Com a ampla repercussão da morte de João Alberto Silveira Ferreira, homem negro de 40 anos espancado por seguranças em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre na última quinta (19), mais um caso de violência envolvendo a rede veio à tona.
Uma mulher negra, lésbica, pobre e dependente química, presa por suspostamente furtar alimentos em uma filial do Carrefour no Rio de Janeiro, foi espancada e estuprada por funcionários do supermercado, segundo relatado pela juíza Cristina Cordeiro, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), em seu twitter nesta sexta (20).
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A publicação traz detalhes do caso e da audiência, que teriam acontecido entre 2017 e 2018.
“Ao chegar à audiência de custódia (que, na época, era realizada no prédio do Tribunal, no centro da cidade), vi que o médico que a examinou descreveu que ela estava com um curativo no ânus. Ela dizia que havia se machucado ao evacuar, algo assim. Só que a história real não era essa”, afirmou Cordeiro.
Tenho uma história sobre o Carrefour e racismo para contar. Não é uma vivência pessoal, claro. Mas de uma mulher que foi presa e brutalizada quando eu era juíza de custódia, no Rio de Janeiro. 👇👇👇👇 pic.twitter.com/8ApO7RVAOn
— Cristiana FC ⚖🌻🦋🌬 (@CristianaFc) November 20, 2020
De acordo com a titular da Vara Criminal de Mesquita, na Baixada Fluminense, a vítima hesitou em revelar o motivo dos ferimentos, mas relatou que havia sido torturada.
“Ela contou que foi flagrada furtando (uma relação de alimentos bem mais módica do que aquela apresentada na nota fiscal pelo mercado). Não era a primeira vez. Mas naquele dia, algo diferente e terrível aconteceu. Ela foi levada para uma salinha onde foi brutalmente espancada com um pedaço de madeira, inclusive. Não teve coragem de nos contar o mais cruel, e só falou para a psicóloga que a atendeu antes de ser liberada: foi sodomizada, estuprada, como ‘lição e castigo’”, escreveu a juíza, que desde então não entra em nenhuma loja na rede.
:: Sete vezes em que o Carrefour atuou com descaso e violência ::
Ainda segundo a postagem, a vítima foi atendida pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, que teria processado o Carrefour.
“Até quando isso vai continuar acontecendo, com a complacência de tantos... É o que me pergunto quando vejo cenas como a do assassinato de João Alberto”, lamentou Cordeiro.
A morte de João Alberto gerou uma série de protestos em todo o país nesta sexta-feira (20), Dia Nacional da Consciência Negra. O segurança e o policial militar responsáveis pelo crime foram presos e indiciados por homicídio triplamente qualificado.
Em nota enviada ao Brasil de Fato, o Carrefour diz que "repudia todo e qualquer ato de violência, intolerância e descriminação".
"Nós temos valores muito fortes que vão contra este tipo de atitude, mas sabemos que, infelizmente, algumas pessoas acabam por não cumprir essas regras. É nosso papel reforçar, cada vez mais, nossos treinamentos, e sensibilizações para que episódios como estes não voltem a se repetir. Temos uma missão muito forte pela frente de não só estabelecer regras e reforçar nossos valores, mas também de sermos uma empresa que luta, cada vez mais, contra o racismo", afirmou a empresa.
O Brasil de Fato fez contato com o Carrefour pedindo um posicionamento sobre o relato da juíza e incluirá a versão da empresa assim que receber resposta.
Edição: Rodrigo Chagas