CRIME NO CARREFOUR

Defensoria Pública do RS: “morreu porque era negro”

MP e Conselho Estadual de Direitos Humanos destacam extrema gravidade do caso; governo do RS promete apuração rigorosa

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Entidades lançam nota de repúdio e pesar sobre o assassinato de João Alberto
Entidades lançam nota de repúdio e pesar sobre o assassinato de João Alberto - Pam Santos / @soupamsantos

O brutal assassinato de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, homem negro, na véspera na véspera do Dia da Consciência Negra, despertou indignação em diversos segmentos da sociedade. Em nota de repúdio, publicada na manhã desta sexta-feira (20), em tom incisivo, a Defensoria Pública do Estado do Estado do Rio Grande do Sul (DPERS) destaca que embora o caso ainda esteja sob investigação, as imagens de extrema violência veiculadas na imprensa e em redes sociais falam por si. Em comunicado, o governo do estado se comprometeu em fazer uma apuração rigorosa. 

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Beto, como era conhecido, foi até uma unidade do supermercado Carrefour, localizado no bairro Passo D’Areia, em Porto Alegre, na companhia da sua esposa Milena Borges Alves e acabou sendo agredido e morto por dois homens brancos, um segurança privado do estabelecimento e um integrante da Brigada Militar, que foram presos em flagrante. Ambos são investigados por homicídio qualificado.

Abalada, a esposa da vítima disse à imprensa que os seguranças não deixaram ela se aproximar, enquanto seu marido pedia ajuda. “Seguiram com o pé em cima dele e, quando ele desmaiou, continuaram com o pé em cima dele. Um pé nas costas eu vi”, relatou. 

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O caso rapidamente ganhou repercussão nacional. Na nota de repúdio, a DPERS ressalta ser inadmissível que um brutal homicídio nas condições visualizáveis, com nítidos contornos racistas, seja tolerado em um Estado Democrático de Direito.

“Os fatos exigem da sociedade gaúcha explícitas e públicas manifestações de indignação, frente ao nítido crime de ódio perpetrado por dois homens brancos. A situação e seu contexto são de extrema gravidade e a Defensoria Pública, como expressão e instrumento do regime democrático, assevera que não haverá qualquer espécie de tolerância, permissividade ou conivência com o racismo, expresso letalmente no caso concreto”, ressalta a nota

Por sua vez, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS), em nota à imprensa, disse que acompanhará com atenção a apuração dos fatos relacionados à morte. “O MPRS reitera que todas as medidas necessárias para o esclarecimento das circunstâncias serão tomadas na tarefa de prontamente levar o caso à Justiça para a responsabilização dos agressores", diz o texto.

Governo garante apuração rigorosa

“Infelizmente, neste dia em que deveríamos estar celebrando políticas públicas, deparamos com cenas que nos deixam todos indignados pelo excesso de violência que levou à morte de um cidadão negro em um supermercado na capital gaúcha. Todas as circunstâncias em que este crime aconteceu estão sendo apuradas para que sejam punidos os responsáveis. Os inquéritos policiais estão sendo levados adiante com muito rigor”, garantiu o governador Eduardo Leite, na manhã desta sexta-feira. 

Segundo afirmou Leite, todos os agentes da segurança pública recebem treinamento adequado para atuar nas ruas e garantir a segurança da população gaúcha, e lamentou o envolvimento de um policial, ainda que apto a cumprir apenas tarefas administrativas, “nessas cenas que nos deixam indignados”.

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Em trabalho remoto, em razão de ter sido confirmado com covid-19, o vice-governador e secretário da Segurança Pública, Ranolfo Vieira Júnior, através de sua rede social, ressaltou que o caso será apurado à exaustão. “Não podemos admitir ações dessa natureza. As imagens são horripilantes, a segurança pública de nosso estado fará tudo para o seu total esclarecimento”, escreveu.

“Enquanto houver racismo não haverá Direitos Humanos”

O Conselho Estadual de Direitos Humanos do Rio Grande do Sul (CEDH-RS)  também lançou uma nota de moção de repúdio e pesar. Segundo destaca a entidade, o crime é resultado da ação violenta e desmedida de seguranças do estabelecimento comercial e ceifou mais uma vida negra no Brasil. “Desta vez um homem de 40 anos, marido de Milena, morador da Vila Farrapos, tamboreiro em um centro de Umbanda, torcedor do São José, querido por sua comunidade e que teve a vida interrompida em mais um ato racista”, frisa o documento.

"Marcante, igualmente, neste episódio trágico é o fato do assassinato ocorrer às vésperas da celebração do Dia da Consciência Negra. O dia 20 de novembro marca, justamente, o assassinato de lideranças quilombolas, no ano de 1695, no Quilombo dos Palmares. De lá pra cá a resistência do povo negro por direitos de igualdade e no combate ao racismo tem feito milhares de vítimas no Brasil, as quais devem ser sempre lembradas como sementes da luta antirracista", diz a nota.

O Conselho afirma requerer que as autoridades competentes realizem todas as investigações necessárias à responsabilização dos envolvidos no crime. 

Um ato pedindo por justiça para Beto está convocado para às 18h desta sexta-feira (20), em frente à unidade do Carrefour Passo D’Areia, onde ocorreu o crime. O protesto terá transmissão online pelas páginas no Facebook do Brasil de Fato RS e da Rede Soberania.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Marcelo Ferreira