Além de alimentar, o óleo de batiputá também pode curar
É na terra sagrada do povo Tremembé, também conhecida como Barra do Mundaú, localizada na cidade de Itapipoca, no Ceará, que nasce o batiputá, árvore de pequeno porte e flores amarelas.
E é do fruto desse arbusto que os Tremembé da região extraem um óleo de sabor marcante, que está presente em vários momentos no dia a dia da etnia, no preparo das refeições e no cuidado com a saúde de todos e todas.
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Mateus Tremembé explica que o seu povo produz o óleo de batiputá há mais de 300 anos, de forma artesanal pelos membros mais velhos da comunidade.
“O processo de extração desse óleo leva praticamente um dia, da colheita, a separação dos frutos, a maceração no pilão de madeira, após é colocado no fogo para fazer a separação. É um processo bem demorado, mas que traz todos os elementos deixados pelos nossos mais velhos”, ressalta.
O óleo de batiputá pode ser utilizado das mais diversas formas na cozinha. Seja na hora de dourar o alho e a cebola para refogar arroz, feijão, verduras e legumes, temperar saladas e fritar peixes.
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Além do saber marcante, o produto do povo Tremembé também traz mais saúde para quem consome.
“O óleo do batiputá ele é especial, porque quando você prepara um alimento com ele, você fica sem aquela sensação de estar cheio demais, você não sente a gastrite, que geralmente, os óleos industrializados fazem que você sinta, você não sente aquele travo na garganta”, conta Mateus.
Detentores de uma sabedoria milenar, que conhece cada planta, árvore e fruto de suas sagradas terras, os Tremembé sabem bem que o óleo de batiputá vai além da cozinha, adentra o território da espiritualidade e do poder da natureza.
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Seja para tratar um ferimento ou inchaço em qualquer região do corpo, aplicando o produto diretamente na pele, ou para curar uma garganta inflamada, a qualquer sinal de doença ou mal estar, os indígenas recorrem à sua preparação, considerada por eles, como milagrosa.
“Geralmente, a gente usa no final da tarde ou no amanhecer, pegando essas energias que a gente acredita que é importante para nos defender, para nos livrar dessas doenças que, às vezes, aparece no nosso corpo”, esclarece.
Por conta do desmatamento que atinge a região da Terra Indígena dos Tremembé, eles não conseguem produzir o óleo de batiputá em grandes quantidades para comercialização. Mateus conta que a venda do produto é feita apenas durante as festas tradicionais do seu povo.
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“A Festa do Murici e do Batiputá, da Festa de Iemanjá, da Festa da Farinhada, que às vezes alguns parentes de fora e chega a comprar esse óleo, mas para usar como medicina, como alimento a gente não chega a vender em grande quantidade, porque a gente não quer ficar sem o óleo, mas a gente comercializa dentro do próprio território”.
Mateus não conhece nenhuma outra iniciativa de produção artesanal do óleo de batiputá. Mas, ele traz um alento para quem ficou interessado em conhecer e aproveitar as propriedades nutritivas e terapêuticas do produto.
Basta entrar em contato com a etnia, por meio da sua página no Instagran, o endereço é @tremembedabarra.
Edição: Daniel Lamir e Douglas Matos