Goura Nataraj é mestre em filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), professor de yoga e sânscrito, cicloativista, deputado estadual e candidato à prefeitura de Curitiba pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT). Foi vereador de Curitiba entre 2017 e 2018, líder da oposição ao prefeito Rafael Greca (DEM) e o único vereador da cidade a ser eleito deputado. Na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), é presidente da Comissão do Meio Ambiente.
Em sabatina realizada pelo Brasil de Fato Paraná, Goura falou sobre pautas relacionadas ao desenvolvimento da cidade, como meio ambiente, moradia e serviço público. Para que a população volte a confiar na política, o candidato defende que os poderes Legislativo e Executivo abram espaços para a participação popular.
A íntegra da entrevista pode ser vista no canal do Youtube do Brasil de Fato Paraná.
Abaixo, trechos da entrevista:
Brasil de Fato Paraná: Pesquisas sobre o Índice de Confiança Social realizadas nas eleições de 2018 apontaram que a população brasileira colocou os partidos políticos como a instituição em que há mais descrença. A partir disso, gostaríamos de saber como trazer a confiança dos brasileiros para essa política atual?
Tudo o que nós fazemos tem um caráter político. Se formos analisar a etimologia da palavra “política”, ela vem de "polis", que tem a ver com cidade e envolve a nossa conduta na coletividade. Isso, portanto, tem a ver com como a gente se organiza enquanto sociedade, como a gente se relaciona, consome, se locomove, entre outras ações.
Acho que existe um movimento orquestrado para que a macro política, a política partidária, institucionalizada nos poderes Executivo e Legislativo sejam cada vez mais fechados para a população e que sempre sejam contrários à participação popular. Como vereador que fui e, agora, como deputado, eu vejo claramente isso acontecer.
Quando assumi na Câmara Municipal, nosso mandato imprimiu um ritmo totalmente diferente nas Comissões, chamando as pessoas para acompanharem, praticamente como se as reuniões fossem audiências públicas. Ou seja, isso deveria ser o normal, que é tratar democracia e participação como procedimentos diários. Eu acho que é isso que temos que fazer para reencantar a política, que é abrir as portas para participação, fazer com que estes espaços sejam mais acessíveis à população. É fazer ocupação da política.
Existe também, da parte dos políticos, certa descrença sobre a capacidade produtiva e de organização da população. Neste momento de crise, em Curitiba, temos experiências de cozinhas comunitárias acontecendo. Gostaria de saber como você vê o que chamamos de Economia Solidária e se tem propostas para o tema?
É uma qualidade inata do ser humano a capacidade criativa, de se reinventar e de dar sentido à realidade. No meu entendimento, o poder público tem que proporcionar meios pelos quais a população vai se apropriar dos espaços públicos para que as pessoas criem e deem sentido à cidade que moram.
Nós entendemos, portanto, que a Economia Solidária deve permear os 75 bairros da cidade. Propomos um grande Centro de Convivência de Economia Solidária para fortalecer as redes já existentes na cidade.
E, quando a gente fala de um urbanismo que promova a inserção social, usamos uma analogia que é de criarmos um palco das políticas públicas, através do qual as pessoas vão escolher que música querem dançar. Ou seja, cabe ao Estado dar todos os meios pelos quais os nossos bairros e comunidades de Curitiba se desenvolvam com justiça social, com respeito ao meio ambiente, com qualidade de vida e acesso aos direitos constitucionais.
Em 2020, estamos vivendo duas crises aqui em Curitiba, que é a pandemia do coronavírus e a crise hídrica. Ambas se relacionam também à questão do meio ambiente. Para você, como a gestão deveria tratar esse tema?
::Má gestão de recursos aprofundou a crise hídrica no Paraná::
Em primeiro lugar, é preciso pensar que o desenvolvimento econômico da cidade precisa estar atrelado ao desenvolvimento social, com a redução das desigualdades junto à preservação do meio ambiente. A agenda ambiental e a agenda social não são divergentes. Curitiba tem mais de 150 mil pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade e outras tantas na fila da COHAB [Companhia de Habitação Popular de Curitiba] esperando uma moradia digna. E essas pessoas acabam indo morar perto de rios e fundos de vale, aumentando ainda mais a pressão ambiental.
Quando falamos em sustentabilidade, temos que falar dos problemas sociais e interferir com políticas sociais, pois só assim teremos um meio ambiente equilibrado. Curitiba vivenciou por muito tempo um marketing baseado numa ecologia urbana e avanços urbanísticos. Mas nós, que vivemos aqui, sabemos que a realidade é outra, com muitas coisas para avançar. Por isso, propomos uma agenda de desenvolvimento econômico pautada pela agenda 20/30, que inclui objetivos para um desenvolvimento sustentável, dos quais logo o primeiro fala em erradicação da pobreza. Se a gente quer ter um futuro sustentável, possibilidades para as futuras gerações conviverem com a natureza equilibrada, precisamos primeiro resolver as desigualdades sociais.
Como você tem visto a atuação da atual gestão em relação aos servidores públicos? Nos parece que desde o início o prefeito Rafael Greca não dialoga e não negocia com esses trabalhadores...
A primeira coisa a ser feita é reestabelecer o diálogo da prefeitura de Curitiba com o funcionalismo público. Eu tenho conversado com guardas municipais, servidores da saúde, professores, assistentes sociais e a reclamação é unânime da falta de diálogo. E, para piorar, neste período eleitoral há o assédio moral por parte da gestão municipal para que servidores que ocupam cargos de chefia, por exemplo, envolvam-se obrigatoriamente na campanha de reeleição do prefeito. Isso é imoral e contradiz os princípios da gestão pública e merece todo nosso repúdio.
Meu compromisso é oferecer uma gestão baseada no respeito e muito diálogo e na responsabilidade com o serviço público. É importante registrar que o atual prefeito, em campanha, tinha um discurso que iria honrar os planos de carreiras e dialogaria. Logo que assumiu, esse discurso não se sustentou. O "pacotaço" do Greca que tramitou em regime de urgência e total falta de diálogo é a prova disso. Foi o símbolo do autoritarismo,
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lia Bianchini