ENTREVISTA

Vereador mais novo de Vitória da Conquista (BA) exalta renovação das câmaras

Alexandre acredita que só é possível avançar concretamente se houver organização popular reivindicando junto ao mandato

Brasil de Fato | Salvador (BA) |
Com 31 anos, Alexandre Xandó foi o 2º vereador mais votado e o mais jovem eleito em Vitória da Conquista. - Thiago Gama

As eleições municipais de 2020 se deram num contexto bastante adverso. Não apenas pela crise sanitária decorrente da pandemia, mas também por ser a primeira disputa eleitoral após a eleição de Bolsonaro (sem partido).

Apesar das intensas disputas entre candidatos que há anos transitam nos espaços institucionais, o resultado deste ano demonstrou que há setores da sociedade com força para reoxigenar a luta eleitoral.

Um dos maiores exemplos dessa renovação, na Bahia, é a vitória do advogado e professor Alexandre Xandó, pelo Partido dos Trabalhadores (PT), para vereador em Vitória da Conquista, no sudoeste do estado. Em sua primeira candidatura, Xandó foi o 2º vereador mais votado do município, com 2932 votos, atrás apenas de Lúcia Rocha do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que obteve 4104 votos.

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Além disso, “o Rasta”, como também é conhecido, é o vereador mais jovem dessa nova composição da Câmara em sua cidade. Militante da Consulta Popular, sua trajetória sempre esteve vinculada à luta coletiva e à cultura - foi militante do Levante Popular da Juventude, coordenador do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Estadual Do Sudoeste Da Bahia (UESB), ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos, e, ainda, sambista e capoeirista.

Nessa entrevista com o Brasil de Fato Bahia, Xandó fala sobre a importância dessa renovação, mas destaca a organização popular como parte fundamental do seu primeiro mandato. Confira!

Brasil de Fato Bahia: Uma das marcas da sua campanha foi a de ser uma representação da juventude na Câmara. Como você avalia a importância desse elemento como um diferencial para a disputa eleitoral do município?

Alexandre Xandó: Existe um anseio da população por renovação política, e isso foi expresso nas urnas em Vitória da Conquista com a renovação de 12 dos 21 vereadores. Eu acabei sendo o mais jovem eleito, com 31 anos. E, somada a essa perspectiva de renovação, também há a necessidade de uma geração que ocupou as ruas, mas não se viu representada no cenário da política institucional.

Essa geração que foi para as ruas em junho de 2013, que ocupou as escolas e universidades contra PEC (Projeto de Emenda Constitucional) do congelamento dos gastos, que em 2019 saiu às ruas contra os cortes na educação, se sentia carente de uma representação na política local. Então nesse sentido, nós avaliamos que muitos dos nossos votos, o voto de opinião, o voto espontâneo, acabou vindo de uma identificação com essa pauta.

Quais características da campanha você acredita que foram determinantes para uma votação tão expressiva já na sua primeira candidatura?

A nossa candidatura foi pautada com muitas coletividades, desde movimentos sociais a lideranças religiosas - como pastorais da Igreja Católica, Babalorixás, Yalorixás, pastores de igreja evangélica - agrupamentos de jovens e artistas. Então foi uma campanha pautada na perspectiva dessas coletividades, e que acabou se enraizando também nas periferias de nossa cidade.

Sempre que passávamos com as carreatas, nós percebíamos uma identidade muito forte com essa candidatura - uma candidatura jovem, que na própria estética traz esse elemento de um advogado rasta, o que aponta também para o rumo da luta. E, tem também, o trabalho de multiplicação somado às redes sociais.

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É importante destacar que nossas redes sociais não foram feitas por marqueteiros, foram feitas por uma militância engajada. Ouvimos muitas vezes que nossa campanha foi a mais bonita da cidade. A gente acredita que isso se deve também porque refletiu a política.

Além disso, teve o fato de que nós não prometemos nada. Nós fizemos questão de, em todas as reuniões, informar que a gente não estava prometendo nada, pois o vereador pode propor, sugerir, indicar, destinar emenda, mas quem executa é o prefeito. E várias pessoas falaram que se identificaram com a gente por conta disso, foi algo que fortaleceu muito a confiança da população nas nossas ideias.

Sua militância sempre esteve vinculada aos movimentos populares. Como a relação com a luta de massas e a organização popular podem ser construídas ao longo do mandato?

Nós acreditamos que a via institucional da política é extremamente limitada, principalmente o mandato de vereador. Então só é possível avançar com políticas públicas, com conquistas concretas, se houver organização popular pautando e reivindicando junto ao mandato. Por isso, nós vamos construir esse mandato de forma a sempre fortalecer associações, fortalecer coletividades e buscar que as nossas ações sejam coletivizadas, de modo que essas conquistas não sejam atribuídas simplesmente ao mandato, mas sim à luta popular.

A partir do cenário local e da conjuntura baiana, quais são os principais desafios e potencialidades dos seus próximos quatro anos como vereador?

Nós iremos enfrentar um cenário extremamente adverso de congelamento de salários de servidores públicos, de cortes do governo federal, de ataques. Isso tudo acaba refletindo no município. Então vai ser uma gestão muito difícil, mesmo se o prefeito Zé Raimundo (PT) ganhar, que acreditamos que é quem pode fazer o melhor para Vitória da Conquista, ainda assim vai ser uma gestão complicada.

Além disso, o atual prefeito, Herzem Gusmão (MDB), endividou muito o município, então temos que checar de onde esse caixa vai ser reposto.Ainda assim, vemos como potencialidade a possibilidade de engajamento de novos sujeitos e sujeitas na cena política.

Nós temos alguns projetos que vão trazer muito a população para dentro da Câmara, como um prêmio para incentivar que pesquisas acadêmicas dialoguem com problemas concretos da nossa realidade e o Parlamento Jovem, que é para que os jovens das escolas participem de sessões da Câmara, como se fossem vereadores. Então são algumas ideias que temos que acreditamos que vão proporcionar um processo maior de engajamento, de formação e conscientização popular.

Fonte: BdF Bahia

Edição: Jamile Araújo