Moradia

Famílias despejadas de terreno em Curitiba lutam para ficar em nova área

A área estava abandonada e em litígio judicial; sem dinheiro para o aluguel, famílias dependem do auxílio emergencial

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Moradores reinvidicam moradia e não aos despejos forçados - Pedro Carrano

No dia 17 de dezembro, cerca de 300 famílias, mais de mil pessoas, tiveram que deixar, do dia para a noite, a área de ocupação nomeada Guaporé, localizada em área privada na região do Sabará, Cidade Industrial de Curitiba (CIC).

A crítica de entidades de direitos humanos e sociais foi a execução do despejo em pleno final de ano, e sem que governo do Paraná e prefeitura de Curitiba dessem um destino para as famílias. Desde outubro no local, muitas não tinham para onde ir ao fim do dia de desocupação.

Como alternativa, integrantes de outra área de ocupação abriram as portas para as famílias. A Nova Guaporé 2, como tem sido chamada por seus integrantes, em pouco tempo ampliou a organização, com duas cozinhas comunitárias, que servem café, almoço, café da tarde e jantar para as famílias.

O local do novo terreno é privado, pertencente à Kikomar Empreendimentos Comerciais LTDA, na rua Renato Polatti, 2550. Num dos lotes ficava o antigo Lava Car Jacaré, ao que tudo indica em situação irregular ao longo de décadas. No geral, a área estava abandonada e, desde 1993, em litígio judicial.

Os proprietários entraram com ação de reintegração de posse contra os novos ocupantes e também contra os antigos posseiros do terreno. Diante da insegurança das famílias e do conflito sobre a real posse do terreno, a juíza Patrícia de Fúcio Lages de Lima, da primeira Vara Cível de Curitiba, suspendeu o pedido de reintegração.

Relembre: Em meio à pandemia, 300 famílias são despejadas na Cidade Industrial de Curitiba

“Não temos para onde ir”

“Não temos para onde ir. Que prefeito e governador são esses que não olham para o povo, para as famílias e ainda acham que o povo está errado, entrando, ocupando áreas anos e anos sem produzir nada, sem fazer nada. Isso não existe!”, exclama Olga, cuja família está na ocupação.

A ocupação é formada por haitianos, crianças, carrinheiros, trabalhadores, negros e negras, pressionados pelo valor do aluguel e pelo fim do auxílio emergencial às famílias.

Will é haitiano, vive no Brasil há oito anos, de onde envia remessas mensais para o filho, no país de origem. Já participou de outras ocupações, o que mais lhe dá esperança no novo lugar é o fato de estar há anos abandonado e “a proximidade com o centro da cidade”, onde ele trabalha.

“As famílias de baixa renda, que não têm onde ir, acreditaram na ocupação Guaporé 1 e agora acreditam na Guaporé 2. Esse sonho não pode ser perdido, que o prefeito Rafael Greca dê uma uma morada para as famílias”, disse uma liderança que preferiu não se identificar.

Guarda Municipal entra em terreno pelos fundos

Nos dois últimos dias, a Guarda Municipal entrou pelos fundos dos terrenos. De acordo com relatos dos moradores, arrancou algumas placas de nomes de famílias, dividiu com faixas uma parte do lote e reivindicou que parte da área seria municipal.

À reportagem do Brasil de Fato Paraná, a assessoria de imprensa da prefeitura de Curitiba justifica que a ida ao terreno foi para efeito de limpeza dos destroços, no que seria o terreno ao lado da ocupação.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lucas Botelho