Tradicionalmente um bom período de vendas, a Black Friday não parece vir em boa hora para pequenos lojistas do varejo, prejudicados pela pandemia e por um desabastecimento geral de produtos primários.
Segundo eles próprios, não há estoque disponível para liquidação de artigos novos e a redução da margem de lucro para comportar as promoções torna difícil a vida de quem já não está ganhando bem desde a chegada do vírus.
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Além dos meses com portas fechadas, um dos fatores para o cenário é a alta do dólar (cotado a R$ 5,32 nesta quinta-feira, 26). Com o real desvalorizado, comprar insumos brasileiros ficou vantajoso para empresas do exterior, o que fez com que o estoque ficasse quase todo nas mãos de multinacionais. O resultado é um desequilíbrio no mercado e preços lá em cima.
“A gente saiu de um fechamento dos quatro meses para agora em uma situação em que as fábricas não tinham a matéria-prima e, quando isso começou a regularizar, o preço subiu 40%, 50%. Teve matéria-prima que dobrou de preço. Além de ter dobrado de preço, falta”, diz Tito Bessa Jr., presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (Ablos).
Para ele, a Black Friday não resolve em nada a situação difícil dos lojistas, ainda afetados pelas consequências do coronavírus.
“Nem se todo mundo saísse de casa para comprar, não recuperava. Independentemente do estoque. O que a gente perdeu este ano é irrecuperável, é matemático. Como que você vai recuperar 35% de venda em um fim de semana?”, reclama. “É uma gota d’água para quem está com sede. Não é um copo d´água, é uma gota”, complementa.
O varejista David Brobow, franqueador da TipTop, relata que faltam papelão, algodão, saco plástico, elástico e zíperes, por exemplo. Segundo ele, a Black Friday pode colocar em risco as vendas do Natal.
“Está faltando todo tipo de matéria-prima, estamos com estoques baixos. Então, fica aquela situação de que eu não tenho muito o que entregar para o meu franqueado para ele poder vender como Black Friday, senão ele vai acabar ficando sem mercadoria para o Natal”.
Brobow afirma que o ideal seria que todos os lojistas se unissem para que não houvesse o período de promoções neste momento. “Este ano, eu sinto muito mais como um tiro no pé, mas não tem o que fazer. Se você não entrar, é pior. O outro entra e você desce mais ainda”.
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Outro problema é a pressão que as grandes redes colocam nos pequenos e médios varejistas. Segundo Tinho Azambuja, da SideWalk, há uma concorrência desleal em relação a aluguéis e insumos.
“[As grandes redes pressionam] muito, porque elas pagam aluguel e condomínio irrisórios para os shoppings, chegam a pagar, em termos de percentuais, dez vezes menos do que a gente. Eles não pagam condomínio, não pagam luz, não pagam segurança, não pagam IPTU. São os contratos de entrada deles no shopping. Quem paga tudo isso são os lojistas satélites. A gente paga para eles”, queixa-se.
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O lojista também considera ruim o momento para Black Friday, considerando os prejuízos do ano, mas diz que é preciso encarar o momento por falta de opção. Para ele, é necessário correr o risco de não ter estoque para outras datas. “Não tem um que eu não conheça que não esteja precisando de dinheiro. Então, você tem que sacrificar o seu estoque para poder pôr dinheiro”.
Edição: Rogério Jordão