Organizações da sociedade civil internacionais se uniram na publicação de uma declaração coletiva contra o financiamento à agricultura industrial para a apropriação das terras e recursos, principalmente no sul global. Leia a declaração completa, em inglês.
A declaração é resposta à primeira reunião internacional de bancos públicos de desenvolvimento, chamada de cúpula “Finance Common”, organizada pelo governo da França e realizada entre os dias 9 de 12 de novembro. Pelo Brasil, 14 organizações assinam a declaração.
Segundo os signatários, os chamados “bancos públicos de desenvolvimento”, que vão desde o Banco Mundial até ao China Development Bank, gastam coletivamente US$ 2 trilhões por ano nos chamados projetos de desenvolvimento – estradas, centrais eléctricas, plantações, etc. O financiamento, majoritariamente, é do setor público – ou seja, os cidadãos é que pagam por isso.
::Leia mais: Bancos aumentam demissões enquanto lucram ainda mais, denuncia presidenta da Fetrafi::
Para as entidades, no entanto, os interesses são privados. Os bancos, dizem, não financiam desenvolvimento e, na realidade, só buscam lucro com o controle do agronegócio de grande escala.
“Ao contrário dos organismos de cooperação para o desenvolvimento, que fornecem subsídios e empréstimos a governos do sul global, os bancos de desenvolvimento investem no setor privado para obter retorno financeiro”, afirmam.
Segundo o manifesto, os “bancos de desenvolvimento” alimentam uma modelo industrial responsável por grandes tragédias como a pandemia e a crise climática.
“O que eles contribuem dificilmente pode ser chamado de desenvolvimento. Vimos como eles investem principalmente em empresas do agronegócio e em um modelo industrial de agricultura que é um dos principais motores de pandemias e da crise climática. Os bancos de desenvolvimento têm poucos antecedentes no apoio a sistemas alimentares controlados localmente ou agricultura agroecológica liderada por camponeses, que são as soluções reais para esses dois problemas”, escrevem as organizações no manifesto.
Na conclusão, elas pedem o fim dos bancos públicos de desenvolvimento. “Como a agricultura industrial é responsável por até 37% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, o caso para demitir bancos de desenvolvimento é claro. Precisamos de uma abordagem muito diferente para as finanças internacionais que apoiem as comunidades, em vez das empresas, e os sistemas alimentares livres de controle corporativo”.
Edição: Rodrigo Chagas