No compasso do tempo

Forró: da tradição à contemporaneidade, um ritmo que cativa épocas

Gênero pode ganhar título de “patrimônio imaterial” do Brasil e é festejado por especialistas, artistas e público

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Parceria da cantora Anastácia  com sanfoneiro Dominguinhos rendeu nada menos que 200 canções
Parceria da cantora Anastácia com sanfoneiro Dominguinhos rendeu nada menos que 200 canções - Divulgação
Hoje já se diz assim: 'Quais as músicas que representam o Brasil? Samba e forró

A data de 13 de dezembro marca o Dia Nacional do Forró, gênero musical cativo no coração da cultura popular nordestina. A definição no calendário contempla o aniversário de Luiz Gonzaga, o famoso “Rei do Baião”.

O candeeiro se apagou
O sanfoneiro cochilou
A sanfona não parou
E o forró continuou

Entre passos e afetos, o forró continua firme, como na música "Forró no Escuro". A presidente da Associação Cultural Balaio Nordeste e coordenadora do Fórum Nacional do Forró, Joana Alves, considera que o ritmo tem muito o que celebrar.

“É uma resistência. O forró, além de continuar vivo, está se expandindo, dentro do país e fora. Eu acho que temos o que comemorar, sim, e agora estamos já quase sendo reconhecidos como patrimônio imaterial brasileiro”, afirma a dirigente.


Dia Nacional do Forró marca aniversário de Luiz Gonzaga, o famoso “Rei do Baião” / Senado Federal/Arquivo

O estudo que antecede o reconhecimento como patrimônio imaterial foi iniciado nos últimos anos e tinha previsão de término para 2020, mas os planos acabaram desacelerando por conta da pandemia. O atraso, no entanto, não esmoreceu aqueles que se empolgam com o assunto. É o caso de Carlos Sandroni, professor de etnomusicologia da Universidade Federal de Pernambuco e membro da Associação Respeita Januário. A entidade atua nas pesquisas de instrução que auxiliam o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no processo.  

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O professor exalta a importância do forró tradicional, que ele destaca como um gênero que extrapola as barreiras do legado de Luiz Gonzaga. Nomes como Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino e Marinês, segundo ele, a ilustrar os destaques desse universo cultural.  

“O forró tradicional é muito rico, não é só o Gonzaga. Ele próprio, na verdade, é herdeiro de uma tradição mais antiga, do próprio pai dele e de outros também que o precederam”.  

Hoje eu faço forró em pé-de-calçada
No meio da zuada, pela contramão
Eu fui lá na mata e voltei pra cidade
De caboclo eu sei minha situação
Rabeca veia não me abandona
Zabumba treme-terra, come o chão
Na hora em que o tempo desaparece
Transforma em pé-de-serra o calçadão

Sandroni explica que o processo de reconhecimento pelo Iphan gira em torno das chamadas “matrizes tradicionais do forró”, a exemplo do trecho de "Pé-de-calçada", da banda Mestre Ambrósio.  Ou seja, as diferentes formas de expressão desse tipo de música que estão ligadas a uma raiz histórica e genuinamente presente no sentimento popular. O professor ressalta que elas têm “uma ampla representatividade”, que vai além do mero sucesso momentâneo de determinados contextos.  

“A gente considera que o forró tem alguns elementos mais tradicionais, mais com caráter de matriz, e isso engloba gêneros como xote, baião, arrasta-pé, instrumentos como sanfona, zabumba, rabeca, pífanos”, exemplifica.

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É justamente essa junção de traços que confere ao ritmo uma magia sonora de encanto para o público e também para quem vive do gênero. É o caso da cantora pernambucana Anastácia, tradicional figura desse universo cultural.

Hoje com mais de 60 anos de carreira, ela gravou o primeiro disco em 1960 e nunca mais parou: já são 36 álbuns e mais de 800 canções gravadas. Haja fôlego pra essa artista inquieta e cativante que desde os 7 anos de idade se encantou pela sonoridade do forró.

“O forró é tudo em minha vida. A satisfação é maior do que tudo. O prazer de você fazer uma coisa que gosta é uma coisa imensurável”, exalta, do alto de seus 80 anos muito bem vividos. 

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Anastácia foi casada com o sanfoneiro Dominguinhos, uma valorosa parceria que rendeu nada mais, nada menos que 200 canções. A forrozeira também teve diversas composições gravadas por vozes de renome como Ângela Maria, Nana Caymmi e José Augusto, além de artistas internacionais.

A faixa “Eu só quero um xodó” é uma das letras mais famosas da carreira da pernambucana, que já esteve em diferentes lugares do Brasil e do mundo. E ela garante: diante de tantos predicados, o forró tem aceitação global. Anastácia já rodou parte da Europa e conta que o ritmo tem audiência garantida por lá.

“Eles se encantam com o forró. Hoje já se diz assim: 'Quais as músicas que representam o Brasil? Samba e forró'. É sinal de que o ritmo chegou pra ficar".

Edição: Daniel Lamir e Rogério Jordão