Já passou do momento de falar se vai ter ou não segunda onda. A gente já está lidando com ela
A semana que termina neste sábado (14) pode ser considerada um período de números trágicos na pandemia da covid-19. Na segunda-feira (9), o mundo ultrapassou 50 milhões de contaminados, segundo a Universidade Johns Hopkins, que monitora o avanço do novo coronavírus no planeta. O dado foi confirmado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Dois dias depois, na quarta-feira (11), a instituição acadêmica divulgava que mais de 660 mil casos foram confirmados em 24 horas. Um recorde absoluto desde que o vírus foi identificado pela primeira vez, em dezembro de 2019.
Ao mesmo tempo, o Brasil se concentrava em debater a disputa política que permeia a resposta à pandemia em território nacional há meses. O alvo da ocasião é a CoronaVac, imunizante chinês que é testado no país em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo do estado de São Paulo. No início da semana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a paralisação das pesquisas, com a justificativa de que foi identificado um "evento adverso".
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Na terça-feira (10), o presidente Jair Bolsonaro começou o dia comemorando a proibição dos estudos científicos. Nas palavras dele, a suspensão dos testes foi "mais uma que Jair Bolsonaro ganha". O Butantã informou que o "evento adverso" não tinha relação com a vacina e foi além, divulgou que havia repassado a informação para a Anvisa. No dia seguinte a Agência autorizou a retomada dos testes, não sem antes ser cobrada pelo Supremo Tribunal Federal, o Congresso e a sociedade civil.
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No mesmo dia, o Brasil voltava a registrar quase 50 mil infectados em 24 horas, após três meses de patamares mais baixos. Foram 48.655 novos pacientes confirmados na quarta-feira (11). O resultado foi seguido de aumento expressivo também no número de óbitos. Na quinta-feira (12), número diário casos fatais da covid-19 chegou a 866. Desde a primeira semana de outubro, o país não ultrapassava essa marca.
Segunda onda
Em participação no podcast A Covid-19 na Semana, o médico de família Aristóteles Cardona, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, afirma que o propagação mais acelerada do coronovarírus poderia até mesmo ser resultado de mais testagem, mas não há como explicar o cenário apenas com esse fator. A tendência é percebida em muitas regiões e o número de hospitalizações e óbitos também acelera.
"Não só a gente está falando em mais casos, mas estamos falando já em mais mortes e muito mais internações. Há perspectivas e há tendências em muitos locais de que esse segundo momento pode ser pior do que aquele primeiro momento de pico. A gente já passou do momento de falar se vai ter ou não segunda onda. A gente já está lidando com ela."
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O cenário que se desenha, segundo o médico, deveria ser motivo suficiente para que o Brasil estivesse se preparando. Aristóteles ressalta que o país não soube se precaver no início da pandemia e está repetindo o erro. "Estamos mais uma vez já visualizando o que está acontecendo em outros locais do mundo e não percebe-se nenhuma movimentação no sentido de preparar a sociedade para, pelo menos, minimizar os impactos."
Entre os fatores que mais empurram os dados globais para cima, estão a segunda onda de contaminações na Europa e os números dos Estados Unidos nas últimas semanas. O país norte-americano registrou mais de 200 mil casos somente na terça-feira (11). A Itália entrou para o grupo de países com mais de 1 milhões de casos e teve o total mais expressivo de mortes em um dia desde abril. De quinta (12) para sexta-feira (13), Alemanha e Rússia também tiveram números recordes.
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O Reino Unido também alcançou patamares nunca antes observados. Mais de 33,4 mil moradores da região receberam o diagnóstico em um dia. Na França, por exemplo, o número de internados já é superior ao registrado no primeiro surto. Uma em cada quatro mortes no país tem como causa o coronavírus.
Além disso, outras nações e regiões também vêm notificando avanço mais rápido na propagação do novo coronavírus. Indonésia e Japão registraram recordes de infectados na sexta-feira (13). Dois dias antes, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças do continente africano relatou que foi observado um aumento médio de 8% em novos casos de covid-19 em outubro.
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No Brasil, os números mais recentes interrompem uma trajetória de semanas com queda em óbitos e infecatdos. Os dados relativos a novos pacientes entre os dias 8/11 e 14/11 são superiores aos registros dos últimos dois meses. O total de casos fatais do período foi o maior das últimas quatro semanas.
Edição: Rodrigo Chagas