Desde 1996, escolas públicas do Paraná possuem em seu cronograma de ensino materiais do programa “Agrinho”, com foco especial na educação do meio rural. Resultado de parceria entre a Federação da Agricultura Paraná (Faep), o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-PR) e o governo do Estado do Paraná, o programa ostenta, em seu site, o título de “maior programa de responsabilidade social do Sistema FAEP”.
No entanto, na visão de educadores do campo, o Agrinho é a principal expressão do projeto educacional do agronegócio nas escolas do campo e da cidade. A denúncia fez parte da VIII Jornada de Pesquisas da Questão Agrária no Paraná, do Observatório da Questão Agrária no Paraná, vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR), e que acontece desde meados de novembro.
Para Valter Leite, do setor de Educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Agrinho vem fazendo, há 24 anos, um “amplo processo de instrumentalização da escola pública para promover a idealização do agronegócio”. “[Os materiais do Agrinho] ocultam a violência que os agrotóxicos ocasionam à vida humana e ao meio natural, dizendo de uma possível racionalização do uso de agrotóxicos e possibilidade de conciliação do agrotóxico à saúde humana”, explica.
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A problemática vem desde a criação do programa, em 1995, tendo como uma de suas principais idealizadoras Patrícia Lupion Torres, filha do latifundiário e ex-deputado Abelardo Lupion. Entre os patrocinadores do programa, há grandes empresas que vendem agrotóxicos, como Bayer e Syngenta.
O Observatório da Questão Agrária solicitou dados recentes sobre a abrangência do programa, em agosto de 2020, mas a Secretaria de Educação ignorou. “É preciso constituir uma força unificada na produção de materiais para contrapor o ‘Agrinho’, fazer chegar às escolas do campo e da cidade materiais sobre agroecologia integrada a um projeto de sociedade que preserva e valoriza os povos do campo e da floresta”, afirma Valter Leite.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Rogério Jordão e Frédi Vasconcelos