Mas um novo ídolo lhe tomava a mente. Era Richard Nixon
A última eleição para presidente dos Estados Unidos me fez lembrar do Agamenon, morador do Sertão nordestino nos anos 1960.
O ídolo dele era John Kennedy, ex-presidente da gringolândia.
Era uma dificuldade para o Agamenon conseguir informações sobre o Kennedy, mas ele se esforçava, mandava comprar em Recife, Fortaleza ou qualquer lugar onde ficasse sabendo que existiam, todas as publicações em língua portuguesa sobre o seu ídolo.
Quando resolveu se casar, nem precisava perguntar qual seria o nome de seu primeiro filho. Todo mundo já sabia: o primeiro varão teria o nome de Kennedy. Dez meses depois do casamento, sua mulher deu à luz, mas o Agamenon ficou um pouco frustrado, porque era uma menina. Conformou-se, enfim:
— Já que não posso pôr o nome do maior presidente dos Estados Unidos, assassinado em 22 de novembro de 1963, ponho o nome da mulher dele: Jacqueline. A eterna viúva do maior presidente do mundo merece igualmente dar o nome à minha primogênita.
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Reparem que aí já não falava dele como o maioral só dos Estados Unidos, era do mundo.
Mas logo começou a desconfiar que Jacqueline (a legítima) traíra não só a memória de Kennedy, como a confiança dele, Agamenon. Ela casou-se com o milionário Aristóteles Onassis e esse gesto foi como uma facada em suas costas.
— Essa mulher ingrata não está respeitando o nome de um dos maiores presidentes dos Estados Unidos da América do Norte — aí já não era “do mundo”, mas dos Estados Unidos, de novo. E nem era mais o maior, mas apenas “um dos maiores”.
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Pouco depois ela foi fotografada pelada em uma praia e as fotos correram o mundo, ele ficou doido de raiva.
Mas um novo ídolo lhe tomava a mente. Era Richard Nixon, outro presidente gringo. Saiu um da sua fé, entrou outro. Quando nasceu seu segundo filho, desta vez um homem mesmo, não se chamou Kennedy. Recebeu o nome de Nixon, que ganhara sua predileção:
— Esse Nixon só pode ser muito bom. Se ele foi eleito presidente dos Estados Unidos, só pode ser bom. O povo norte-americano não erra!
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Pois em seguida estourou o escândalo Watergate, envolvendo Nixon, que ficou com o nome mais sujo do que pau de galinheiro. Teve de renunciar à presidência. Agamenon, ouviu no rádio a notícia da renúncia, entrou num boteco, bebeu uma pinga, deu um murro no balcão e sentenciou:
— Não faço mais filho.
Edição: Leandro Melito