As raízes acumulam substâncias que têm uma eficiência bem comprovada no tratamento do vitiligo
Típico do cerrado, no centro-oeste brasileiro, o arbusto “mama-cadela”, também conhecido como “amoreira-do-campo” e “inharé”, dentre outros nomes, é uma árvore de pequeno porte, de dois a dez metros de altura.
O fruto, com cerca de dois centímetros de diâmetro, é amarelo-alaranjado, com formato semelhante às mamas de uma cadela, por isso o nome da planta.
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O médico Dario de Melo é doutor em Botânica e integrante do Departamento de Botânica da Universidade de Brasília. Ele realiza pesquisas com a espécie e sugere as condições para criação de uma horta.
"Boa parte da nossa pesquisa foi como cultivar essa planta. O que vimos então? Primeiro que o melhor substrato para a planta crescer num tubo de PVC é uma mistura de terra do cerrado com areia lavada de rio e uma parte de esterco, que é adubo orgânico. Pega a semente, põe para germinar em água. Aquelas que estiverem mais vigorosas leva-se aos tubos, em condição de hortas. Pode-se fazer vários hortas com vários tubos", explica.
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Além do uso para consumo próprio, a “mama-cadela” também contém diversas propriedades medicinais, podendo ser usada no tratamento de vitiligo, bronquite, úlcera gástrica, resfriados, dentre outras condições de doenças.
Segundo Dario de Melo, a pluralidade de benefícios medicinais pode ser explicada pelas raízes da planta.
"As raízes acumulam em sua casca uma quantidade considerável de furocumarinas, de bergapteno e psoraleno, essas substâncias servem, e têm uma eficiência bem comprovada no tratamento do vitiligo. Então as pessoas fazem o chá, que ajuda a controlar o vitiligo, por ajudar a repigmentar [a pele]. E esse é o maior interesse medicinal da planta", relata.
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Com um sabor marcante e adocicado, quando consumida in natura a fruta tem uma consistência parecida com um chiclete, permitindo que os apreciadores do alimento possam mascar a polpa. Além disso, muitas pessoas produzem doces com a fruta, de quitutes a sorvetes.
Um dos exemplos é a experiência da extrativista Madalena Soares, mais conhecida como Madá, que trabalha com a coleta e beneficiamento de frutos do Cerrado. Ela produz e vende doces de mama-cadela.
"Eu faço o doce com o fruto, vendo. Eu seleciono o fruto, corto ao meio para retirada da semente e para fazer o doce. Não precisa colocar muito açúcar, coloca uma pequena quantidade de açúcar", ressalta.
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Além dos benefícios gastronômicos, Madalena também afirma propriedades medicinais da planta.
"Ela [mama-cadela] é depurativa para o sangue, age direto no sangue. Eu tenho uma sobrinha que tem problema de vitiligo. E não é que ela [mama-cadela] tenha a cura para a pessoa que tem vitiligo, mas ajuda para a pessoa que apresenta a coloração branca [na pele], que se espalha pelo corpo devido a um processo nervoso. A pessoa fica com ansiedade aí aparecem as manchas. Eu comecei a oferecer a fruta, tanto levando para o Ceasa [Centro de Abastecimento e Logística] para vender como para fazer o doce. Então eu estou estudando um pouco sobre a mama-cadela e a mangaba. A gente vai na curiosidade e fazendo a própria experiência e experimento", alega.
A época de colheita acontece entre setembro e dezembro, por meio de um extrativismo vegetal.
Edição: Daniel Lamir