As pesquisas eleitorais já davam conta de que a apuração dos votos na capital pernambucana garantiria emoção até o fim. Elas apontavam uma liderança tranquila de João Campos (PSB), com Marília Arraes (PT) e Mendonça Filho (DEM) disputando a vaga no 2º turno. Mas a candidata do PT surpreendeu quando as urnas foram abertas. Marília Arraes passou dos 223 mil votos (27,95% dos votos válidos) e esquentou a corrida pela Prefeitura.
A liderança, como previsto, ficou com João Campos, que teve 233 mil votos (29,17% dos votos válidos). Mendonça Filho (DEM) se beneficiou com o “voto útil” da direita, que de última hora migrou de Patrícia Domingos (PODE) para sua candidatura, mas não foi o suficiente para chegar ao 2º turno. Com 200 mil votos, ficou com 25,1% dos votos válidos.
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O resultado faz do Recife a única capital do país sem candidatos de direita no 2º turno e reafirma PT e PSB como principais forças políticas no município, disputando ou compartilhando a prefeitura há mais de 20 anos. A capital pernambucana elege prefeitos do campo progressista desde o ano 2000, quando elegeu João Paulo (2001-2008), seguido de João da Costa (2009-2012).
Nos oito anos de João Paulo, o PSB era base de governo e teve o vice-prefeito na gestão João da Costa. Mas em 2012 o PSB se lançou em voo solo, com Geraldo Julio sendo eleito e reeleito (2013-2020) e agora tenta fazer seu sucessor. O segundo turno será disputado em apenas duas semanas, no dia 29 de novembro.
Uma curiosidade é que João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT) são primos de 2º grau. Marília é neta de Miguel Arraes e prima do ex-governador Eduardo Campos, falecido em 2014. João Campos é bisneto de Miguel Arraes e filho de Eduardo.
::Em Recife, João Campos e Marília disputam o legado de Miguel Arraes::
Marília é formada dentro do PSB, mas rompeu com o partido em 2014, quando era vereadora, e Eduardo Campos impediu sua postulação a Câmara Federal. No ano seguinte Marília se filiou ao PT e se tornou um dos principais nomes do partido no estado, ao lado do senador Humberto Costa.
Outro destaque fica por conta da candidata Patrícia Domingos (PODE). Nascida no Rio de Janeiro e delegada da Polícia Civil de Pernambuco há 10 anos, foi considerada como provável surpresa e capaz de atrair o voto bolsonarista no Recife. Mas a missão era difícil por disputar o voto contra o stablishment da direita pernambucana, que se concentrou na candidatura de Mendonça Filho (DEM). Quando ela finalmente alcançou o candidato do DEM nas intenções de voto, veio à tona postagens antigas em suas redes sociais classificando o povo do Recife como “feio”; apelidando a cidade de “Recífilis”, num trocadilho com uma infecção sexualmente transmissível; contra a PEC das Domésticas e mencionando que muitas pessoas “só estão vivas porque é proibido atirar nelas”.
A cartada final da candidata foi o apoio de Bolsonaro, declarado já nos últimos dias de campanha. Após o apoio presidencial, a intenção de votos na candidata seguiu caindo e ela encerrou a corrida com 112 mil votos (14%).
Também participaram do pleito Carlos Andrade Lima (PSL), que fez 1,7%; Alberto Feitosa (PSC), 1,2%; Charbel (NOVO), 0,5%; Thiago Santos (UP), 0,15%; e Cláudia Ribeiro (PSTU), 0,15%. Os candidatos Marco Aurélio Medeiros (PRTB) e Victor Assis (PCO) retiraram suas candidaturas.
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Renovação na Câmara de Vereadores
A composição atual da Câmara Municipal do Recife conta com grandes bancadas do PSB (16) e do PP (7), além de parlamentares de outros nove partidos. Do campo progressista, além dos 16 parlamentares do PSB, há ainda dois do PT, um do PCdoB e um do PSOL, somando 20 vereadores.
Na nova legislatura esse número caiu para 19 parlamentares, mas ficou “mais à esquerda”, já que o PT (aumentou de 2 para 3), PSOL (1 para 2) e PCdoB (1 para 2) aumentaram suas bancadas, enquanto o PSB perdeu quatro cadeiras.
A bancada do PSB talvez seja a com maior renovação, já que sete parlamentares perderam sua vaga na Câmara: Rinaldo Júnior, Antônio Luiz Neto, Goretti Queiroz, Aerto Luna, Augusto Carreras, Irmã Aimée e Marcos di Bria (este último lançou seu filho, mas não obteve sucesso).
Foram eleitos Romerinho Jatobá, Davi Muniz, Hélio Guabiraba, Aderaldo Pinto, Felipe Francismar, Carlos Muniz, Natália de Menudo, Alcides Teixeira, Luiz Eustáquio, Eduardo Marques, Wilton Brito e Joselito Ferreira. O PP também perdeu cadeiras, caindo de 7 para 4. Enquanto Eriberto Rafael, Chico Kiko e Michele Collins renovaram seus mandatos, ganhando a companhia de Andreza Romero, despedem-se Aline Mariano, Maguari, Eduardo Chera e Rogério de Lucca).
A terceira maior bancada agora é a do PT, que contará com a professora Liana Cirne, o já vereador Jairo Britto e Osmar Ricardo, este último volta à Câmara após hiato de quatro anos. Figuras como o ex-prefeito e atual vereador João da Costa e o ex-deputado federal Fernando Ferro não obtiveram sucesso em suas postulações.
O PCdoB, que já contava com Almir Fernando, contará também com Cida Pedrosa. Na bancada do PSOL, Ivan Moraes aumentou sua votação e agora o PSOL também terá na Câmara Dani Portela, que com surpreendentes 14 mil votos foi a mais votada da capital pernambucana.
Assim como a bancada do PT, o PSC conquistou uma cadeira. Agora Fred Ferreira e Renato Antunes terão a companhia de Felipe Alecrim. O Solidariedade também conquistou uma cadeira e Rodrigo Coutinho terá companhia de Paulo Muniz. O Avante terá Fabiano Ferraz e Dilson Batista. O Republicanos perdeu o experiente Gilberto Alves e manteve a professora Ana Lúcia.
O MDB reelegeu Samuel Salazar. Pelo Cidadania, Jayme Asfora perdeu seu mandato para Júnior Bocão. O Podemos elegeu Tadeu Calheiros e o pastor Júnior Tércio, esposo da deputada estadual bolsonarista Clarissa Tércio (PSC). O deputado estadual Marco Aurélio elegeu seu herdeiro Marco Aurélio Filho (PRTB) vereador. Entraram ainda Alcides Cardoso (DEM), Zé Neto (PROS) e Doduel Varela (PSL).
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga