A festa religiosa se tornou comercial
Todos os fins de ano, fico incomodado com a chegada do Natal.
É que desde o fim de novembro, tem a música Jingle Bells azucrinando os ouvidos onde quer que a gente vá.
E acho uma chatice também a figura do Papai Noel. O sujeito chamado “bom velhinho” tem a missão de incentivar as pessoas a comprarem o que podem e o que não podem.
Com tanta propaganda, pobres se atolam em dívidas para comprar presentes para os filhos não ficarem frustrados.
A festa religiosa se tornou comercial.
E tem as despedidas de empresas, em bares e restaurantes. Reúnem-se em grupos ali para comemorar o ano que passou e trocar presentes.
Aprontam uma barulheira que incomoda a nós, frequentadores normais de botecos.
Algumas pessoas não habituadas a beber, depois de uns dois copos de cerveja começam a batucar com talheres em garrafas, desafinadamente. E riem alto. Falam alto. Sempre tem uma moça que depois de beber solta sua fala aguda bem alta e um homem com voz de tenor agredindo nossos ouvidos.
Este ano não tem nada disso. Mesmo que haja festas de empresas nos bares, não me encontram lá. A quarentena continua.
Nesta época, fico lembrando de uma das melhores noites de Natal que já passei.
Foi em Pirapora, norte de Minas Gerais, esperando o dia de pegar o vapor que desceria o rio São Francisco até Juazeiro, na Bahia.
Estávamos num grupo grande. Na noite de Natal, as moças e alguns rapazes foram a um bar do centro da cidade.
Meus amigos Mário e Ricardo - e eu - fomos beber cerveja num prostíbulo.
E lá deparei com a tristeza das prostitutas que acontece em datas como esta. Distante de familiares, que não as aceitam mais, elas ficam deprimidas, pensativas.
E havia um monte delas assim. Uma tristeza danada!
Começou a tocar um bolero, eu fui à mesa em que estava um grupo e tirei uma delas pra dançar.
Sempre dancei mal, mas nessa noite parece que baixou o santo em mim. Dancei maravilhosamente. Quando levei a moça de volta à mesa, uma outra pediu que eu dançasse com ela também. Dancei.
Meus amigos entraram na dança também. Tiraram outras para dançar.
E assim fomos passando a noite, dançando alegremente, entre uma cerveja e outra.
Modéstia à parte, fui o mais requisitado.
Saímos de lá quando o sol nascia, deixando muita alegria no ambiente que seria triste, e levando muita alegria também.
E pensando: “Dá pra ser feliz no Natal!”
Edição: Camila Maciel