Os ataques ao sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante o primeiro turno das eleições municipais, no domingo (15), e o atraso nas apurações foram amplamente usados por figuras da extrema direita para questionar a legitimidade do processo eleitoral brasileiro.
Os ataques, no entanto, não tiveram nenhuma influência nas eleições, afirmou o o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso. Uma investigação da empresa SaferNet, que trabalha em parceria com o Ministério Público Federal, apontou a ofensiva foi coordenada com o objetivo de “desacreditar a Justiça Eleitoral”.
Para o sociólogo e professor Sérgio Amadeu, pesquisador de redes digitais, ataques coordenados para tentar desacreditar instituições democráticas são característicos da extrema direita em todo mundo – ou seja, tudo leva a crer que os ataques contra o TSE partiram de apoiadores do próprio presidente.
“Aconteceu um ataque que é promovido pela extrema direita, provavelmente. É preciso checar isso, mas, atualmente, a extrema direita mundial tem demonstrado sua intolerância com a democracia e, no caso do Brasil, eles querem desqualificar o processo democrático”, diz o professor.
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Amadeu diz que, embora não ainda não haja confirmação de quem atacou o sistema do TSE, a prática do “hacking” é bastante usada por pessoas que questionam o sistema, justamente como fizeram o presidente e seus seguidores.
“A quem interessa isso? Interessa a grupos que querem ganhar de toda forma, que querem impor seu poder, que defendem o autoritarismo, que desprezam a democracia, que cultuam o mérito de eles serem mais capazes de invadir sistemas. Quem cultua esse tipo de violência? É a extrema direita”, salienta o especialista.
Embora concorde que não há risco ao resultado das eleições, Amadeu critica o presidente do TSE por não ter sido mais transparente ao explicar os ataques e quais as consequências.
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“Não há mal nenhum de um jurista como o Barroso não entender de tecnologia. Ele tem que chamar as pessoas que entendem para explicar de maneira correta. Ontem foi um festival de desinformação”, opina.
A Polícia Federal (PF) abriu investigação, em sigilo, para o caso. O ministro da Justiça, André Mendonça, afirma que a pasta colabora com o TSE na busca por informações do ataque e que não há "qualquer indicativo de prejuízo ao pleito eleitoral”.
Reação bolsonarista
Após os ataques ao sistema do TSE, aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) correram às redes sociais para espalhar desinformação e pedir mudança para o voto impresso. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), filho 03 do mandatário, foi um dos primeiros na tentativa de ligar o ataque a uma possível insegurança dos dados.
“Noticiam que TSE foi atacado por hackers. TSE nega. Então são expostos bancos de dados do TSE. Isso traz um clima de insegurança, que faz as pessoas desconfiarem que o atraso na divulgação possa ser um novo ataque hacker ou manipulação já que não há transparência”, disse o deputado.
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A deputada Carla Zambelli (PSL-SP), outra aliada bolsonarista, também fez coro à insinuação, ainda no domingo. “Agora mais do que nunca temos que voltar a falar em voto impresso como forma de conferir a votação eletrônica. Ninguém me convence que o sistema trave dessa forma sem fraude envolvida. Posso estar errada, por isso quero poder conferir os votos da minha urna”, postou.
Nesta segunda, o próprio Jair Bolsonaro levantou dúvidas sobre os resultados das urnas. "Nós temos que ter um sistema de apuração que não deixe dúvidas. É só isso. Tem que ser confiável e rápido. Não deixar margem para suposições. Agora [temos] um sistema que desconheço no mundo onde ele seja utilizado. Só isso e mais nada", disse ele a apoiadores, em frente ao Palácio Alvorada.
Edição: Leandro Melito