São várias questões que envolvem que a gente acaba se tornando um 'artevista'
Você sabe qual é o significado do nome da rua em que mora ou frequenta? Alguns nomes fazem referências a características geográficas, entidades religiosas ou sentimentos.
Mas a maioria dos logradouros no Brasil possuem o nome de homens, sendo em sua maior parte militares, políticos ou aristocratas.
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Segundo um levantamento do Jornal Folha de São Paulo, na capital paulista só 16% das ruas possuem nomes femininos. A tendência se repete em outras metrópoles brasileiras, como Maceió e Rio de Janeiro.
A questão racial na representatividade dos espaços públicos também merece destaque na opinião do produtor cultural Pedro Rajão. Ele afirma que poucas ruas na capital carioca levam o nome de pessoas pretas, por exemplo.
O túnel Rebouças é uma das exceções dessa tendência na cidade. O nome faz homenagem a André e Antônio Rebouças, ambos engenheiros negros de muito destaque no Brasil durante o Segundo Reinado.
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Por outro lado, para ampliar a representatividade negra nos espaços urbanos, Pedro Rajão toca o projeto Negro Muro há uma década, utilizando a arte da grafitagem.
"Os nossos bairros, os nossos nomes de ruas, os grandes monumentos, estátuas, são para generais, comandantes, viscondes e duques, príncipes e princesas brancos. Muitas vezes grandes genocidas, como Duque de Caxias, que leva o nome de um município do Rio de Janeiro”, afirma.
O projeto é feito ao lado do artista Cazé, contornando e colorindo a importância de personalidades negras nas ruas cariocas. O primeiro grafite da dupla foi para representar o músico nigeriano Fela Kuti.
Why black man dey suffer today?
Why black man no get money today?
Um trecho da música "Why they black man suffer today" do multi-instrumentista de Afrobeat questiona: “Por que o homem negro sofre hoje em dia? Por que o homem negro não ganha dinheiro hoje em dia?”. A letra adentra o racismo estrutural por trás das desigualdades entre brancos e negros.
O passo seguinte do Negro Muro foi escolher a representação de personalidades dos próprios territórios cariocas.
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Cazé destaca que o trabalho além de reforçar a negritude pelos bairros, favorece uma memória social dos territórios.
“A gente acaba trabalhando como arte-educador porque ao longo do processo do fazer artístico, o Pedro tá contextualizando aquela figura para aquele território que muitas vezes desconhece a existência daquela pessoa”, explica.
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Foi assim que, por exemplo, a Mãe Beata de Iemanjá passou a dar vida aos muros da Rua Riachuelo, em uma pintura de 5 metros de altura. E o sambista, Cartola, voltou para o bairro da Lapa, juntando cores e formas ao eco das vozes e melodias.
Outros exemplos de artes representadas pelo projeto são da vereadora Marielle Franco, Abdias do Nascimento, Lima Barreto e a sambista Clementina de Jesus.
O projeto também incentiva uma apropriação da temática das artes representadas nos muros. As grafitagens contam com QR Codes que linkam para conteúdos com mais informações sobre a personalidade retratada.
“O ato de estar juntando isso para construir uma reparação social, levando informação, tentando combater o racismo, são várias questões que envolvem que a gente acaba se tornando um artevista”, ressalta Cazé.
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O projeto conta com financiamento coletivo para se manter de pé. As contribuições arrecadadas através do último edital do grupo no site Benfeitoria irão resultar, em breve, em graffitis com o líder da Revolta da Chibata João Cândido, o poeta Cruz e Sousa e a cantora Elza Soares.
*Adrielly Marcelino teve supervisão de Daniel Lamir
Edição: Daniel Lamir