O estado de São Paulo tem 10.114 pessoas internadas para tratamento da covid-19, sendo 5.834 em enfermaria e 4.280 em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Os dados sobre a pandemia foram divulgados nesta terça-feira (1) pelo governo de São Paulo.
O número é o maior desde 17 de setembro, quando havia 10.222 pessoas internadas, sendo 5.951 em enfermaria e 4.271 em UTI.
Ontem, o governador João Doria (PSDB) decretou o recuo de todo o estado para a fase amarela do Plano São Paulo. No entanto, ele usou dados apenas da última semana de evolução da pandemia, o que criou aparência de menor gravidade da situação.
Se tivesse comparado a situação desde a última classificação, em 9 de outubro – como o próprio governo estadual havia estabelecido –, toda a Grande São Paulo teria passado para a fase laranja, mais restritiva.
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O agravamento da pandemia de coronavírus em São Paulo já vem elevando a taxa de ocupação de UTIs há pelo menos três semanas. Em todo o estado, 52,7% dessas unidades estão atualmente ocupadas.
Na Grande São Paulo, são 59,7%. Na capital, a ocupação de leitos da rede municipal está em 52%, com 903 pessoas internadas, sendo 263 intubadas. Considerando apenas as unidades de terapia intensiva (UTIs) da rede privada, a ocupação chegou hoje a 84%.
Mas ao analisar os dados da pandemia para reclassificação do Plano São Paulo, que coordena a flexibilização da quarentena e o funcionamento do comércio, o governo paulista comparou apenas os sete dias da última semana (22 a 28 de novembro) com os sete dias da semana anterior (15 a 21 de novembro), ignorando que as regiões da Grande São Paulo – incluindo a capital –, da Baixada Santista, de Campinas, Piracicaba e Taubaté passaram para a fase 4-verde em 10 de outubro – 50 dias atrás.
Em outubro, Doria informou que as atualizações do Plano São Paulo passariam a comparar um período de 28 dias com os 28 anteriores.
Manipulação da pandemia em São Paulo
No caso das internações, a comparação apenas dos dados da última semana com a semana anterior resultou num aumento de 7%.
Se fosse considerado o intervalo de duas semanas, comparando a semana de 15 a 28 de novembro, com a semana de 1 a 14 de novembro, o aumento seria de 28,6%. Com isso, o estado seria levado para uma fase mais restritiva do plano. Só duas regiões não tiveram piora nas internações: Araçatuba e Ribeirão Preto.
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No caso das mortes pela covid-19, a distorção é ainda maior. Ao comparar apenas as mortes notificadas na última semana, com as da semana anterior, o resultado foi um aumento de 12%.
Mas as notificações de mortes levam muito mais tempo para ocorrer e o intervalo de apenas dois dias entre o último levantamento (28 de novembro) e a respectiva divulgação deixou de fora muitas mortes já ocorridas, mas que só serão notificadas hoje e nos próximos dias.
Se Doria considerasse o período em que as regiões avançaram para a fase verde, o aumento no número de óbitos seria de 34%. Admitir um aumento dessas proporções em número de mortos seria determinante para que São Paulo retrocedesse mais que à fase amarela.
Essa “escolha” de quais dados usar sobre o estágio atual da pandemia também influenciou a análise do aumento de casos. Na semana de 8 a 14 de novembro foram registrados, em média, 5.927 novos casos de covid-19 por dia.
Na semana seguinte (15 a 21), foram 5.430. Muito acima dos 3.800 registrados logo após algumas regiões passarem para a fase verde.
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No entanto, também nesse ponto o dado utilizado foi apenas o da última semana (22 a 28), quando foram registrados 4.666 novos casos diários, em média. O que resultou numa queda de 14%. Porém, o secretário da Saúde, Jean Gorinchteyn, admitiu que a redução de casos registrados na última semana se deveu a uma redução no número de testes para a detecção do novo coronavírus aplicados na população.
Descontrole total
Outros dados de testes para a detecção do novo coronavírus evidenciam a ineficiência do governo de João Doria na condução da crise sanitária no estado.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), considera-se que os órgãos de saúde governamentais têm a pandemia sob controle quando obtêm uma taxa de 5% de resultados positivos para o novo coronavírus em relação ao total de testes aplicados à população.
Porém, em São Paulo, a taxa de resultados positivos ficou em 22,23% em outubro e 25,86% em novembro – cinco vezes acima do máximo preconizado pela OMS.
Em novembro, houve 20,59% mais testes positivos (RT-PCR, que detecta a infecção ativa) para o novo coronavírus do que no mês de outubro. Mas o total de exames realizados cresceu apenas 3,64% no comparativo dos dois meses. Além disso, os dados dos testes rápidos estão desatualizados.