Está piorando

Brasil tem fim de ano com covid em forte alta, mas sem plano de enfrentamento

Aglomerações em festas de Natal e réveillon devem acentuar cenário, que vem piorando há mais de mês

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Cenário ideal: Frente a escalada de números, distanciamento social é imprescindível para conter o novo coronavírus. - Fernanda Carvalho/Fotos Publicas
A gente está colocando realmente esse vírus para circular.

Na semana em que o total de contaminados pelo novo coronavírus no Brasil superou a marca de 7 milhões de pessoas, o país viu se consolidar a aceleração no crescimento de novos doentes. Desde o início de novembro, os números de infectados sobem sem intervalo. Os óbitos seguem a mesma tendência desde 15/11. Agora, os dados diários se assemelham aos registrados no pior momento da pandemia.

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A soma de todas as pessoas que pegaram a covid-19 no Brasil desde o primeiro caso alcançou a 6,9 milhões no domingo (13). Um dia antes, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) divulgou as informações consolidadas da semana anterior. O Brasil havia voltado a registrar mais de 300 mil novos pacientes em sete dias, o que só havia acontecido no pior momento da propagação, em julho.

Foi em meio ao período em que esse patamar se consolidou que o presidente de República, Jair Bolsonaro, inaugurou uma ponte em Porto Alegre e disse que pandemia estava no "finalzinho". No evento, na quarta-feira (10), ele afirmou que o Brasil foi um dos que se saiu melhor "no tocante à economia". Uma semana depois, na quinta-feira (17), o Banco Central divulgou que a queda no Produto Interno Bruto em 2021 deve ser de 4,5%.

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No dia anterior, quarta-feira (16), o país confirmava 7.040.608 casos de covid-19 desde o primeiro registro em fevereiro. Também na quarta-feira, forma registrados 70.574 confirmações da doença, recorde para 24 horas. A demora entre as marcas de 5 e 6 milhões foi de 45 dias. Para alcançar os sete milhões foram necessários apenas 26 dias.

Em participação no podcast A Covid-19 na Semana, a médica de família e comunidade Nathalia Neiva dos Santos, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, afirma que, nos próximos meses, o Brasil vai colher resultados do baixo isolamento e da falta de um planejamento unificado para conter a pandemia.

"Vai ter uma tendência de aumento nos casos, já que nós estamos em um momento maior de circulação nesse final de ano e, provavelmente, em janeiro, com as férias", explica a média. "A gente não assumiu, desde um princípio, um plano de enfrentamento ao coronavírus. Nós vamos terminar a pandemia batendo nessa mesma tecla: não há plano de enfrentamento", ressalta Nathalia.

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Ela ainda faz um alerta, "A gente não assumiu as orientações da OMS, no sentido de testagem em massa, de isolamento dos sintomáticos respiratórios, de aumento e incentivo do isolamento social. Os profissionais de saúde se reconhecem muito nisso, a gente testa, diagnostica, interna, mas a família e os vizinhos ficam todos desprotegidos. A gente está colocando realmente esse vírus para circular".

Na quinta-feira (17), a soma de mortes confirmadas chegou a 1.091. As confirmações em 24 horas não atingiam esse patamar há mais de dois meses. A média móvel de infectados - soma dos casos dos últimos sete dias, dividida por sete - alcançou recorde histórico no mesmo dia. O resultado do cálculo chegou a 46.948, maior registro desde o início da propagação no Brasil.

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O país encerra a penúltima semana do ano em um cenário de descontrole. Os registros de mortes e de contaminados pela covid-19 confirmados até a sexta-feira (18) já estavam acima de que foi notificado durante todo o mês de novembro. Na ocasião, foram relatados cerca de 12.600 casos fatais. Este mês já são mais de 13 mil óbitos.

 

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho