Soberania alimentar

Evento "Terra Madre Brasil" debate alimentação justa e promove troca de saberes

Programação online tem rodas de conversa, diálogos, oficinas do gosto, espaços educativos e apresentações artísticas

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Terra Madre Brasil segue até o domingo (22) - Arumi Figueiredo/Terra Madre Brasil

Segue até domingo (22) o evento online Terra Madre Brasil, um encontro (desta vez à distância) entre ativistas, voluntários e famílias dedicado à biodiversidade e às culturas alimentares. A participação é gratuita.

Sob o lema “alimentos bons, limpos e justos para todos”, a 3ª edição nacional envolve rodas de conversa, diálogos, oficinas do gosto, espaços educativos dedicados à cultura alimentar e instalações artísticas. Veja a programação completa.

A base do evento é o movimento “slow food”, fundado na Itália, na década de 1980, para se contrapor à disseminação do fast-food e à padronização da alimentação, que implica no desaparecimento de espécies, variedades, raças, culturas, técnicas, conhecimentos e saberes ligados à comida.

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Uma das participantes é Renata Peixe-boi, membra da Comunidade Slow Food Manaus pela Soberania Alimentar da Amazônia, que participa de um painel no domingo, às 16h.

Atuante no movimento com Plantas Alimentícias Não Convencionais e fortalecimento da juventude rural e de comunidades tradicionais, ela vai debater sobre a motivação de jovens em seguir lutando pelos seus territórios, resguardando e renovando o conhecimento de seus antepassados e delineando novos caminhos. Também participam da mesa Mateus Tremembé e Amaury Juruna, com moderação de Jerônimo Villas-Boas.

Renata é ativista há dez anos e atua na organização de feiras de produtos orgânicos e na luta por políticas que garantam acesso à alimentação de qualidade, como a compra pública de merendas para estudantes indígenas. Ela diz considerar ser essa uma grande revolução.

“Eu considero uma grande revolução uma criança indígena poder tomar açaí ou tucupi na sua merenda, ao invés de comer uma carne enlatada que vem sabe-se lá de onde, cheia de sal”, diz.

Para ela, a escolha por alimentos agroecológicos, com raízes tradicionais, ao invés da comida industrializada e envenenada vendida nos supermercados é um ato político e urgente.

“Alimentação é isso: conta um pouco da história de onde a gente veio e para onde a gente vai. Esse ato político é importante porque ele não se impacta só sobre o meu corpo, impacta sobre toda a história, sobre corpos de pessoas que eu nem conheço. Toda vez que eu compro um produto no mercado ou em uma feira, eu confirmo e afirmo que aquilo deve continuar sendo produzido. Estou de acordo com isso. Então, acredito que a gente precisa realmente se preocupar com o impacto que a alimentação tem fora do prato”, afirma.

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A extrativista Madalena Soares, a Madá, concorda que a comida é um instrumento social. Ela trabalha com a coleta e beneficiamento de frutos do Cerrado e diz que a experimentação do que “a natureza dá” e o compartilhamento dos aprendizados é a grande riqueza que podemos ter.

“Na roça você tem um pomar, você tem um pé de manga; da manga, você faz um suco, um doce; aí da jaca você faz uma carne; do caju, faz um doce. De tudo você vai tentando aproveitar, valorizar o fruto, o que a natureza nos proporciona”.

Madá ministra uma aula de cozinha sobre a sociobiodiversidade do Cerrado no domingo, às 13h30, como parte da série “oficinas do gosto” do Madre Brasil.

Moradora de um assentamento em Padre Bernardo, município goiano a aproximadamente 100 quilômetros de Brasília, a extrativista tornou-se referência no extrativismo sustentável do baru no Mercado da Agricultura Familiar da Ceasa-DF.

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Ela diz que seu grande prazer é compartilhar ideias e ver as pessoas se alimentando de uma forma mais saudável. “As ideias têm sabor”, explica melhor. Com misturas de criativas de frutos como jatobá, cajuí, mangaba, mamacadela, pequi, cagaita, pimenta-de-macaco, Madá faz da sua vida e do seu trabalho um livro aberto de saberes.

“Meu sonho é tentar jogar as ideias do sabor e do saber para o mundo todo. Sabe quando você coloca um alimento na boca e sente que é diferente? Você começa a fazer aquela mistura – o tucupi, o tacacá, o baru. Você começa a brincar com o sabor dos frutos, a fazer mistura, tornando aquilo remédio e não veneno. Eu quero ir longe, bem longe”.

Edição: Rogério Jordão