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Dos cuidados sanitários à escolha do voto, pandemia transforma eleições no mundo todo

Surto global do coronavírus coloca a saúde como tema central nos processos eleitorais

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Tudo mudou. Limpeza de estação de votação durante plebiscito constitucional chileno - Martin Bernetti/ AFP
A gente precisa seguir atento nas eleições e depois das eleições

Seja nos cuidados para que as eleições não se tornem mais um elemento de propagação do novo coronavírus ou nos fatores levados em consideração pelos eleitores na hora de escolher em quem votar, a covid-19 mudou processos eleitorais no mundo todo.

Nesta semana, diversos estados e municípios brasileiros suspenderam atos de campanha para evitar aglomerações. Na outra ponta do continente americano, a pandemia foi o fator essencial na decisão do voto para quase 40% dos cidadãos dos EUA.

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E o coronavírus não esteve presente nos pleitos apenas desses dois países. Das eleições parlamentares no Egito ao referendo constitucional no Chile – passando por Myanmar, Uruguai, Bolívia, Venezuela, Índia, República Checa e muitos outros – todos os países que passaram por processos eleitorais este ano tiveram na pandemia seu maior desafio. 


Membros do comitê eleitoral usam roupa de proteção contra a covid nas eleições da República Checa. / Michal Cizek / AFP

Garantir que as zonas eleitorais não fossem locais de risco para a população foi o primeiro obstáculo. No Brasil, que está a poucos dias do primeiro turno das eleições municipais, não será permitido votar sem máscara. O horário de ida às urnas será ampliado para distribuir o fluxo e evitar aglomerações. As filas terão que garantir distanciamento de no mínimo um metro entre as pessoas.

Será obrigatório o fornecimento de álcool em gel em todas as seções eleitorais. Os eleitores precisarão passar pelos processos de higienização antes e depois de votar. Não será permitido consumo de alimentos e bebidas, assim como qualquer outro ato que exija a retirada do equipamento da máscara. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, as recomendações se aplicam a todos os envolvidos no pleito: eleitores, mesários e colaboradores da Justiça Eleitoral.

No plebiscito constitucional do Chile, que aconteceu em 25 de outubro, infectados não puderam votar. O governo chegou a alertar que quem violasse a determinação poderia ser detido e acusado de crime contra a saúde pública. Na Bolívia, as filas nas eleições presidenciais foram mais lentas e o processo demorou mais, por causa das medidas de prevenção à aglomerações. Já no Egito, as eleições para o senado em agosto tiveram presença de equipes médicas e do exército para garantir a segurança sanitária. 


Uso de máscara obrigatório nas eleições no Egito. / Khaled Kamel/ AFP

Em participação no podcast A Covid-19 na Semana, o médico de família Aristóteles Cardona, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, afirma que sem as medidas a chance de propagação aumenta.

"A gente tem quase 100 mil locais de votação e mais de 400 mil seções eleitorais. Quem for votar, na medida do possível não deve levar acompanhantes, se programe para evitar tirar a máscara. Vota e sai. Passe o menor tempo possível e evite os espaços com aglomeração."

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Cardona afirma ainda que a covid-19 reforçou ainda mais a preocupação da população com o tema da saúde na hora de escolher os candidatos. O médico ressalta que será positivo para o país se esse debate tiver vindo para ficar. "A saúde de fato passou a ser pauta muito forte e, mais do que isso, a defesa do SUS. Não sabemos como isso vai se refletir na efetivação da votação. Mais do que essa eleição, tão importante quanto isso, é o que vai ficar no debate público para depois."

Edição: Rodrigo Chagas