O líder social colombiano Julián GIl, integrante do movimento popular Congreso de los Pueblos [Congresso dos Povos] deixou a prisão na noite dessa quarta-feira (25). O fim de sua prisão política foi celebrado por diversas organizações.
"Hoje é um dia para celebrar com alegria. Continuaremos com o propósito de alcançar a liberdade de nossos companheiros presos; com a proposta política de um mundo justo; com uma vida digna e em integração com os povos de todas as nações. Lutamos para acabar com a guerra e as prisões, demonstrando que ser um líder social não é um crime", expressou o Congreso de los Pueblos em uma nota divulgada após a notícia da liberdade de Julián.
O líder social foi recebido por militantes que o esperavam em um ato organizado nos arredores da prisão de La Picota, em Bogotá, com cartazes e palavras de ordem que denunciam que sua detenção de 900 dias é parte da estratégia de criminalização e judicialização da política por parte do Estado colombiano.
Em junho de 2018, Julián Gil foi detido em frente à sede do Congreso de los Pueblos junto com outros dois integrantes da organização, Juseff Morales Betancourt e Harry Alejandro Gil. Os três foram acusados de participar de ações do Exército de Libertação Nacional e sustentam que as acusações são falsas e tem como objetivo sufocar a atual dos movimentos que lutam por mudanças no país sul-americano.
"Em várias de suas intervenções processuais, a Procuradoria Geral afirmou, sem qualquer base, que existe uma relação entre os líderes sociais e as estruturas criminosas, alegando que eles plantam bombas e são um perigo para a sociedade. O promotor também insinuou que o Congresso do Povo e suas articulações internacionais pertencem à insurgência", denuncia o movimento.
Massacres e abusos policiais: quais as origens da violência na Colômbia?
Violência
A Colômbia é considerada um dos países mais perigosos para líderes sociais e organizações populares, devido ao conflito armado há mais de 60 anos pela disputa de terra. Por um lado, as guerrilhas lutam pelo direito à terra aos camponeses e à classe trabalhadora; por outro o narcotráfico precisa do terreno fértil para manter a produção de ilícitos, já que o país é o maior produtor de cocaína do mundo.
Só em 2020, mais de 255 líderes sociais e defensores de direitos humanos foram assassinados, assim como 57 ex-combatentes da FARC que assinaram os Acordos de Paz, segundo os relatórios apresentados pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Paz (Indepaz).
Em uma entrevista concedida ao portal Peoples Dispatch em abril deste ano, Julián Gil falou sobre sua prisão e o contexto de violência no país, no qual a violência paramilitar e estatal é acompanhada pelo discurso de criminalização dos movimentos pelos meios de comunicação hegemônicos.
"Nestes dois anos, vimos de todos os ângulos como a violência dirigida ao movimento social aumentou, encarcerando e assassinando líderes comunitários, fazendo julgamentos pela mídia e, sobretudo, demarcando uma onda antidemocrática, caracterizada pelo enterro da participação política e popular nas distintas propostas para o país", analisa o militante, absolvido de todas as acusações que pesavam contra ele.
Edição: Luiza Mançano