Trabalhadores do jornal argentino Página12, referência para a comunicação de esquerda na América Latina, entraram em greve na última sexta-feira (18) por reajuste salarial e contra a precarização, aprofundada pelo teletrabalho em decorrência da pandemia. A equipe alega que não houve reposição da inflação e que o trabalho remoto fez aumentar as despesas com equipamentos, telefone, luz e internet, sem compensação por parte da empresa.
Os grevistas alegam que os salários eram 35,9% superiores ao preço da cesta básica argentina até 2016 – hoje, são 19% inferiores. Aquele foi o ano da aquisição do jornal pela Fundación Octubre, liderada por Víctor Santa María, presidente do Partido Justicialista (PJ) de Buenos Aires, conhecido como Partido Peronista e maior agremiação partidária do país.
A greve é liderada pelos jornalistas Fernando "Tato" Dondero, Paula Sabatés e Leandro Teysseire, que compõem a comissão interna de trabalhadores do jornal. A comissão criou um fundo para cobrir as despesas dos trabalhadores em maior vulnerabilidade econômica no período da greve.
Ícone
Fundado em 1987, o Página12 tem a terceira maior circulação entre os jornais argentinos, com mais de 50 mil exemplares impressos por dia. O portal de notícias na internet é o quarto mais acessado do país.
A diagramação e o estilo eram inspirados no periódico francês Liberation, com entrevistas e análises mais aprofundadas com os concorrentes.
Nos anos 1990, o jornal se tornou conhecido por incluir um livro nas edições dominicais, estimulando o hábito da leitura de clássicos da literatura universal e de jornalistas perseguidos pela ditadura militar argentina, como Rodolfo Walsh, autor da obra-prima Operação Massacre e assassinado pelo regime em 1977.
Hoje, o slogan do veículo é "La otra mirada" (em português, "o outro olhar"), em referência à linha editorial progressista e anti-neoliberal, em oposição ao principais veículos de comunicação do país, que pertencem ao Grupo Clarín.
*Colaborou Silvia Pastore