O presidente da Rússia Vladimir Putin concedeu, nesta quinta-feira (17), a coletiva de imprensa anual a meios de comunicação nacionais e internacionais. Esta é uma prática do Estado russo desde 2001, que foi adaptada por conta da pandemia e ocorreu de forma virtual. O encontro contou com 774 profissionais e cerca de 60 perguntas ao chefe de Estado.
Os temas centrais foram a pandemia global da covid-19, as expectativas sobre a relação com os Estados Unidos e a nova gestão de Joe Biden. O Brasil de Fato reuniu os cinco principais pontos da fala de Putin.
Pandemia
O enfrentamento à pandemia da covid-19 foi um dos temas centrais dos questionamentos. A Rússia já começou a vacinação com a Sputnik V na capital Moscou com os profissionais sanitários, da educação e de proteção social, maiores de 18 e menores de 60 anos. O Instituto Galileya, que desenvolveu o fármaco, promete 91% de eficácia.
O país é o quarto em número de casos e mortes a nível mundial, com 2.736 milhões de infectados e 48.568 falecidos. "Enfrentamos a pandemia com dignidade e, em partes, melhor que outros países", afirmou Putin.
O imunizante russo foi o primeiro a ser apresentado à Organização Mundial da Saúde (OMS) e será produzido em outros três países: Brasil, México e Venezuela, que assinaram contratos de 200 milhões de doses.
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Putin destacou a eficiência do medicamento, no entanto assumiu que ainda não se vacinou já que não pertence à faixa etária permitida, mas fará "assim que possível".
Nova Guerra Fria?
Os últimos cinco anos foram marcados por uma escalada da hostilidade entre Rússia e Estados Unidos, algumas análises sugerem uma Guerra Fria do século 21.
No campo bélico, o aumento da presença das tropas e a realização de exercícios militares do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nos países fronteiriços com a Rússia – como Polônia e Letônia –, para o chefe de Estado russo, também sugerem uma ameaça.
Nossas relações se tornaram reféns da política interna dos Estados Unidos
"Nosso orçamento militar é de US$ 46 bilhões, ocupamos o sexto lugar mundial. Antes está EUA, China, Arábia Saudita, Reino Unido, França e Japão. Então quem é o bom e quem é o agressivo?", questionou reiterando a polarização entre oriente e ocidente.
Vladimir Putin ainda acusou Donald Trump de tensionar as relações. "Nossas relações se tornaram reféns da política interna dos Estados Unidos. Na minha opinião isso é ruim para eles mesmos, mas essa é sua decisão", disse.
Ainda mostrou otimismo em relação à presidência de Joe Biden. "Acreditamos que o presidente eleito dos Estados Unidos compreenderá o que está acontecendo, ele tem experiência em política interna e exterior, esperamos que todos os problemas que surgiram ou alguns deles se resolvam com a nova administração", afirmou.
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Sobre as acusações de que hackers russos teriam influenciado nas eleições de 2016, o episódio chamado "Rússia Gate", Putin disse que se trata de vingança. "O objetivo é vingar-se e tentar influenciar a opinião pública do nosso país para interferir de certa maneira na nossa política interna. Isso é algo óbvio para mim", afirmou.
Relação com Ucrânia
Depois do conflito em Nagorno Karabaj, a Ucrânia aumentou sua presença militar na fronteira com a região do Donbass.
Há um ano do encontro com Volodímir Zelenski, o presidente russo afirmou que as relações bilaterais irão depender das posturas do governo uraniano.
"A Rússia apoia a região de Donbass, inclusive vamos aumentar nosso apoio", assegurou.
Putin autorizou, em 2019, uma série de facilidades aos residentes das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk para adquirirem passaporte e nacionalidade russa.
Em 2015 foi assinado o acordo de paz de Minsk, que declarou o fim do conflito de Donbass, com um saldo de 13 mil falecidos. Além da anexação da Crimeia ao território russo, Donetsk e Lugansk declararam sua independência ao Estado ucraniano.
Crise econômica
A Rússia finaliza 2020 com uma retração de 3,6% do PIB e as reservas internacionais em US$ 587,7 bilhões. A desaceleração russa é inferior à media das economias avançadas, que segundo o Banco Mundial, é de 7% negativos.
Apesar da crise, o chefe de Estado destacou que "70% da economia não depende do petróleo e gás".
Diante do aumento dos preços da cesta básica alimentar e perda da capacidade de compra dos russos, Putin rebateu dizendo que este não é o pior ano da história do país. "Em 2000, cerca de 30% da população vivia abaixo do nível de pobreza", pontuou.
Ainda recordou que há uma semana orientou os membros do governo a intensificar a fiscalização e aplicar medidas aos empresários que aumentaram os preços de produtos como pão, farinha de trigo, azeite de girassol e açúcar, "de acordo com os mercados mundiais", sem respeitar o incremento da produção nacional, algo que o mandatário classificou como "inadmissível".
Ainda que aposta no turismo interno para reativar a economia. Indicou que anualmente 35 milhões de russos viajam para fora o país, gastando cerca de US$ 35 bilhões no exterior. "Se esse fluxo se dirige às nossas capacidades internas, ao turismo interno seria genial", disse.
Também destacou que o gasoduto Nord Stream 2 que deverá prover gás natural da Rússia à Europa, oferece o combustível 20% mais barato que a oferta estadunidense, tornando o produto russo mais competitivo.
Por fim, Putin anunciou um bônus de fim de ano de 5 mil rublos (cerca de US$ 68) para as famílias com crianças menores de 7 anos.
Reeleição em 2024
Depois da Reforma Constitucional, aprovada em julho desde ano, por 76% dos cidadãos, Putin poderá concorrer à reeleição, no entanto, afirmou que ainda não está decidido a encarara a disputa. Há 20 anos, Vladimir Putin ocupa o cargo de primeiro ministro ou de presidente.
O mandatário, porém, está convencido de que haverão tentativas de ingerência no resultado. "Claro que tentarão intervir, sempre fazem. Essa é a política global. Nós temos conhecimento disso e estamos nos preparando", declarou Putin.
Edição: Rodrigo Chagas