimentos industrializados acabam apresentando uma monotonia alimentar, porque vai comer sempre aquele mesmo alimento.
Quando você consome o alimento da época você é estimulado a ir na cozinha preparar seu alimento e assim você é estimulado a buscar, entender e compreender o que é esse alimento e como ele pode ser melhor preparado.
Edição: Lucas Weber