Neste domingo, 15 de novembro, dia da República, mais de 147 milhões de brasileiros irão às urnas escolher os próximos vereadores e prefeitos de seus municípios. O pleito terá como marcas a de ter sido realizado durante uma pandemia e de ser o primeiro após a ascensão da extrema direita no país, em 2018, com a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro e aliados.
Segundo especialistas, a eleição deste ano funcionará como termômetro da opinião pública sobre as correntes políticas identificadas com o bolsonarismo, que se destacaram nas últimas eleições, mas que atualmente veem sua influência cair drasticamente no eleitorado.
“O desencanto que marcou as últimas eleições estava muito localizado à esquerda. Foram muitos voto nulos e brancos, e os partidos de esquerda tiveram um desempenho eleitoral muito aquém do alcançado nas outras eleições. Por outro lado, Bolsonaro está com uma desaprovação crescente em todas as capitais do país. No caso específico de Porto Alegre (RS), ele teve 42% no primeiro turno (em 2018), e agora está com 49% de ruim e péssimo de avaliação nas pesquisas”, afirma Benedito Tadeu César, professor da UFRGS e cientista político.
Nesse contexto, candidaturas progressistas ganham importância especial, por terem como desafio conquistar os eleitores desapontados com os caminhos das correntes conservadoras, e principalmente, os indecisos, ou seja, aqueles que na última eleição se abstiveram ou votaram em branco ou anularam, e que somaram mais de 30 milhões de pessoas.
Para Cesar, mais do que denúncias de cunho moral, a melhor estratégia contra o bolsonarismo tem sido o foco no resgate de direitos. "Nós temos um desemprego que se a gente somar todos que estão parados com trabalho intermitente, chega a 60 milhões de pessoas. Nós temos uma perda de renda dos trabalhadores imensa. Não adianta ficar só na denúncia", analisa.
Já o sociólogo e também professor da UFRGS, Jorge Branco, avalia que as campanhas que têm conseguido avançar no sentido de ganhar terreno contra as forças conservadoras são as que têm focado em uma agenda concreta e propositiva.
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“Eu vejo a Manuela D´Ávila (candidata a prefeita de Porto Alegre pelo PCdoB), vejo o Boulos (Guilherme, candidato do PSOL em São Paulo), e a campanha deles não tem nada de radical de uma grande luta política. É Sistema Único de Saúde, escola, defender o emprego, microcrédito, são todas políticas de resgate de normalidade, resgate da civilização e resgate dos direitos fundamentais. Que levaram 70, 80 anos para chegar no patamar que chegou em 2010. E que em 4 ou 5 anos se desmancharam feito barro na chuva”, afirma Branco. “Eu acho que a esquerda está saindo do canto do ringue com um discurso humanista e civilizatório”, completa.
Destaques progressistas
Com 27% das intenções dos votos, a campanha de Manuela na capital gaúcha é a que mais vem se destacando, justamente pelo foco no discurso da positividade e esperança. Mesmo sendo alvo constante de ataques de ódio e fake news nas redes sociais, segue em primeiro nas pesquisas de intenção de voto, e pode ganhar ainda mais força após a renúncia do segundo colocado, o ex-prefeito José Fortunati (PTB) do pleito, devido à cassação de seu vice André Cecchini (Patriota), nesta última segunda-feira (9).
Em São Paulo, Boulos, também tem se destacado pela campanha propositiva e está em segundo lugar nas pesquisas. Em Recife (PE), João Campos do PSB e Marília Arraes PT, dividem a preferência dos votos à prefeitura. E no norte do país, em Belém (PA), o candidato do PSOL, Edmilson Rodrigues, lidera com 38%, segundo as últimas sondagens.
Centro direita
Porém, em todo Brasil, as candidaturas mais de centro direita são as que tendem a conseguir mais vitórias neste ano. São os casos de Belo Horizonte, onde Alexandre Kalil (PSD) conta com 62% das intenções de voto, do Rio de Janeiro, onde Eduardo Paes (DEM) figura como favorito e de Salvador (BA), onde Bruno Reis (DEM) lidera as pesquisas com 61%.
Os especialistas também destacam que a importância desse pleito vai além do municípios, já que elas preparam o terreno para as eleições presidenciais, de 2022. “Vai ter muito dinheiro, muita fake news nas eleições de 2022. Se o campo progressista não agregar forças desde já, a disputa em 2022 será muito mais difícil”, conclui Cesar, da UFRGS.
Edição: Rogério Jordão