O estado do Amapá chega ao 10º dia de apagão. Moradores ouvidos pelo Brasil de Fato afirmam que estão cada vez mais esgotados, porque não conseguem descansar com a energia oscilando. Os relatos também dão conta de que o sistema de rodízio não funciona e a energia só chega após protestos dos moradores.
Na última quarta (12), a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) mudou o sistema de rodízio, mas as reivindicações da população continuam.
Morador do bairro Britizal em Macapá, capital do estado, o advogado Evandro Salvador Salvador conta que há muitas pessoas que estão há 10 dias no escuro sem água e energia.
"Essa tabela além de prejudicar uma parte da população, porque são horários fixos, foram horários prejudiciais à saúde, porque nós já viemos de quatro noite muito mal dormidas. Foi terça à noite, de terça para quarta, de quarta para quinta, quinta para sexta e sexta para sábado", relata.
Ele conta que sua esposa , por exemplo, tem dormido durante o dia porque à noite não é possível." As pessoas conseguem dormir por esgotamento físico e mental mesmo, porque não tem condições. Sem pelo menos um ventilador, é carapanã [mosquito], calor imenso", conta.
Salvador participou dos protesto realizado na última quarta-feira (12) em frente ao Palácio do Setentrião, a sede do governo do Estado do Amapá. Ele diz que as manifestações têm sido diárias e que a população só quer ter acesso aos seus direitos. "Até hoje tem locais e localidades sem água e energia. As pessoas foram protestar contra esse descaso", diz.
"Isso foi percebido na segunda-feira, pela maioria das pessoas no nosso bairro. Que era para a gente ficar de 6h da manhã ao meio-dia. A energia veio 6h foi embora 9h e só foi voltar 20h, porque fizeram protesto na rua de trás. Fecharam a rua, tocaram fogo em madeira, pneu e não deu 15 minutos de protesto, a luz retornou. Então, o que aconteceu nesse rodízio montado pela CEA é que na realidade ele foi uma mentira", diz.
Luz para poucos
Renata Travassos é moradora do Jardim Marco Zero, localizado próximo a uma unidade particular de saúde. Segundo o cronograma de rodízio, o local é considerado essencial, por isso tem energia 24 horas. "Me sinto privilegiada por ter energia direto e água em casa. A maioria das pessoas que conheço não tem luz direto nas casas e outros nem água tem".
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Ela afirma que o cronograma do racionamento de energia não é respeitado. "Ninguém sabe a hora que a luz vai embora e nem quando chega. As pessoas não conseguem se organizar nem para trabalhar.Tem gente que passa a noite em claro no calor e ainda tem que trabalhar pela manhã", conta
Travassos relata que alguns lugares estão sendo saqueados e as pessoas têm com medo de entrar em suas casas por causa da escuridão. "Com a falta de energia vem a falta de internet e rede dos telefones, não dá nem pra acionar a polícia", enfatiza.
Ela conta afirma que os relatos das pessoas são de indignação e cansaço por não conseguirem dormir. "Quem tem carro está gastando muito com combustível por ter que dormir dentro do carro com filho pequeno", conta.
Na noite do último sábado (7), a Justiça Federal determinou o prazo de três dias para que o apagão no Amapá seja completamente solucionado, com 100% da eletricidade restabelecida, sob pena de multa de R$ 15 milhões.
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A Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE) disse em nota que "está tomando providencias emergenciais e trabalhando incessantemente para trazer um transformador de alta voltagem adicional para Macapá. O transformador está sendo deslocado da subestação de Laranjal do Jari. A previsão é que o equipamento seja enviado ainda nesta final de semana".
"O transporte será feito por rodovia e balsa, uma viagem que deve durar ao menos dois dias. A expectativa é que na próxima semana o transformador chegue na capital Macapá para montagem".
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Segundo a LMTE, a instalação do transformador assegurará a estabilidade do transporte de energia para a distribuidora. "O equipamento passará por todas as etapas de implantação e vistoria para certificação de que não houve avaria durante o transporte. Somente depois dessas etapas, o transformador será testado e energizado".
Quanto ao policiamento, o governo do Amapá disse que "houve um reforço no policiamento em todo o estado durante o apagão. Foram empregados 1255 policiais militares, 417 viaturas para o atendimento 190".
O Brasil de Fato entrou em contato com a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA) do Amapá sobre a falha no rodízio e não obteve resposta até o momento da publicação.
Edição: Leandro Melito