Violência

Indígena morre atropelado no oeste do Paraná, motorista não prestou socorro

Assunção Benites, indígena Avá-Guarani, tinha 73 anos; comunidade pede justiça e demarcação imediata dos territórios

Francisco Beltrão (PR) |
Benites foi atropelado na rodovia PR-364, em Terra Roxa; cacique de sua aldeia acredita em atropelamento intencional - Divulgação/Cimi

O indígena Avá-Guarani Assunção Benites, de 73 anos, morreu na noite de terça-feira (10), após ser atropelado no km 12 da rodovia PR-364, que corta o município de Terra Roxa, na região oeste do Paraná. Ele pertencia à comunidade Tajy Poty, que junto a outras 15 tekohas formam a Terra Indígena (TI) Guasu Guavirá. Para o cacique Leocinio Gonçalves Ava Tupã Mirim, o atropelamento foi intencional. Ele pede justiça e a demarcação imediata dos territórios.

“O finado Assunção estava vindo da Aldeia Yvyraty Porã. Ele e uma mulher. Estava vindo na aldeia Taji Poty. Enquanto estava caminhando na beira do asfalto veio um carro preto, uma Hilux. E vieram bater nele. A mulher estava no hospital, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). E o senhor Assunção não resistiu. Chegou na aldeia já a óbito. Não é a primeira vez que aconteceu isso. Aqui em Terra Roxa, em Guaíra, já aconteceu várias vezes com jovens, com mulheres. Aqui na minha aldeia estamos passando o luto pela primeira vez”, lamentou o cacique.

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Assunção deixou 10 filhos. Seu velório foi realizado durante a noite e madrugada na comunidade. A mulher que o acompanhava chamava-se Candina, mas não é da aldeia. O cacique não soube dizer qual o estado dela.

Denúncia à PF

Nesta quinta-feira (12), o cacique disse que irá à Polícia Federal (PF) denunciar o caso, que acredita ser intencional. “Foi de propósito porque essa estrada está correta. Não tem curva, não tem nada. Nem quebra mola, nem nada. Dá para enxergar de longe”, destacou Leocinio.

Fotos feitas no local mostram as marcas da frenagem do veículo e peças de roupas de Assunção.


"E não é a primeira vez que aconteceu isso", conta o cacique Leocinio / Leocinio Gonçalves Ava Tupã Mirim

Conflitos

A comunidade, que fica no oeste do Paraná, é marcada por conflitos. A terra não é demarcada, o que aumenta a tensão com fazendeiros locais.

Neste ano, a Justiça Federal também determinou a suspensão de qualquer ato de demarcação de terras indígenas nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, além de anular o relatório de identificação e delimitação da Terra Indígena (TI) Tekoha Guasu Guavirá, que na época compreendia 14 aldeias Guarani localizadas em ambas as cidades – hoje já são 15.

Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi Sul), a decisão agrava os conflitos fundiários e coloca em risco as comunidades.

Atropelamentos

Em um relatório produzido pelo Cimi, são destacados outros casos na região. Em um deles, um agente de saúde indígena contou que estava acompanhando um paciente para o atendimento médico por uma das estradas que margeiam a Tekoha quando viram um carro acelerar em sua direção: “Vimos o carro vindo e nos jogamos, pulamos uma cerca para escapar. Isso é comum. Quando vemos um carro vindo, já ficamos atentos”, explicou o agente ao Cimi. “Isso acontece porque estamos reocupando nossos tekoha. Eles querem fazer a gente desistir da luta, desistir do nosso território”.

Outro caso ocorreu em 2019, quando um jovem indígena identificado por Fabiano Gonçales, de 17 anos, da Aldeia Tekohá Y’hovy, morreu atropelado no centro de Guaíra. Ele estava de bicicleta.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lia Bianchini