Na última eleição municipal, em 2016, o Partido dos Trabalhadores (PT) conseguiu eleger apenas uma vereadora, a Professora Josete Dubiaski. Em seu mandato, ela foi solitária em muitas pautas como oposição radical ao prefeito Rafael Greca (DEM). Já os resultados do pleito de 2020 trouxeram o aumento da bancada petista, que passou para três parlamentares eleitos.
Além de Josete, reeleita, também foram eleitos a professora Carol Dartora, a primeira vereadora negra da história de Curitiba, e o jovem advogado negro Renato Freitas, que defende as pautas da juventude e periferia.
Nesta segunda (16), o Brasil de Fato Paraná realizou uma conversa com os eleitos que integram a nova bancada do PT, no programa ao vivo BdF Onze e Meia.
Reeleita para seu quinto mandato, professora Josete destacou que a renovação e o aumento de cadeiras do partido é muito importante para a organização da esquerda em Curitiba. “Vejo como uma grande importância, são pessoas que agregam com as demandas diversas e orgânicas dos movimentos sociais, e fortalecerá nossa atuação como oposição”, afirmou.
Professora da rede municipal de ensino, Josete foi também presidente do Sindicato dos Servidores Municipais do Magistério de Curitiba (SISMMAC). Elegeu-se para seu primeiro mandato no ano de 2004, defendendo as pautas dos servidores públicos. Essas demandas foram sendo ampliadas ao longo da sua trajetória na câmara.
No domingo (15), foram eleitos 18 vereadores novos, que darão início ao seu primeiro mandato a partir de 2021. O índice de renovação para a Câmara de Curitiba ficou em 47%. Josete comentou que, infelizmente, a renovação é de nomes, mas não da prática. “Temos visto há muito tempo uma Câmara que não atua segundo as funções do legislativo, que é fiscalizar e representar as demandas da população. Espero que isso mude”, pontuou.
Rostos novos do PT na Câmara
Para Renato Freitas, que exercerá seu primeiro mandato, a eleição foi um orgulho e o fez olhar para o passado. “Olho para 20 anos atrás, quando eu era empacotador de mercado, com meus sonhos, e de repente a gente se vê vereador da capital. Tive a oportunidade de estudar e me formar advogado na Universidade Federal do Paraná (UFPR). A educação me proporcionou me organizar e levar o conhecimento aliado às necessidades das comunidades e me transformar em uma liderança”, disse. Renato fez sua campanha voltada para as demandas da juventude negra e periférica.
A terceira vereadora mais votada de Curitiba foi a candidata petista Carol Dartora. Professora de História da rede pública e militante feminista, foi a grande surpresa da eleição de 2020 em Curitiba, sendo a primeira vereadora negra da história da cidade. Para ela, o aumento da bancada do PT foi uma resposta ao conservadorismo que impera na capital paranaense.
“Durante a campanha, eu levei muito o legado do PT, debatendo com as pessoas nas ruas. Mas principalmente mostrando o quanto o trabalhador e povo periférico de Curitiba são oprimidos”, afirmou. Carol disse que trabalhou muito durante a campanha para que a pauta da representatividade negra e das mulheres estivesse sendo debatida pela população curitibana.
“Sabemos que o conservadorismo permanece na Câmara Municipal e já estou preparada. Na campanha enfrentei ataques racistas e machistas”, afirmou.
Especialistas analisam resultados
O professor de sociologia da UFPR e autor do livro "O silêncio dos vencedores: genealogia da classe dominante no Paraná”, Ricardo de Costa Oliveira, disse que a eleição em Curitiba e em outras cidades do país surpreende com a renovação de quadros da esquerda. “A esquerda, de fato, está trocando de pele com uma nova geração. Estamos verificando que há uma grande capilaridade de resistência e diversidade”, explicou.
Já para Laura Astrolabio, advogada, co-criadora da Tenda das Candidatas e mestranda de Política Pública em Direitos Humanos, é preciso levar o debate da interseccionalidade para dentro dos partidos. “Somos todos seres humanos, mas somos todos diversos. Por isso, ter Carol e Renato como novos vereadores em Curitiba é um grande avanço mesmo. A partir de agora é trabalhar para que outras candidaturas negras venham para 2022”, comentou.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lia Bianchini