Na semana em que acontece as eleições municipais, o Brasil de Fato entrevistou Monalisa Soares sobre os possíveis cenários da corrida eleitoral em Fortaleza. Monalisa é professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da UFC, tem sua trajetória entre a sociologia política e as ciências políticas, atualmente estuda as campanhas eleitorais, se dedicando mais especificamente a análises de conjuntura eleitoral.
Uma questão abordada pela professora foi a incidência de temas nacionais nos debates entre os candidatos ao Paço Municipal. “Um tema que é sempre interessante é a questão mais ligada aos temas nacionais. Fortaleza está com o debate bastante nacionalizado. Vários analistas buscam fazer essa relação, porque em Fortaleza tem, nas primeiras colocações das pesquisas, as três forças que interessam nacionalmente: o cirismo, o lulismo e o bolsonarismo. Então eles estão lá disputando de algum modo”.
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Pouca renovação
Para Monalisa Soares a pandemia teve um impacto muito incisivo, especialmente porque as eleições municipais têm como característica ser muito próxima ao eleitor e alterar profundamente o cotidiano da cidade.
Como a pandemia exigiu o distanciamento entre os candidatos e eleitores, as candidaturas buscaram outras formas de campanha, “isso foi empurrando as candidaturas a lançar mão dessas outras estratégias, que eram as mais tradicionais de recrutamento de votos, como as midiáticas de TV que já são bastante consolidadas”.
Monalisa ainda afirma que no caso de Fortaleza a propaganda em TV e nas redes sociais fizeram a diferença, “a TV que estava sendo enterrada e dada como não prestasse para nada e ela provou, em Fortaleza, que ela tem um lugar, ela tem uma importância”.
Outro elemento destacado nas eleições municipais de Fortaleza é a pouca inserção de novos nomes na cena política, “se a gente imaginar, por exemplo, dos três candidatos que estão mais bem colocados nas pesquisas, uma é ex-prefeita da cidade, eleita e reeleita, o outro é um candidato que já está na sua segunda incursão para a disputa do Paço Municipal, e o terceiro é o representante de uma força política já bastante consolidada, que é a força política do prefeito”, destacou Monalisa se referindo a Luizianne Lins (PT), Capitão Wagner (Pros) e José Sarto (PDT), respectivamente.
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Alguns outros nomes já consolidados na política da capital também figuram entre os mais bem posicionados, “você tem um deputado estadual que já foi candidato diversas vezes a prefeitura, que é o Heitor Ferrer (SD), você tem o Renato Roseno (PSOL), também deputado estadual com expressiva votação na cidade e bastante conhecido e o Célio Studart (PV), que vem em um acumulado de visibilidade e inserção, ou seja, Fortaleza não tem um cenário de profunda novidade”.
Para a professora as novidades na disputa do executivo ficam com a candidatura Heitor Freire (PSL), que estaria na sua primeira grande visibilidade mais geral para a cidade, e a candidatura da Paula Colares da Unidade Popular (UP), que é o primeiro momento de visibilidade do partido nas eleições.
Influência de Bolsonaro nas Eleições
Sobre a influência que o discurso conservador e o do presidente Jair Bolsonaro têm, Monalisa considera que o Heitor Freire é o candidato que tenta retomar os símbolos e o clima que deram a vitória ao presidente em 2018, “a ideia da onda, a ideia do endireitar, ele ainda está querendo que a onda de 2018 chegue aqui em 2020, ele quis em algum momento disputar a relação com o Bolsonaro, mas ficou indisputável porque o próprio Bolsonaro o excluiu, não quis nenhum tipo de relação com ele”.
Já a boa colocação do Capitão Wagner (Pros), que é o candidato apoiado por Bolsonaro, tem sido visto, segundo a professora, como um caso interessante, “me perguntam como pode um candidato do Bolsonaro ter uma performance relativamente positiva, ele é um candidato que está com chances de ir ao segundo turno”.
Ela atribui esse bom rendimento pelo fato do Capitão Wagner ser o candidato, dos três que estão mais bem posicionados, com o maior tempo de campanha, “ele está em pré-campanha desde o início do ano, todo mundo já sabia, fez uma pré-campanha extensa na mídia, é alguém que vem de um processo já bem colocado antes disso, ele estava na memória do eleitorado muito bem apresentado”.
Ela considera que outro ponto que pode explicar a boa posição do Capitão Wagner pode ter sido a estratégia adotada por seus opositores, “o Wagner foi de algum modo favorecido pela estratégia dos seus opositores, ele nunca foi empurrado para esse lugar de ser o candidato do Bolsonaro”. Ela afirma que a campanha do José Sarto (PDT) chegou a fazer algumas inserções, mas muito suaves e que talvez essa estratégia possa ser fortalecida agora na reta final, já que é importante nesse momento já anunciar os discursos e enfrentamentos que possam vir para o segundo turno.
“Eu chamo a atenção a isso porque os poucos ataques que foram feitos contra o Wagner, surgiram efeito muito significativo na queda dele, então o entendimento que eu tenho é que a fortaleza dele era mais frágil, talvez se ele tivesse sofrido mais ataques ele poderia ter, digamos assim, ter mais dificuldades no processo. Ao contrário da Luizianne (PT) que sofreu muitos ataques e não sofreu grandes alterações nas pesquisas, essa foi a grande surpresa para muitos analistas, a resiliência da candidata”, avalia Monalisa.
Segundo turno
Para Monalisa Soares, há uma vantagem para o Sarto e alguns institutos já colocam sua participação no segundo turno como certa, “nas pesquisas ele apresenta uma tendência de crescimento, quem está nessa reta final numa tendência de crescimento, está muito bem, está na onda de chegar no segundo turno”.
Já para Luizianne e Capitão Wagner, ambos estão na tendência de queda, tendo os dois o desafio de pensar a estratégia dessa reta final, “as pesquisas apontam que o Sarto teria sua vaga garantida no segundo turno, e a Luizianne e o Wagner disputariam o segundo lugar, com uma vantagem para o Wagner porque, embora numa trajetória de queda, ele estava com muito pontos, então ele precisaria cair muito, segundo a pesquisa da Datafolha. Já pelas pesquisas do Ibope, pode dar qualquer combinação dos três no segundo turno”, afirmou a professora.
Temas das eleições
Monalisa Soares diz que a campanha aparenta estar bem dispersa e que as campanhas do executivo geralmente têm pautas mais genéricas, como propostas para saúde e educação, “óbvio que o tema da saúde, por conta do contexto da pandemia, é muito expressivo tanto que algumas candidaturas já falam sobre vacinação, sobre como garantir a proteção das pessoas, esse tema está posto para as candidaturas”.
Monalisa considera que Fortaleza é uma cidade que os candidatos precisam apresentar propostas para economia, “especialmente pelo contexto da pandemia se tornou ainda mais importante, o adensamento da desigualdade, os desafios que as famílias de Fortaleza viveram e tem vivido com a situação da pandemia”.
Fonte: BdF Ceará
Edição: Monyse Ravena e Rebeca Cavalcante